Em entrevista ao jornal americano The New York Times, um dos maiores dos Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou que o Brasil não aceitará ordens do presidente dos EUA, Donald Trump. Ao jornalista Jack Nicas, Lula ressaltou que a soberania nacional e a independência do Judiciário não estão na mesa de negociações. Saiba os detalhes da entrevista na TVT News.
O New York Times descreveu Lula como “um esquerdista em seu terceiro mandato e indiscutivelmente o estadista latino-americano mais importante deste século”, destacando que “ninguém está desafiando Trump como o presidente do Brasil”.
Na conversa, que aconteceu no Palácio da Alvorada, em Brasília, Lula fez questão de enfatizar que, embora reconheça o poder econômico e militar dos Estados Unidos, o Brasil não negociará como um “país pequeno” e exigirá respeito mútuo. “A seriedade nas negociações não exige subserviência”, afirmou o presidente, em uma clara mensagem de que o governo brasileiro não se deixará intimidar pelas chantagens de Trump.
A complexidade da relação com os EUA se aprofundou com as acusações de Trump ligando as tarifas à tentativa de golpe de Bolsonaro e à atuação do Judiciário brasileiro, especialmente do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, a quem acusou de “censura” e “caça às bruxas”. O país norte-americano chegou a revogar os vistos de ministros do STF e seus familiares, uma medida que Lula classificou como “mais séria do que eu imaginava”, enfatizando que a Suprema Corte de um país deve ser respeitada por todos.
As declarações de Lula acontecem dois dias antes do tarifaço de Trump entrar em vigor. A medida de tarifar em 50% as exportações brasileiras demonstra que além de exigir submissão do Brasil, Trump ainda quer interferir nas questões políticas do país.
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Processo contra Bolsonaro
Uma das exigências de Trump para que encerre o tarifaço ao Brasil, é de que o processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro seja encerrado. Na entrevista, Lula foi categórico ao garantir que essa questão não é negociável, uma vez que o Judiciário brasileiro é independente. “Trump talvez não saiba sobre a independência do Judiciário brasileiro”, ponderou o presidente, deixando claro que o Estado Democrático de Direito é “sagrado” para o Brasil, que já passou por uma Ditadura Militar apoiada pelo país norte-americano.
Lula defendeu que não é possível misturar questões políticas com comerciais, como faz Trump. “Se ele quer ter uma briga política, então vamos tratá-la como uma briga política. Se ele quer falar de comércio, vamos sentar e discutir comércio. Mas não se pode misturar tudo”, argumentou.
O presidente criticou o comportamento de Trump, que costuma fazer ameaças em sua rede social, Truth Social. Lula classificou que a conduta do americano é “vergonhosa” e desviada de todos os padrões de negociação e diplomacia.

Aberto ao diálogo
Apesar das tensões, Lula assegurou que o Brasil permanece aberto ao diálogo. Contudo, as negociações não podem ser baseadas no medo ou na ameaça. “Quando você tem um desentendimento comercial, um desentendimento político, você pega o telefone, marca uma reunião, conversa e tenta resolver o problema. O que você não faz é taxar e dar um ultimato”, disse.
O presidente brasileiro expressou frustração com a aparente recusa de Trump em dialogar, revelando que designou ministros para contato, mas que “ninguém em Washington quer conversar”. A resposta às tentativas de contato, segundo Lula, veio por meio do site de Trump, com o anúncio das tarifas.
Impacto do tarifaço
Lula alertou que o tarifaço proposto por Trump prejudica tanto o povo americano quanto o brasileiro, resultando em preços mais altos para produtos essenciais como café, carne bovina e suco de laranja. Ele lamentou que a relação diplomática de 201 anos de “ganha-ganha” entre os países possa se tornar uma relação política de “perde-perde”.
Diante desse cenário, o Brasil já sinalizou que buscará outros mercados caso as tarifas entrem em vigor, pois, como disse Lula, não vai “chorar o leite derramado”. Segundo ele, o país vai procurar quem queira comprar os produtos brasileiros.
Relação Brasil-China
Lula declarou que mesmo se os EUA e a China entrarem numa Guerra Fria, o Brasil não teria a mesma atitude com o país asiático. Ele destacou a “relação comercial extraordinária” com a China, e que o Brasil tem interesse em vender para quem quiser comprar e pagar mais.
A China, por sua vez, já criticou as tarifas dos EUA e se mostrou pronta para trabalhar com o Brasil na defesa de um sistema multilateral de comércio.