Por Tonsk Fialho, do De Olho nos Ruralistas
As imagens da vigília promovida no sábado (22) pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em Brasília, mostram um boneco do ex-presidente Jair Bolsonaro e, atrás deles e dos apoiadores, o carro de um trio elétrico. De Olho nos Ruralistas identificou que a empresa Trios Coyote e Aquarela Produções foi investigada em 2023 pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Confira na TVT News.
O trio elétrico foi contratado por apoiadores de Bolsonaro em pelo menos três ocasiões. Duas delas durante atos antidemocráticos, o que motivou a convocação dos sócios pela CPI. O veículo também foi utilizado durante a campanha para as eleições de 2022, quando Damares Alves (Republicanos-DF) contratou os serviços da empresa e foi eleita senadora.
Três anos depois, Flávio Bolsonaro convocou apoiadores de seu pai para a vigília de orações da seguinte forma: “Você vai lutar pelo seu país ou assistir tudo do celular aí no sofá da sua casa?”. O ato estava marcado para acontecer na sexta-feira, em frente do condomínio Solar de Brasília, na Asa Sul, onde o ex-presidente ainda se encontrava em prisão domiciliar.
Naquela mesma noite, Jair Bolsonaro tentou violar sua tornozeleira com um ferro de solda. O equipamento emitiu um alerta às autoridades, levando à prisão preventiva do ex-presidente na manhã do sábado. No pedido de prisão, o ministro Alexandre de Moraes entendeu que os danos à tornozeleira e a convocatória dos vigilantes eram parte de um plano para possibilitar a fuga de Bolsonaro, possivelmente para uma das embaixadas próximas do condomínio.
O ex-presidente disse inicialmente que tinha sido movido por curiosidade. Depois, afirmou ter tido um episódio de paranoia. Após sua prisão, a vigília foi mantida.
Ao lado de um totem de papelão com a imagem do pai, Flávio Bolsonaro foi às lágrimas ao som de um hino gospel, cercado por políticos aliados como Bia Kicis (PL-DF), Rogério Marinho (PL-RN) e General Girão (PL-RN). Ao fundo, o trio elétrico dava suporte ao evento.
Major da PM e agronegócio financiaram o Trio de Bolsonaro
Apelidado de Coyotinho, o trio elétrico usado durante a vigília de Flávio Bolsonaro não é um estreante em manifestações ligadas ao clã. O veículo foi utilizado pelo próprio Jair Bolsonaro no dia 24 de outubro de 2022, dias antes do segundo turno, durante um ato de campanha em assentamento rural próximo de Santo Antônio do Descoberto (GO).
Com a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva, em 31 de outubro, as atenções de Bolsonaro e de seus filhos se voltaram para os acampamentos golpistas montados em frente de unidades das Forças Armadas. Foi justamente em um desses acampamentos, no Quartel-General do Exército Brasília, que o Coyotinho voltou a aparecer, integrando a estrutura fixa usada pelos manifestantes.
A presença de veículos da Trios Coyote e Aquarela Produções em atos antidemocráticos levou à convocação dos sócios para depor na CPI dos Atos Antidemocráticos. Entre eles, Rubens Wermem Dornelas de Freitas, o Rubinho. Ele se apresenta nas redes sociais como dono dos trios Coyote e Aquarela, além de presidente do Moto Clube Coyote, em Brasília.
O empresário era frequentador de motociatas pró-Bolsonaro e foi contratado pela ex-ministra Damares Alves em três oportunidades durante a campanha de 2022. Ao todo, essas contratações da antiga titular da pasta da da pasta da Mulher, Família e Direitos Humano, somam R$ 22.750,00, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Segundo o depoimento de Rubinho na Câmara Legislativa do Distrito Federal, a manutenção do Coyotinho no QG do Exército foi bancada por fazendeiros de Goiás e Mato Grosso, além de um major da Polícia Militar do Distrito Federal. Ao lado de dois outros sócios, o empresário teve seu sigilo bancário quebrado no curso das investigações.
Os fazendeiros mato-grossenses não foram identificados no relatório final. De acordo com Rubinho, eles depositaram R$ 20 mil entre 10 e 11 de dezembro de 2022. Os pecuaristas goianos, por outro lado, chegaram a ser presos. São eles: Adauto Lúcio de Mesquita e Joveci Xavier de Andrade, donos da rede Melhor Atacadista e proprietários de 21 fazendas em Goiás. Eles foram detidos em fevereiro de 2024 durante a Operação Lesa Pátria, da Polícia Federal (PF), por fornecerem alimentos, água e banheiros químicos aos acampados.
De acordo com o relatório da senadora Eliziane Gama (PSB-MA) na CPMI do 8 de janeiro, Adauto de Mesquita compareceu à Praça dos Três Poderes em momento posterior ao da invasão, quando pôde conferir o resultado das cenas de vandalismo promovidas pelos acampados. Adauto e Joveci foram citados no relatório “Agrogolpistas“, publicado em junho pelo De Olho nos Ruralistas, como parte da lista de 142 fazendeiros identificados pelo observatório como financiadores dos atos antidemocráticos. O estudo tem também um resumo em vídeo, em nosso canal no YouTube.
O major Cláudio Mendes dos Santos, da Polícia Militar do Distrito Federal, também financiou a presença da empresa de trios elétricos no acampamento. Segundo Rubinho, o major foi responsável por um pagamento de R$ 22 mil para manter um trio no QG. Apontado como um dos articuladores da estrutura montada diante do Exército, ele foi preso na Operação Lesa Pátria e condenado a 17 anos e seis meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por participação na tentativa de golpe de Estado. Segundo a PF, Cláudio seria responsável por ensinar táticas de guerrilha aos golpistas acampados no QG do Exército.
Contratação da empresa
Em 2021, a Trios Coyote e Aquarela Produções foi contratada pelo Movimento Brasil Verde e Amarelo (MBVA) para os atos de 7 de setembro, em Brasília. Milhares de fazendeiros ligados à associação levaram caminhões e tratores à Esplanada dos Ministérios. Nas faixas, ameaças diretas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e, em particular, ao ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito das fake news.
Capitaneado pelo ex-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Antônio Galvan, o MBVA foi identificado por um relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) como principal articulador do financiamento do agronegócio aos bloqueios de rodovias e acampamentos golpistas em 2022.
Galvan já havia sido indiciado no ano anterior pelos crimes de incitação à prática de delito e associação criminosa. No dia de seu depoimento, o líder ruralista debochou das autoridades ao chegar à sede da Polícia Federal em Sinop em um cortejo de tratores, empunhando uma bandeira do Brasil.
Embora Rubens Dornelas se apresente nas redes sociais como dono da empresa, a Trios Coyote e Aquarela Produções está registrada atualmente apenas em nome de Wilmondes Rodrigues Rosa. Em conversa com o De Olho nos Ruralistas, Wilmondes afirmou que foi “apenas motorista” da firma por 23 anos e que vendeu sua parte a Rubens há cerca de dez anos, mas nunca teve o nome retirado do registro.
Ele diz não ter qualquer participação atual na operação do trio. Em 2023, trabalhava como funcionário de um posto de combustíveis, ganhando R$ 2.300,00, e hoje atua como caminhoneiro de carga seca. A reportagem tentou contatar Rubens Dornelas, mas ele não respondeu.
Flávio promoveu marca de Bolsonaro
Durante a vigília realizada no último sábado, aos prantos, Flávio Bolsonaro aproveitou para divulgar uma camiseta da marca Parabello, que tem Jair Bolsonaro e seu filho mais novo, Jair Renan, como sorridentes garotos-propaganda. O modelo exibido pelo senador no sábado, descrito como Camisa Oficial da Direita, no modelo preto-azulado, é um lançamento da marca para a Copa do Mundo de 2026.
A camisa chegou a ser anunciada por R$ 280 no site da marca. Atualmente o preço da peça é informado apenas mediante consulta. Não tivemos retorno do atendimento da Parabello antes do fechamento da reportagem.
No site da empresa, a Camisa Oficial da Direita é descrita como “a escolha perfeita para quem deseja expressar sua paixão pelo Brasil com um design sofisticado e cheio de personalidade”. A Parabello afirma ter nascido “para vestir o Brasil de direita, carregando em cada peça o orgulho, a fé e a coragem de um povo que não se dobra”.
Também estão a venda modelos que promovem o lema dos partidários do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump: “Make America Great Again”.
A Parabello foi fundada em dezembro de 2024 com capital social de R$ 480 mil. Está registrada em nome do curitibano Marcus Vinicius Varela Ibrahime e possui sede em um endereço de escritório digital na Avenida Paulista, em São Paulo.
