O Brasil se prepara para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que será realizada em novembro em Belém, no Pará. O país vai apresentar avanços significativos na redução dos impactos climáticos e propor metas ousadas para o futuro. Segundo a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, o Brasil assumirá a liderança da conferência pelo exemplo.
Governo Lula em retomada
Em entrevista ao programa Bom Dia, Ministra, transmitido pelo Canal Gov, Marina Silva destacou a importância da retomada de políticas ambientais, como o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM). A ministra enfatizou que esse plano foi responsável por uma redução de 83% no desmatamento entre 2003 e 2008, evitando a emissão de 5 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera. Com sua interrupção no governo anterior, o desmatamento voltou a crescer, mas já apresenta queda significativa desde que o governo Lula retomou essas políticas.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que, em fevereiro de 2025, os alertas de desmatamento na Amazônia atingiram o menor índice já registrado para o mês: apenas 80,95 km² de áreas desmatadas, uma redução de 64,26% em relação ao mesmo período do ano anterior. O governo também registra quedas de 46% no desmatamento da Amazônia em relação a 2022 e de 47% no Cerrado comparado a 2023.
Metas climáticas
Na COP 30, o Brasil apresentará sua meta de reduzir em 67% as emissões de CO2 até 2035. Para garantir esse objetivo, o governo estabeleceu metas específicas para setores como transporte, energia, indústria, agricultura e desmatamento. Marina Silva destacou também os investimentos previstos no Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento para outros biomas, como Pantanal e Caatinga, e a elaboração de planos para a Mata Atlântica e o Pampa.
O governo também aposta no Plano Clima, que contempla oito programas de mitigação e 16 de adaptação, e no Plano de Transformação Ecológica, liderado pelo Ministério da Fazenda. Marina Silva ressaltou a importância do financiamento para essas iniciativas, mencionando o aporte de R$ 10 bilhões no Fundo Clima.
Fiscalização ambiental
Outro ponto abordado pela ministra foi a ampliação dos recursos humanos e financeiros para fiscalização ambiental. O efetivo de fiscais do Ibama cresceu 96% e o do ICMBio quase 200%. O governo federal também reforçou a colaboração entre Ministério do Meio Ambiente, Polícia Federal e outros 19 ministérios para combater crimes ambientais.
Para intensificar o combate aos incêndios florestais, foram contratados quase 4 mil brigadistas, distribuídos em mais de 200 brigadas pelo país. Além disso, o MMA destinou R$ 45 milhões do Fundo Amazônia para reforçar os Corpos de Bombeiros estaduais. Marina Silva também informou que a Polícia Federal já abriu mais de 200 inquéritos para investigar incêndios criminosos ocorridos no último ano.
Marina e sustentabilidade
A ministra alertou sobre as perdas econômicas decorrentes das mudanças climáticas. Segundo ela, o agronegócio brasileiro já sofre prejuízos expressivos devido ao aumento das temperaturas, secas e ondas de calor. Marina Silva destacou que 75% do PIB da América do Sul depende de serviços ecossistêmicos, como regulação climática e fertilidade do solo.
“Os empresários que não investirem em energia limpa e na transição para um modelo sustentável de desenvolvimento sofrerão prejuízos enormes nas próximas décadas”, afirmou a ministra. Ela ressaltou que a proteção ambiental é também uma estratégia econômica, pois evita prejuízos bilionários para empresas e países.
Desafios internacionais
No cenário global, Marina Silva frisou que o Brasil defenderá a implementação dos compromissos já firmados nos Acordos Climáticos anteriores. Ela alertou que 2023 foi o primeiro ano a ultrapassar a meta do Acordo de Paris, com a temperatura média global atingindo 1,6ºC acima dos níveis pré-industriais, de acordo com o observatório europeu Copernicus.
Um dos desafios da COP 30 será lidar com a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris. Marina Silva destacou que, apesar da ausência de um dos maiores emissores de CO2 do mundo, o multilateralismo continuará. “Os EUA sofrerão as consequências dessa decisão, pois são um dos países mais impactados por eventos climáticos extremos”, afirmou.
Assista à entrevista da Marina na íntegra