“Querem exterminar nossos trabalhos, nosso emprego, nossa esperança. Mas não vamos permitir.” A declaração é de Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. O apelo de Neiva marcou o tom da audiência pública realizada na manhã desta segunda-feira (16) na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) sobre práticas do Santander. Entenda na TVT News.
O evento, convocado pelo deputado estadual Luiz Cláudio Marcolino (PT-SP), reuniu representantes sindicais, trabalhadores e especialistas para denunciar o que classificam como práticas fraudulentas do banco Santander. Entre os principais pontos estão o fechamento em massa de agências bancárias e a terceirização irregular de trabalhadores, que vêm precarizando as relações de trabalho e prejudicando o atendimento à população.
Neiva não poupou críticas à atuação do banco no Brasil. “Sabemos que o Santander tem empresa de tecnologia com subsídio do governo. Ou seja, ainda ganha do governo para terceirizar. Coloca mais mulheres no desemprego, não coloca mulheres no mercado de trabalho. E ainda ganha dinheiro para isso. É um absurdo!”, denunciou.
Avanço só para o 1%
A dirigente sindical destacou que o avanço tecnológico promovido pelos bancos tem sido usado não para melhorar a vida da população, mas para concentrar ainda mais riqueza. “Por que todo ganho da tecnologia tem que ficar em um pequeno grupo de investidores? Um por cento de super ricos que representa a Faria Lima. Direção de bancos como o Santander que vai mandar o dinheiro para fora. Temos indignação. Elegemos um projeto político para discutir orçamento, mais políticas públicas, mas o mercado diz que não pode. Como que faz?”, questionou.
Fraude e exclusão no Santander
O deputado Luiz Cláudio Marcolino afirmou que o Santander está cometendo uma fraude contra os trabalhadores e contra a população. “Criaram empresas com outros CNPJs e transferem trabalhadores para esses vínculos, burlando direitos garantidos na Convenção Coletiva dos Bancários. Isso é redução de salários, perda de benefícios, enfraquecimento da categoria. É fraude!”, declarou.
Marcolino lembrou que o Santander Brasil representa 20% do lucro mundial do grupo espanhol. Apesar dos lucros bilionários, o banco fechou 280 agências entre 2019 e 2024, sendo 374 pontos de atendimento encerrados só entre 2023 e 2024. “Isso gerou superlotação nas agências que restaram, filas imensas, precarização no atendimento e adoecimento dos trabalhadores. Fora a exclusão bancária, especialmente da população idosa, que não consegue utilizar aplicativos. Isso é um retrocesso social enorme.”
Bilionários querem destruir direitos
A presidenta da Fentec-CUT São Paulo, Aline Molina, reforçou o caráter estrutural da ofensiva do banco. “O Santander frauda direitos trabalhistas. Passou trabalhadores para outras empresas do mesmo grupo para não pagar direitos. E esse lucro vai para fora, para Espanha. Eles trabalham junto com os bilionários do Brasil para destruir direitos e enfraquecer o movimento sindical.”
Ela também criticou a atuação do mercado financeiro brasileiro. “Bilionário no Brasil tá viciado em dinheiro público. Querem nos contratar por hora para nem pagar salário mínimo. A proposta é exterminar o trabalhador, congelar salário, destruir qualquer chance de vida digna.”
Lucro nas alturas, direitos no chão
A técnica do Dieese, Rosângela Vieira, apresentou dados que confirmam a denúncia. “O Santander fechou, em média, uma agência por semana entre 2019 e 2024. E ainda teve a cara de pau de transformar agências em ‘lojas’, fingindo que não são mais bancos para fugir das obrigações legais e trabalhistas.”
Ela destacou que, mesmo durante a pandemia, o sistema financeiro não parou de lucrar. “O banco buscou recompor sua rentabilidade cortando empregos e precarizando ainda mais. É uma estratégia para sugar o máximo possível, sem qualquer compromisso social.”
Resistência e luta coletiva
Neiva Ribeiro encerrou sua participação na audiência reafirmando a disposição para a luta. “Fazemos muita luta. O Santander representa muito do que a Faria Lima pensa. Querem sequestrar o que temos de melhor. Mas não vamos permitir. Teremos campanha nova. O Santander não vai exterminar nosso desejo de fazer luta, de lutar pelo justo, certo, recuperar direitos. Que tenhamos um sistema financeiro regulado, que os bancários sejam reconhecidos, que os bancos paguem impostos e que a terceirização fraudulenta seja revista. Para que vivamos em um país mais justo e igual.”
“A luta dos trabalhadores é legítima e necessária. A terceirização e o fechamento de agências não são avanços. São retrocessos, fraudes sociais e precisam ser enfrentados”, completou Marcolino.
Dados: Santander frauda direitos
🔥 Fechamento de Agências
- 280 agências fechadas entre 2019 e 2024 — equivalente a 10% da rede física do banco.
- 374 pontos de atendimento encerrados somente entre 2023 e 2024.
- Média de uma agência fechada por semana no período de 2019 a 2024, segundo o Dieese.
- No estado de São Paulo, redução de 16% das agências no mesmo período.
- O banco transforma agências em “lojas”, retirando funções bancárias tradicionais como atendimento no caixa, o que é denunciado como fraude.
🏦 Impacto na Categoria Bancária
- Redução de 30 mil empregos bancários no setor, segundo dados gerais.
- Apenas 54% dos novos trabalhadores no Santander têm vínculo direto com o banco.
- Os demais são terceirizados, com salários menores, menos direitos e sem cobertura da Convenção Coletiva dos Bancários.
- A terceirização ocorre via transferência de funcionários para empresas do mesmo grupo econômico, utilizando outros CNPJs — prática denunciada como fraude trabalhista.
💰 Lucros e Cifras
- O lucro do Santander Brasil em 2024 foi de R$ 13,8 bilhões, um aumento de 48,6% em relação a 2023.
- O Brasil representa 20% do lucro global do grupo Santander.
- Apesar dos lucros, o banco reduziu despesas com pessoal em 22%.
- Segundo o Dieese, em termos reais (descontada a inflação), o lucro do Santander caiu 28,8% entre 2019 e 2024, o que levou o banco a acelerar práticas como fechamento de agências e terceirização.
🧾 Fraudes e Irregularidades Apontadas
- Utilização de CNPJs diferentes dentro do mesmo grupo econômico para terceirizar bancários e fugir dos direitos previstos na Convenção Coletiva.
- Transformação de agências em “lojas”, removendo caixas e serviços essenciais, sem transparência com clientes e trabalhadores.
- Redução do atendimento presencial, gerando exclusão bancária, principalmente de idosos, populações de baixa renda e pessoas sem familiaridade com tecnologia.
⚠️ Consequências Sociais
- Superlotação nas agências restantes.
- Filas, demora no atendimento e sobrecarga dos bancários.
- Adoecimento físico e mental dos trabalhadores.
- Exclusão bancária de idosos e populações vulneráveis, que não conseguem acessar serviços digitais.
