O Brics, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China, Irã, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Egito e recentemente expandido para incluir os Emirados Árabes Unidos e a Indonésia, se consolida como um importante canal de diálogo e cooperação econômica. Hoje, ele desempenha papel fundamental na construção de uma ordem mundial mais multipolar e menos desigual. Representando 39% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e responsável por 24% das trocas comerciais globais, o grupo reforça sua influência econômica e política no cenário internacional. Neste ano, 2025, o Brasil sediará a reunião de cúpula do bloco.
Desde a primeira Reunião de Cúpula, em 2009, o Brics tem ampliado sua relevância. Segundo dados da Comexvis, plataforma interativa de dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o volume de exportações dos membros do grupo cresceu 229% entre 2005 e 2021, passando de 1,7 trilhão para 5,7 trilhões de dólares. A China lidera as exportações dentro do bloco, seguida por Rússia, Emirados Árabes Unidos e Índia, movimentando produtos como petróleo, gás natural, minérios, metais, equipamentos elétricos, cereais, carne e café.
Para a professora Ana Flávia Granja e Barros, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), o Brics é essencial para as economias emergentes, tanto pelo volume comercial quanto pelo papel como espaço de diálogo em um momento de crise na cooperação internacional. Segundo ela, o Brasil tem um interesse estratégico no grupo, pois se posiciona como um defensor da multipolaridade e do multilateralismo nas relações globais.
“O Brasil tem um interesse muito claro de participação no Brics porque são grandes economias, países que têm uma capacidade de interlocução muito forte, e o Brasil sempre foi um dos defensores de uma ordem multipolar, de um diálogo aberto e parte desse mecanismo implica conversar com todos os países que quiserem conversar com o Brasil”, afirma Granja.
Comércio no Brics
Uma das discussões mais relevantes dentro do BRICS é a ampliação do uso de moedas locais nas transações comerciais. O professor Haroldo Ramanzini Júnior, também da UnB, argumenta que essa medida visa reduzir custos e facilitar investimentos intra-BRICS, aumentando o fluxo comercial entre os membros sem a dependência do dólar. Ele destaca que iniciativas semelhantes já estão em curso no Mercosul, e que a ampliação desse modelo pode fortalecer a cooperação econômica do bloco.
Atualmente, o Brasil tem um relacionamento comercial sólido com a China, seu principal parceiro no BRICS, mas ainda existe potencial para expandir os negócios com outros membros, como Índia e Emirados Árabes Unidos. O uso de moedas locais seria uma estratégia para impulsionar esse crescimento e diminuir barreiras comerciais.
A influência política do Brics
Além do impacto econômico, o BRICS também busca maior influência política no cenário global. A professora Ana Flávia ressalta que a crescente relevância econômica do grupo, especialmente com o crescimento da China, tem proporcionado maior voz nas discussões internacionais. No entanto, a articulação política entre os membros exige negociações complexas e pressão diplomática para alcançar consensos.
Ramanzini destaca que um dos objetivos principais do grupo é a reforma das instituições financeiras internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Segundo ele, a inclusão da Indonésia no BRICS reforça a convergência dos países em prol de um sistema de governança global mais representativo e equitativo. “O BRICS tem uma agenda propositiva para reformar a governança global, o que se torna cada vez mais urgente diante das dificuldades das instituições internacionais em responder aos desafios globais”, afirma o professor.
Com o avanço de sua agenda econômica e diplomática, o BRICS segue consolidando seu papel como um dos principais atores na construção de um mundo multipolar, impulsionando a cooperação entre economias emergentes e fortalecendo a influência dos seus membros no cenário global.