Entre 2023 e 2024, o Brasil registrou a maior redução anual de pobreza desde o início da série pós-pandemia e da piora durante o governo do condenado Jair Bolsonaro (PL). Dados da Síntese dos Indicadores Sociais 2025, divulgada pelo IBGE, mostram que 8,6 milhões de brasileiros deixaram a pobreza em um ano, puxados pela combinação de programas sociais fortalecidos e melhora do mercado de trabalho. Confira na TVT News.
A proporção de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza, renda domiciliar per capita inferior a US$ 6,85 PPC por dia (R$ 694 mensais), caiu de 27,3% para 23,1%. Já a extrema pobreza, renda inferior a US$ 2,15 PPC por dia (R$ 218 mensais), recuou de 4,4% para 3,5%, o que representa 1,9 milhão de pessoas a menos nessa condição.
É a terceira queda consecutiva após o pico registrado em 2021, no auge da pandemia, quando 36,8% da população era considerada pobre.
Programas sociais contra a pobreza
Os dados mostram que os programas sociais foram decisivos para conter o empobrecimento. Sem eles:
- a extrema pobreza saltaria de 3,5% para 10%, quase o triplo;
- a pobreza iria de 23,1% para 28,7%.
A manutenção do Bolsa Família em valores superiores aos praticados antes de 2020 foi apontada como fator central para a queda da miséria, especialmente entre os mais vulneráveis.
No caso dos idosos, o papel da Previdência é ainda mais evidente: sem aposentadorias e pensões, a extrema pobreza de pessoas com 60 anos ou mais explodiria de 1,9% para 35,2%; a pobreza subiria de 8,3% para 52,2%.
Desigualdade racial e de gênero persiste
Apesar da melhora geral, a pobreza segue com forte recorte de raça e gênero:
- Mulheres: 24% pobres
- Homens: 22,2%
- Pessoas pretas: 25,8%
- Pessoas pardas: 29,8%
- Pessoas brancas: 15,1%
Pretos e pardos representam 56,8% da população, mas 71,3% dos pobres. Na extrema pobreza, 3,9% dos pretos e 4,5% dos pardos estão abaixo da linha de sobrevivência, o dobro da taxa entre brancos (2,2%).
Crianças e adolescentes de 0 a 14 anos seguem como o grupo mais vulnerável: 5,6% estão na extrema pobreza e 39,7% são pobres.
Mercado de trabalho reduz pobreza, mas mantém desigualdades
A melhora do mercado de trabalho contribuiu para reduzir os índices, mas revelou desigualdades profundas:
- Entre trabalhadores ocupados, 11,9% são pobres;
- Entre desempregados, a taxa salta para 47,6%;
- Entre os extremamente pobres, apenas 0,6% estão ocupados, contra 13,7% dos desocupados.
Setores com maior proporção de trabalhadores pobres:
- Agropecuária: 29,3%
- Serviços domésticos: 22,9%
Situação por vínculo:
- Sem carteira assinada: 20,4% pobres
- Por conta própria: 16%
- Com carteira assinada: 6,7%
Regiões:
- Nordeste: queda recorde de pobreza (de 47,2% para 39,4%)
- Sul: menor proporção de pobres do país (11,2%)
No total, 12 milhões de trabalhadores vivem na pobreza no Brasil.
Desigualdade
A desigualdade ainda coloca o Brasil na elite negativa global. Em 2022:
- Os 20% mais ricos tinham renda 11 vezes maior do que os 20% mais pobres —
segunda maior disparidade entre 40 países analisados pela OCDE, atrás apenas da Costa Rica.
O Índice de Gini, que mede desigualdade, cairia de 0,504 para 0,542 se não fossem os programas sociais — alta de 7,5%. No Nordeste, o impacto seria ainda maior: o Gini subiria 16,4%.
O país também lidera a proporção de “trabalhadores pobres” entre os membros analisados pela OCDE: 16,7%, acima de México, Costa Rica e muito distante da média dos países desenvolvidos (8,2%).
Tendência
A pobreza no Brasil voltou a crescer entre 2015 e 2021, acompanhando recessão, crise política e pandemia:
| Ano | Extrema pobreza (%) | Pessoas (mil) | Pobreza (%) | Pessoas (mil) |
|---|---|---|---|---|
| 2021 | 9,0 | 18.886 | 36,8 | 76.977 |
| 2023 | 4,4 | 9.282 | 27,3 | 57.572 |
| 2024 | 3,5 | 7.354 | 23,1 | 48.948 |
Desde 2022, o país vive redução contínua, mas especialistas alertam: a melhora é desigual e ainda frágil.
Retrato de um país que melhora
Os indicadores mostram um Brasil que avança no combate à miséria com apoio dos programas sociais e de um mercado de trabalho mais aquecido. Mas também revelam que:
- a pobreza tem cor, gênero e território;
- a desigualdade segue entre as maiores do mundo;
- crianças, mulheres, negros e moradores do Nordeste seguem como os mais vulneráveis;
- a proteção social é decisiva para que milhões não retornem à pobreza.
A edição de 2025 da Síntese dos Indicadores Sociais reforça: mesmo com avanços robustos, o país ainda carrega o peso histórico de sua desigualdade.
