40% das fake news sobre vacinas da América Latina se concentram no Brasil

Entre 2019 e 2021, as postagens em comunidades de teorias da conspiração cresceram 689,4 vezes impulsionadas pelo covid-19
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Esquema vacinal é importante para se previnir de doenças e reduzir a circulação de vírus e bactérias. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Dados mostram que o Brasil é o epicentro desinformativo da vacinação. A pesquisa foi realizada pelo Laboratório de Estudos sobre Desordem Informacional e Políticas Públicas (DesinfoPop/CEAPG/FGV) e mapeou 81 milhões de mensagens publicadas em 1.785 comunidades de teorias da conspiração no Telegram. Entenda a pesquisa de fake news sobre vacinas com a TVT News.

O estudo “Anti-vaccine Disinformation in Latin America and the Caribbean” analisou as mensagens enviadas por 18 países entre 2016 a 2025. Trata-se do maior levantamento já feito sobre o ecossistema digital antivacina na região, cobrindo desde os fluxos discursivos até as dinâmicas econômicas que sustentam a desinformação.

De acordo com o levantamento, entre 2019 e 2021, as publicações sobre imunizantes em comunidades de teorias da conspiração cresceram 689,4 vezes impulsionadas pela pandemia de covid-19. Depois que a pandemia foi superada, o volume de postagens reduziram mas não voltaram a ser o mesmo. Ainda em 2025, conteúdos antivacinas circulam 122,5 vezes mais do que em 2019.

O volume se concentra principalmente no Brasil, o país reúne cerca de 40% de todo o conteúdo antivacina da América Latina e do Caribe. Além disso, o país concentra o maior número de usuários ativos em comunidades conspiratórias sobre o tema. A liderança se mantém há quase uma década e o Brasil sozinho já circulou mais de 580 mil conteúdos. 


“O Brasil virou o epicentro latino-americano da desinformação antivacina. Isso não acontece por acaso: temos um ambiente digital que ainda engatinha no debate da regulação, plataformas que lucram com o engajamento do medo e desafios estruturais que permitem que o discurso conspiratório floresça”, diz Ergon Cugler, pesquisador do DesinfoPop/FGV e coordenador do estudo.

A pesquisa mapeou as 175 principais fake news atreladas ao dano causado por imunizantes. As alegações falsas mais comuns vão de morte súbita e alteração do DNA a envenenamento e câncer, seguidas por boatos sobre coágulos, infertilidade e problemas cardíacos.

O ranking é liderado por “morte súbita” (15,7%), “mudança no DNA” (8,2%), “AIDS” (4,3%), “envenenamento” (4,1%) e “câncer turbo” (2,9%).

Os dados mostram também que fake news já desmentidas prevalecem na circulação, como autismo, aborto espontâneo e microchips injetados. Os conteúdos combinam jargões científico e apelos emocionais para sustentar medo e incerteza sem qualquer evidência. 

“O antivacinismo é mais do que um discurso: é um mercado que transforma pânico em produto. Enfrentar isso exige ação coordenada entre governo, imprensa, plataformas e sociedade. Combater a desinformação é uma questão de soberania informacional e de saúde pública”, afirma Cugler.

A pesquisa percebeu que as fakes news não vem apenas para desmoralizar a ciência de qualidade, ela também criou um mercado paralelo de produtos considerados “antídotos” contra as vacinas tomadas anteriormente. As comunidades conspiratórias nas redes sociais funcionam como funis, atraindo pessoas pelo medo e oferecendo produtos, cursos e terapias como solução.

O estudo mostra que para cada narrativa sobre “envenenamento” ou “alteração do DNA”, há uma promessa de “cura” por meio de frascos ou suplementos minerais vendidos por gurus digitais, além de cursos e consultorias espirituais. Essa lógica transforma a desinformação em modelo de negócio, em que o medo vira oportunidade de venda.

De “aterramento” a dióxido de cloro, mapeamos 80 falsos antídotos para “desfazer” vacinas: As promessas de “antídotos” para neutralizar vacinas misturam pseudociência, espiritualidade e consumo.

Os mais difundidos são o aterramento – ficar descalço no solo – (2,2%), que afirma “limpar energias do corpo”; o dióxido de cloro (1,5%), vendido como “solução milagrosa mineral” mas altamente tóxico; e produtos como alho, ivermectina e zeólita. Em menor escala, surgem substâncias químicas como DMSO e terra diatomácea, além de práticas simbólicas com cristais e orgonites.

No conjunto, essas narrativas reforçam a ideia enganosa de que seria possível “desfazer” a vacinação, explorando o medo e a desinformação com riscos reais à saúde.

Veja top 20 fake news que mais circulam sobre as vacinas:

Para você ficar atento e tomar cuidado, a pesquisa elaborou um top 20 fake news sobre imunização que mais circulam. A ideia aqui é aprender a reconhecer teorias conspiratórias. Se receber um conteúdo do tipo, não se preocupe: é mentira. Não circule informações falsas e tente pesquisar notícias em locais que possuem credibilidade, como a TVT News.

01. Morte (Morte Súbita) – alegação de que vacinas provocam parada cardíaca repentina. 

02. Contaminação no DNA e RNA – boato de que os imunizantes alterariam o código genético humano. 

03. HIV (AIDS) – narrativa de que causariam imunodeficiência adquirida. 

04. Envenenamento – ideia de que imunizantes contém metais pesados e toxinas. 

05. Câncer (Tumor / Câncer Turbo) – crença de que imunizados desenvolveriam tumores acelerados. 

06. Cegueira (Coágulos nos Olhos) – distorção sobre casos raros de inflamação ocular. 

07. Coágulo Sanguíneo (Microcoagulação) – medo de “microcoágulos” formados após a imunização. 

08. Miocardite – exagero de eventos raros tratados como epidemia vacinal. 

09. Vermes (Parasitas) – alegação absurda de que vacinas implantariam parasitas vivos. 

10. Problemas na Gravidez e no Parto – boato de que gestantes perderiam bebês após imunização. 

11. Ataque Cardíaco (Parada Cardíaca / Infarto) – falsa associação entre vacinas e infartos súbitos. 

12. Aborto Espontâneo – repetição de narrativas antivacina direcionadas a mulheres grávidas. 

13. Autismo (TEA / Asperger) – mito antigo reeditado com novas roupagens durante a Pandemia. 

14. Implantação de Chip – teoria conspiratória sobre controle populacional via vacina. 

15. Transtornos Vasculares – medo de colapsos circulatórios causados por supostos coágulos. 

16. Derrame (AVC) – boato de que imunizantes causam acidente vascular cerebral. 

17. Doenças Autoimunes – alegação de que o corpo atacaria a si mesmo após a imunização. 

18. Transtornos Sanguíneos – interpretações erradas sobre efeitos hematológicos. 

19. Alergia (Anafilaxia / Reações Alérgicas) – amplificação de reações leves como se fossem fatais. 

20. Pericardite – inflamação cardíaca rara transformada em “prova” de perigo vacinal. 

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