Biomas em alerta, povos em luta

Do Dia Mundial do Meio Ambiente à COP30: ação e resistência
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Brasil assiste a preocupante movimento de retrocesso ambiental. Foto: Agência Brasil

Por Duda Quiroga

Professora, psicopedagoga e membro da Executiva Nacional da CUT (dirigente do SinproRioSepe e CNTE), para a TVT News

No dia 5 de junho é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente, uma data criada pela ONU para nos lembrar da importância da preservação ambiental e da urgência em enfrentar a crise climática global. No entanto, no Brasil, este ano o dia chega cercado de contradições alarmantes, e nem é a primeira vez.

Enquanto a maioria das nações do mundo buscam caminhos para a sustentabilidade, nosso país assiste a um preocupante movimento de retrocesso ambiental.

Nos últimos meses, o Congresso Nacional tem avançado com propostas legislativas que desmantelam marcos importantes da proteção ambiental. Entre os projetos aprovados ou em tramitação estão medidas que facilitam o avanço do agronegócio e da mineração sobre áreas protegidas, fragilizam o licenciamento ambiental e esvaziam a força de órgãos como o IBAMA e o ICMBio.

A floresta amazônica, o Cerrado, o Pantanal e outros biomas fundamentais à estabilidade climática estão sob risco direto.

Exemplos concretos desses retrocessos não faltam. A expansão desordenada de parques eólicos no Nordeste, por exemplo, tem provocado a destruição de ecossistemas, expulsão de comunidades tradicionais e impactos à biodiversidade. A que preço? Tudo isso em nome de uma suposta energia “limpa”, que ignora os danos causados à vida e aos territórios.

Fica evidente que não basta mudar a fonte de energia: é preciso mudar o modelo de desenvolvimento. Precisamos priorizar a vida, os cuidados, ao lucro/ganho de capital.

Nesse cenário, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, uma das vozes mais respeitadas da agenda socioambiental global, tem sido alvo de ataques políticos sistemáticos. Sua atuação firme em defesa dos biomas e dos direitos das populações tradicionais incomoda setores conservadores que veem o meio ambiente apenas como obstáculo ao “progresso” econômico de curto prazo. Os ataques à ministra não são apenas pessoais: representam uma tentativa de enfraquecer as políticas públicas voltadas à preservação ambiental, ao controle do desmatamento e à transição ecológica justa.

Esses ataques, no entanto, não se limitam ao campo político-ideológico: são atravessados por um profundo machismo e misoginia. No mais recente episódio, durante uma audiência no Senado Federal, Marina foi interrompida, desrespeitada e constrangida por parlamentares que tentaram deslegitimar sua fala e sua autoridade como ministra. A cena lamentável expõe o quanto o espaço político ainda é hostil às mulheres, especialmente às mulheres negras, vindas da periferia e com trajetória própria de resistência, como é o caso de Marina Silva. Sua presença incomoda não só pelas ideias que defende, mas pelo corpo e pela história que carrega.

Diante de tantos desafios, a COP30, que será sediada em Belém do Pará em 2025, surge como uma oportunidade histórica. Receber o principal evento climático das Nações Unidas no coração da Amazônia é uma chance única de recolocar o Brasil no centro das decisões globais sobre o clima, mas, para isso, o país tem o desafio de demonstrar coerência entre discurso e prática. Não haverá protagonismo climático com retrocessos ambientais internos.

Por tudo neste Dia Mundial do Meio Ambiente é preciso agir e resistir. Que ele seja marcado por manifestações, ocupações simbólicas, rodas de conversa, aulas públicas, mobilizações nas ruas, nas escolas, nas redes e nos territórios de luta. Que ecoe em todo o país a voz de quem defende os biomas, a justiça ambiental e os direitos dos povos. É hora de transformar indignação em presença ativa. Porque proteger o meio ambiente é também defender a vida, a democracia e o futuro comum.

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