Em meio aos desdobramentos da Operação Integration, que prendeu o cantor Gusttavo Lima e a advogada Deolane, os debates sobre jogos de aposta no Brasil aumentaram. Além de esquemas de lavagem de dinheiro e a prática de jogos ilegais, as apostas estão ligadas ao desbalanceamento econômico de famílias brasileiras. Segundo pesquisa realizada pela Hibou Pesquisas e Insights, 78% das pessoas que apostam no jogo do Tigrinho admitem não ter a menor ideia do quanto já gastaram.
A maior parte dos apostadores possuem renda do tipo C2 — renda per capita de R$2.403,04, segundo o IBGE — eles são 29%. Outro número alarmante, é que segundo o Banco Central, beneficiários do Bolsa Família gastaram R$3 bilhões em jogos de aposta via Pix em agosto. De acordo com Charchat, em entrevista para a Agência Brasil, as apostas são 1,98% do orçamento familiar da classe E e D.
O ganho financeiro é apontado como o principal motivador das apostas, segundo o Hibou. As lotéricas ainda possuem a hegemonia dos apostadores sendo o local que 47% realiza os jogos. Em contrapartida, apostas esportivas online (Bets) são 11% e jogos de cassino online como o do Tigrinho são 8% — 16% de quem joga em bets joga no Tigrinho e 40% dos jogadores do Tigrinho apostam em Bets.
Em agosto, os jogos online receberam R$20,8 bilhões dos brasileiros via Pix, já a Caixa Econômica Federal arrecadou apenas R$1,9 bilhão pelas loterias oficiais. Os números são do Banco Central.
O gasto mensal que a maioria dos apostadores, independente do tipo de jogo, gira entre R$50 a R$100. Quando se olha exclusivamente para os Bets o cenário muda: o mensal é de R$100 a R$500 e por rodada 32% gastam entre R$100 a R$200 — essa é a modalidade que levou a investigação prender o Gusttavo Lima e a Deolane. Para os apostadores de cassino online como Tigrinho, 34% os depósitos mensais ficam entre R$300 a R$500 e ficam entre 1h a 5h na plataforma.
Para Alexander Bez, psicólogo especializado em saúde mental, a resposta rápida dos jogos onlines é um fator que aumenta a compulsão na aposta. “Ao contrário da loteria convencional, onde há um tempo de espera até o resultado, os jogos on-line oferecem feedback instantâneo, incentivando a continuidade imediata das apostas”, afirmou.
O problema se agrava quando nunca há retornos, o que representa a maioria dos apostadores (52%). Apenas 48% já foram agraciados com algum prêmio, eles contaram que seus retornos foram entre R$100 a $1000. Quando questionados em qual tipo de jogo eles acreditavam ter ganhado mais do que gastado, 53% afirmou que não havia saldo positivo em nenhuma das modalidades utilizadas.
“Apostar compulsivamente, em grandes quantias e com intervalos curtos entre as jogadas, são sinais de que o jogo passou a fazer parte de um comportamento obsessivo-compulsivo”, disse o psicólogo. Para o especialista, é possível que as pessoas que apostam com frequência estejam passando por um episódio de Transtorno do Impulso, dentro do espectro do TOC. Contudo, apenas 2% se consideram viciados em apostas.
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No total, 16% relataram ter tido problemas financeiros por causa de apostas — esse número corresponde a 10% da população brasileira. Desses, 87% falaram que suas famílias estão cientes das apostas.
Quem não aposta representa 32% dos brasileiros, o principal motivo apontado por eles é que não acreditam na honestidade do sistema de jogos. O segundo principal motivador é não ter dinheiro sobrando. Para essa categoria, jogos como o do Tigrinho são os mais perigosos, seguido de cassinos e caça-níqueis.
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Redação TVT News. Por Emilly Gondim