Começou hoje (4), no Rio de Janeiro, a Cúpula do Brics 2025, reunião que reúne chefes de Estado, ministros, representantes de bancos centrais e empresários de 37 países, incluindo os 11 membros do bloco, dez países parceiros e convidados internacionais. Entenda tudo sobre BRICS na TVT News.
Sediado principalmente no Museu de Arte Moderna (MAM), no Aterro do Flamengo, o encontro deve reunir cerca de 4 mil participantes até o próximo domingo (7).
Sob a presidência rotativa do Brasil, o Brics busca, nesta edição se consolidar como um polo alternativo de governança global, com destaque para a defesa do multilateralismo, o uso de moedas nacionais no comércio internacional e o lançamento de um fundo multilateral de garantias, o BMG (Brics Multilateral Guarantee).
Lula e governança global
Na manhã desta sexta-feira (4), durante a cerimônia de abertura da 10ª reunião anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a atual ordem internacional.
Segundo ele, o multilateralismo vive seu pior momento desde a Segunda Guerra Mundial, e a ONU tornou-se irrelevante diante dos principais conflitos do planeta.
“O problema nosso não é nem econômico, é político. Há muito tempo eu não via o mundo carente de lideranças políticas como nós temos hoje. Há muito tempo, não via nossa ONU tão insignificante como ela está hoje”, afirmou o presidente.
ONU e o genocídio em Gaza
Lula também criticou diretamente a atuação do órgão diante do genocídio promovido pelo regime sionista de Israel contra palestinos em Gaza: “Uma ONU que criou o Estado de Israel e não tem capacidade de criar o Estado Palestino. Não é capaz de fazer um acordo de paz para que o genocídio do exército israelense continue matando mulheres e crianças inocentes em Gaza.”
A fala de Lula ocorreu logo após a presidente do NDB, Dilma Rousseff, afirmar que tarifas, sanções e restrições financeiras são utilizadas como “ferramenta de subordinação política”. Também participaram do evento o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e conselheiros do banco.
A reforma das instituições de governança global, como a própria ONU, o FMI e o Banco Mundial, é uma das principais prioridades da presidência brasileira à frente do BRICS neste ano. O tema deverá constar com destaque na declaração final da cúpula, marcada para os dias 6 e 7 de julho.

Quem é quem?
O Brics, criado em 2009, hoje é composto por 11 países: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Irã e Indonésia. Estes cinco últimos ingressaram no bloco em 2024, ampliando o escopo de ação da organização. Além dos membros plenos, o encontro no Rio recebe países parceiros como Cuba, Cazaquistão, Bolívia, Belarus, Vietnã, Malásia, Uzbequistão, Tailândia, Nigéria e Uganda.
Entre os líderes presentes estão o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anfitrião do encontro; o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa; o premiê da Índia, Narendra Modi; e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, que representa Vladimir Putin, ausente devido a sanções e ao mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional. A China é representada por seu chanceler Wang Yi, embora o presidente Xi Jinping ainda possa participar virtualmente.
Temas em pauta
A presidência brasileira estabeleceu sete eixos prioritários para os trabalhos do Brics em 2025: reforma da governança global; uso de moedas nacionais no comércio internacional; cooperação em saúde; desenvolvimento sustentável; inteligência artificial; combate às desigualdades e promoção da paz e segurança.
Além disso, será lançado formalmente o BMG, fundo de garantias multilaterais do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), presidido por Dilma Rousseff. O objetivo é viabilizar investimentos privados em infraestrutura, energia e desenvolvimento social nos países membros, com início de operações previsto para 2026.

Outro tema de destaque é a ampliação do uso de moedas nacionais em transações comerciais entre os países do bloco, diminuindo a dependência do dólar norte-americano. Uma moeda comum, no entanto, segue fora dos planos, com Índia e Brasil demonstrando resistência à ideia.
Diferenças e consensos
Apesar das diferenças geopolíticas, como os conflitos envolvendo o Irã, membro recente, e a Rússia, com guerra em curso na Ucrânia, os membros buscaram consenso em torno da necessidade de maior autonomia financeira e de uma ordem internacional mais equilibrada. A guerra em Gaza também aparece nas discussões, com o BRICS tentando formular um posicionamento comum.
Na frente de segurança, o grupo deve lançar uma declaração condenando o atentado ocorrido em Pahalgam, na Índia, ecoando a posição do governo indiano de que o terrorismo deve ser combatido com firmeza e cooperação internacional.
A nova cara do Brics
Desde a ampliação do grupo em 2024, com a entrada de países como Arábia Saudita, Irã e Egito, o BRICS vive um momento de reconfiguração. A adesão de novas nações ampliou a influência do bloco, mas também aumentou a complexidade de suas decisões. O Brasil tem defendido uma expansão cautelosa, que não comprometa a coesão interna.
Neste contexto, o governo Lula defende que o Brics se torne uma instância institucional com sede permanente e o Rio de Janeiro aparece como forte candidato. A proposta está em discussão nas reuniões técnicas e deve ser levada ao segmento de chefes de Estado nos próximos dias.
Eventos paralelos e segurança
A cidade do Rio de Janeiro preparou um esquema especial para receber a cúpula. Além das reuniões oficiais, há fóruns paralelos voltados para juventude, empresariado e liderança feminina. Os eventos ocorrem no Fairmont Copacabana e no Porto Maravilha.
Com 20 mil agentes envolvidos na segurança e zonas de restrição montadas nos arredores do MAM, a prefeitura carioca estima que o evento movimentará significativamente a economia local e consolidará a imagem do Rio como centro de grandes encontros internacionais, a exemplo do G20 e da Rio+20.
Brics e o Sul Global
A expectativa é de que a cúpula produza uma declaração conjunta que reflita as prioridades do Sul Global, reforce o papel do Novo Banco de Desenvolvimento e apresente avanços práticos em mecanismos financeiros, como o BRICS Pay, um sistema de pagamentos alternativo ao SWIFT, o sistema internacional comandado pelo grande capital, particularmente pelos EUA e pelo dólar.
📅 Agenda da Cúpula do Brics
- Pré-cúpula (4–5 de julho): Reuniões dos Ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais (no Fairmont Copacabana); encontro dos governadores do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB); fóruns empresariais com destaque à participação feminina (WBA) e ao Fórum Jovens Líderes.
- Cúpula de líderes (6–7 de julho): Realizada no MAM (Aterro do Flamengo), com cerca de 4.000 participantes de 37 países — incluindo membros, parceiros e organizações internacionais.
🌍 Quem é quem / Participantes
- Países-membros (11): Brasil (anfitrião), Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Irã e Arábia Saudita.
- Países-parceiros (10): Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.
- Líderes esperados:
- Brasil: Lula (anfitrião)
- China: Xi Jinping (não comparece pessoalmente)
- Índia: Narendra Modi
- Rússia: Lavrov representando Putin (este deve seguir ausente)
- África do Sul: Cyril Ramaphosa
- Outros: Presidentes da Indonésia, Irã, Egito, Emirados, Etiópia e Arábia Saudita.
🧭 Prioridades e pautas nacionais
🇧🇷 Brasil (presidência rotativa)
- Reformas da governança global (ONU, FMI, Banco Mundial) e maior voz do Sul Global.
- Cooperação em saúde global, comércio, investimento e finanças; combate às mudanças climáticas; governança da IA; paz e segurança internacional; desenvolvimento institucional.
- Apoio ao BMG – fundo de garantias do NDB (BRICS Multilateral Guarantee) para turbinar investimentos privados, com implementação prevista para 2026.
- Produtos interessantes: possibilidade de sede permanente do BRICS no Rio, fortalecendo legado do G20.
🇨🇳 China
- Defesa do multilateralismo frente a tendências isolacionistas; coesão institucional BRICS.
- Apoio à criação de mecanismos de pagamentos alternativos ao dólar e uso de moedas nacionais no comércio.
🇮🇳 Índia
- Fortalecimento do Sul Global, inclusão financeira, redução da desigualdade digital e energética.
- Reforço no combate conjunto ao terrorismo (Pahalgam).
- Enfase em moedas locais no comércio – embora uma moeda comum ainda esteja fora de debate .
🇷🇺 Rússia
- Maior autonomia financeira e desdolarização; possível envolvimento no fundo de garantias do NDB.
- Representada por Sergey Lavrov — Putin deve permanecer ausente devido ao mandado do TPI.
🇿🇦 África do Sul e novos membros e parceiros
- África do Sul com postura mais mediana, trabalhando no consenso global.
- Novos membros (Irã, Egito, Emirados, Etiópia, Indonésia) aumentando alcance e recursos — testes nas negociações sobre conflitos Irã–Israel.
📌 Pautas centrais em discussão
- Uso de moedas nacionais no comércio BRICS, visando reduzir dependência do dólar .
- Lançamento do Fundo Multilateral de Garantias (BMG/NDB) para atrair financiamento privado.
- Reforma do sistema multilateral, com maior representatividade e peso do Global South.
- Cooperação em saúde, clima e IA, por meio de grupos temáticos formados em 2025.
- Combate ao terrorismo e foco em paz, conforme postura unida após ataque em Pahalgam.
- Posição sobre conflitos internacionais, buscando equilíbrio nas declarações sobre Irã–Israel e Ucrânia.
🌐 Temas transversais & curiosidades
- O Brasil quer instituir o BRICS Pay, sistema de pagamentos entre bancos centrais rival ao SWIFT.
- Nova fase de expansão: após Egito, Índia, Arábia Saudita, Indonésia e Irã, o bloco tenta manter equilíbrio funcional — Brasil prefere um grupo compacto.
- O Rio já discute ser sede permanente do BRICS, cerca de 4 mil representantes confirmados.
- Intercâmbio juvenil e empresarial: Fóruns para mulheres, jovens líderes e empresários latino-americanos estão incluídos na programação .
🔎 Resumo
- Data e local: encontros de 4 a 7 de julho – preparatórios e cúpula no MAM, Rio.
- Participação: 11 membros, 10 parceiros, cerca de 4.000 participantes.
- Plataformas e grupos: saúde, educação, finanças, segurança, IA, clima, cultura.
- Principais temas: reforma mundial; redução da dependência do dólar; comércio em moedas nacionais; degelo econômico global; BMG e NDB; combate ao terrorismo; equilíbrios geopolíticos.