Durante a 17ª Cúpula de Chefes de Estado do Brics,neste domingo (7) no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu uma governança internacional mais inclusiva, reformas nas instituições multilaterais e um novo marco regulatório para a Inteligência Artificial (IA). Entenda na TVT News.
Diante de representantes de 11 países que compõem o bloco – Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã – Lula alertou para os riscos de concentração do poder tecnológico e econômico e propôs um modelo de desenvolvimento mais justo e sustentável.
“O desenvolvimento da Inteligência Artificial não pode se tornar privilégio de poucos países ou instrumento de manipulação na mão de bilionários”, afirmou Lula. “Tampouco é possível progredir sem a participação do setor privado e das organizações da sociedade civil.”
A fala integrou a sessão plenária sobre Fortalecimento do Multilateralismo, Assuntos Econômico-Financeiros e Inteligência Artificial, e marcou o segundo dia da cúpula, cujo tema central é “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”.
Brics: justiça e igualdade
Um dos principais focos do discurso de Lula no Brics foi a desigualdade global na distribuição de riqueza e poder. O presidente brasileiro destacou que, desde 2015, cerca de 3 mil bilionários acumularam US$ 6,5 trilhões, enquanto os países em desenvolvimento arcam com o peso da dívida e recebem cada vez menos ajuda internacional.
“As estruturas do Banco Mundial e do FMI sustentam um Plano Marshall às avessas, em que as economias emergentes e em desenvolvimento financiam o mundo mais desenvolvido”, criticou Lula.
Ele defendeu o avanço das negociações de uma Convenção-Quadro da ONU sobre Cooperação Tributária Internacional, que, segundo o presidente, pode ser um marco na busca por justiça fiscal global. Ainda propôs que os países do Brics passem a ter ao menos 25% de poder de voto no Fundo Monetário Internacional (FMI), atualmente, o grupo detém 18%.
Reformas
Lula também cobrou mudanças estruturais na Organização Mundial do Comércio (OMC), cuja paralisia e tolerância ao protecionismo foram duramente criticadas.
“Não será possível restabelecer a confiança na OMC sem promover um equilíbrio justo de obrigações e direitos que reflita adequadamente os interesses de todos os seus membros”, afirmou.
O presidente destacou a necessidade de destravar as negociações agrícolas e criar um novo pacto que separe políticas ambientais legítimas de protecionismo disfarçado. Ele também defendeu uma nova abordagem da política industrial, que valorize o papel do Estado no desenvolvimento de cadeias produtivas sustentáveis.
Inteligência Artificial
Além de propor uma arquitetura de governança global da IA, Lula anunciou a intenção do Brasil de liderar um estudo de viabilidade para instalação de cabos submarinos ligando diretamente os países do Brics. O objetivo é garantir maior segurança, velocidade e soberania na troca de dados.
O presidente comemorou a aprovação da Declaração sobre Governança da Inteligência Artificial, assinada pelos membros do bloco, e reforçou que o desenvolvimento tecnológico precisa estar ancorado em valores de equidade e inclusão.
Cooperação Sul-Sul
A cúpula reforçou o papel do Brics como espaço estratégico de articulação política, econômica e social entre países do Sul Global. Os 11 membros do grupo representam hoje 48% da população mundial, 40% do PIB global e 21,6% do comércio internacional.
Segundo dados do governo brasileiro, o bloco foi destino de US$ 121 bilhões das exportações brasileiras em 2024, e origem de US$ 88 bilhões em importações no mesmo ano. Os principais produtos vendidos pelo Brasil ao grupo incluem soja, petróleo, minério de ferro, carne bovina e celulose.
Avanços na integração social
Lula também celebrou a realização da primeira reunião do recém-criado Conselho Civil do Brics, além do encontro empresarial que reuniu mais de mil pessoas. Para o presidente, aproximar a vertente social das ações governamentais mantém o bloco alinhado com as demandas reais de suas populações.
“Aproximar essa vertente social do trabalho conduzido pelos governos mantém o Brics em sintonia com as aspirações de nossas sociedades”, concluiu.
A cúpula continua nesta segunda-feira (8) com a sessão plenária sobre Meio Ambiente, COP30 e Saúde Global. O Brasil exerce a presidência rotativa do Brics em 2025 e busca consolidar o bloco como um ator central em temas-chave do século XXI.