A Polícia Federal teve acesso a áudios que revelaram planos da trama golpista envolvendo aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. De acordo com as investigações, as gravações, divulgadas pela imprensa, expõem detalhes do plano para a realização de um golpe de Estado após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. As conversas envolvem Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o general Mario Fernandes e outros militares de alta patente.
Para a PF, o general da reserva Mario Fernandes, ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, foi o articulador do plano, que tinha como objetivo matar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Na última quinta-feira (21), a PF indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 36 pessoas pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. Confira parte das conversas sobre a trama golpista:
Mario Fernandes: “pronto a morrer por isso [golpe]”
Em áudio enviado por Mario Fernandes, no dia 4 de novembro de 2022, a uma pessoa chamada Elio Coelho, o general afirmou que estava pronto a morrer pelo plano golpista:
“Eu tô pedindo a Deus para que o presidente tome uma ação enérgica e vamos, sim, pro vale tudo. E eu tô pronto a morrer por isso. Porque o que adianta a viver sem honra?”
Mario Fernandes: “Como foi em 64”
Em outro áudio, Fernandes sugeriu que as eleições de 2022 haviam sido fraudadas e mencionou a necessidade de um clamor popular “como foi em 64” para legitimar a adesão das Forças Armadas ao plano.
“Tá na cara que houve fraude, por*. Tá na cara, não dá mais pra gente aguentar esta porra, tá fod*. Tá fod*. E outra coisa, nem que seja pra divulgar e inflamar a massa. Pra que ela se mantenha nas ruas, e, aí sim, porr*, talvez seja isso que o alto comando, que a defesa quer. O clamor popular, como foi em 64.”
Coronel Reginaldo Vieira de Abreu: “Tem que ser a rataria”
Também no dia 4 de novembro de 2022, o ex-chefe de gabinete do general Mario Fernandes, o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, fala sobre reunir a ‘rataria’ para debater a execução do golpe de Estado:
“Esse pessoal acima da linha da ética não pode estar nessa reunião. Tem que ser a ‘rataria’. Aí tem que debater o que vai ser feito.”
Roberto Criscuoli: “Irmão, vamos agora”
Outra resposta veio de mais um coronel, Roberto Criscuoli, ex-subcomandante de Forças Especiais, que enviou áudio ao general Mario Fernandes demonstrando ter pressa com a execução do plano golpista:
“Vai esperar virar uma Venezuela para virar o jogo, cara? Democrata é o ca**. Não tem que ser mais democrata mais agora. ‘Ah, não vou sair das quatro linhas.’ Acabou o jogo, pô. Não tem mais quatro linhas. O povo na rua tá pedindo, pelo amor de Deus. Vai dar uma guerra civil? Vai dar. Eu tenho certeza que vai dar. Porque os vermelhos vão vir feroz. Mas nós estamos esperando o quê? Dando tempo para eles se organizarem melhor? Pra guerra ser pior? Irmão, vamos agora. Fala com o 01 aí, cara. É agora. Hoje eu tô dentro. Amanhã eu não tô mais, não.”
Reginaldo Vieira de Abreu: “Quatro linhas é o caralh”*
Trocas de mensagens entre Fernandes e o coronel Reginaldo Vieira de Abreu também fizeram referência à expressão usada por Bolsonaro sobre as “quatro linhas da Constituição”.
“O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o caralh. Quatro linhas da Constituição é o cacet*. Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa. Incompetência nossa, é isso. Estamos iguais o sapo, a história do sapo na água quente. Você coloca o sapo na água quente, ele não sente a temperatura da água mudar e vai se aumentando, aumentando, aumentando quando vê ele tá morto. É isso.”
Mario Fernandes: “Qualquer ação” poderia acontecer até 31/12
Em conversa com Mauro Cid, Mario Fernandes afirmou que discutiu com Bolsonaro o prazo para executar o plano e que a data de 12 de dezembro “não seria uma restrição”.
“Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do v**, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo.”
Mauro Cid: “Vou conversar com o presidente Bolsonaro”
Mauro Cid indicou que a consumação do golpe deveria ocorrer “antes do dia 12” de dezembro, data da diplomação de Lula e do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Pode deixar, general. Vou conversar com o presidente [Bolsonaro]. Mas ele tem essa personalidade às vezes né. Ele espera, espera, pra ver até onde vai. E o tempo está curto né, não dá para esperar muito mais passar. Teria que ser antes do dia 12.”