A opinião pública brasileira sobre grandes potências internacionais tem passado por transformações nos últimos meses. Segundo pesquisa Quaest divulgada hoje (26), a imagem dos Estados Unidos entre os brasileiros atingiu o pior nível desde o início do levantamento, em 2023. Em sentido oposto, China e Argentina registraram avanços nas avaliações favoráveis. Entenda na TVT News.
A pesquisa, encomendada pela Genial Investimentos, ouviu 2.004 pessoas entre os dias 13 e 17 de agosto, e tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Dados da pesquisa
País | Visão Favorável (%) | Visão Desfavorável (%) | NS/NR (%) | Variação Favorável (desde fev/25) |
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EUA | 44 | 48 | 8 | -14 p.p. |
China | 49 | 37 | 14 | +11 p.p. |
Argentina | 42 | 40 | 18 | +7 p.p. |
Israel | 35 | 50 | 15 | -4 p.p. |
Rússia | 25 | 59 | 16 | +9 p.p. |
EUA, Trump e Bolsonaros contra o Brasil
A percepção negativa sobre os EUA saltou de 24% para 48% desde fevereiro, enquanto a visão positiva caiu de 58% para 44%. Trata-se de uma reversão drástica no sentimento da população em apenas seis meses. Parte dessa deterioração pode estar relacionada ao tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, anunciado pelo ex-presidente Donald Trump durante o período.
O impacto político também é evidente: entre os eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 69% avaliam os EUA de forma negativa, enquanto entre os apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), 72% mantêm opinião favorável sobre o país norte-americano. A queda na avaliação positiva dos EUA entre indecisos, brancos e nulos também foi expressiva, de 55% para 49%.
Desde que o radical de extrema direita Donald Trump assumiu a presidência dos EUA, ele vem adotando uma postura de ataques contra todo o mundo, particularmente com o uso de tarifas injustificadas e unilaterais. No Brasil, há um impacto ainda maior, já que membros da família Bolsonaro, especialmente Eduardo Bolsonaro, estão trabalhando junto de Trump para boicotar produtores e a economia brasileira, divulgando mentiras e influenciando o norte-americano a atacar o Brasil com taxas que seriam suspensas apenas se a Justiça brasileira deixasse de julgar Bolsonaro pelos crimes que cometeu.
China em alta
A percepção dos brasileiros sobre a China atingiu seu melhor patamar desde o início da série histórica. A visão positiva subiu de 38% para 49%, enquanto a negativa recuou de 41% para 37%. O número de pessoas que não souberam opinar também caiu, de 21% para 14%.
De acordo com o diretor da Quaest, Felipe Nunes, o fortalecimento da imagem da China está diretamente ligado à postura do país asiático diante do Brasil, que tem sido mais favorável em negociações comerciais e políticas. “O tarifaço está empurrando a opinião pública para o lado chinês, que tem se mostrado mais interessado em ajudar o Brasil, enquanto os EUA parecem interessados em nos prejudicar”, avaliou Nunes.
A China, historicamente, adota uma postura de parceria e desenvolvimento mútuo. Diante dos ataques do imperialismo norte-americano, o gigante asiático segue com postura pragmática de parceria ganha-ganha com o Brasil.
Argentina alcança empate técnico
A imagem da Argentina também melhorou entre os brasileiros. A avaliação positiva passou de 35% para 42%, enquanto a negativa oscilou de 39% para 40%. Os números indicam empate técnico dentro da margem de erro, com um aumento de sete pontos na aprovação.
A melhora ocorre em meio a um contexto de instabilidade política no país vizinho, que enfrenta escândalos de corrupção no governo Javier Milei. Ainda assim, a percepção pública entre brasileiros parece estar mais receptiva.
É possível imaginar que para setores progressistas, há uma boa disposição com países da América Latina. Já entre pessoas ligadas à extrema direita, que adotam uma postura de alinhamento apenas com países imperialistas como EUA e Israel, agora o apreço cresce por conta de Milei. Mesmo envolto em escândalos, o político é um ultraliberal e possui conexão ideológica com Bolsonaro e Trump.
Israel perde apoio
Israel, por outro lado, viu sua imagem se deteriorar. A avaliação negativa subiu de 41% para 50%, enquanto a positiva caiu de 39% para 35%. O percentual de entrevistados que não souberam ou preferiram não opinar também caiu, de 20% para 15%.
A piora coincide com a intensificação do genocídio na Faixa de Gaza, amplamente noticiado, com denúncias de fome generalizada e violações de direitos humanos, além do assassinato sistemático de jornalistas, médicos e civis em geral, particularmente mulheres e crianças.
Rússia melhora
A Rússia permanece com imagem negativa: 59% dos brasileiros têm visão desfavorável do país, número praticamente estável em relação a fevereiro (60%). No entanto, houve um crescimento expressivo na avaliação positiva, que subiu de 16% para 25%. A taxa de indecisos caiu de 24% para 16%.