Brics: Marina Silva defende transição energética e financiamento climático

Durante a Cúpula do Brics, ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reforçou a necessidade de planejamento para a transição energética
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“É preciso que tenhamos uma espécie de mapa do caminho para essa transição. A pior forma de enfrentarmos uma situação adversa é não nos planejarmos para ela", disse Marina no Brics. Foto: CanalGov

Durante a Cúpula do Brics no Rio de Janeiro, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, reforçou a necessidade de planejamento para a transição energética e o enfrentamento das mudanças climáticas. Entenda na TVT News.

Ao comentar os investimentos em combustíveis fósseis no Brasil, como os projetos da Petrobras na Margem Equatorial, Marina reconheceu as contradições envolvidas, mas defendeu uma condução responsável e gradual do processo. “Vivemos um momento de muitas contradições, e o importante é que estamos dispostos a superá-las”, afirmou a ministra, ao lembrar que compromissos assumidos pelo Brasil em conferências internacionais preveem a substituição dos combustíveis fósseis por fontes limpas de energia.


“É preciso que tenhamos uma espécie de mapa do caminho para essa transição. A pior forma de enfrentarmos uma situação adversa é não nos planejarmos para ela”, disse Marina no Brics.


Marina fez referência à 28ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP28), realizada em Dubai, em 2023, onde o Brasil e outras nações se comprometeram com uma “transição justa e planejada” rumo a um modelo de desenvolvimento menos dependente do carbono. Ela enfatizou que esse processo exige cooperação global, com lideranças dos países ricos e participação ativa das nações em desenvolvimento.

Avanços, Brics e COP30

A ministra destacou no Brics ainda que o Brasil tem mostrado resultados significativos na agenda ambiental. “Já conseguimos reduzir o desmatamento em 46% na Amazônia e em 32% no país inteiro”, disse. “E olha que coisa interessante: evitamos lançar mais de 400 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera e, ao mesmo tempo, a nossa agricultura cresceu 15%, a renda per capita aumentou mais de 11% e abrimos mais de 300 mercados para produtos agrícolas.”

Segundo Marina, esses dados reforçam a capacidade do Brasil de “liderar pelo exemplo”, ao demonstrar que é possível combinar crescimento econômico com preservação ambiental. Ela mencionou o compromisso do governo de zerar o desmatamento até 2030, o que, na sua avaliação, coloca o país na vanguarda da agenda climática global.

Financiamento e implementação

Apesar dos compromissos assumidos internacionalmente, Marina alertou para o principal gargalo das políticas ambientais: a falta de financiamento e de mecanismos eficazes de implementação. “Todos os países em desenvolvimento são unânimes em reconhecer que precisamos de recursos financeiros e tecnológicos. Recursos públicos que ajudem a alavancar investimentos privados”, afirmou.

A ministra cobrou, ainda, a transferência de tecnologia e a criação de instrumentos que permitam a adaptação dos países em desenvolvimento às mudanças já em curso. “São recursos volumosos, principalmente na área de infraestrutura. E há ainda a agenda de perdas e danos, que trata da reparação aos países e populações mais vulneráveis.”

Marina lembrou que a COP29, realizada em Baku, no Azerbaijão, estabeleceu uma meta ambiciosa de financiamento climático: US$ 1,3 trilhão anuais até 2035. No entanto, o acordo fechado ficou em US$ 300 bilhões por ano, valor considerado insuficiente diante da urgência climática.

Propostas brasileiras no Brics e no G20

Durante sua fala, Marina também destacou as iniciativas brasileiras em fóruns internacionais, como o G20 e o Brics. Entre as propostas em andamento está o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que busca captar até US$ 4 bilhões anuais, somando recursos públicos e privados, para preservar florestas tropicais em cerca de 70 países.

“É o pagamento por serviços ambientais. As florestas prestam serviços essenciais ao equilíbrio climático do planeta, e isso precisa ser valorizado economicamente”, explicou.

Além disso, o governo brasileiro trabalha em uma proposta para remunerar propriedades rurais que mantenham áreas de reserva legal além do exigido por lei. A medida visa incentivar a conservação ambiental em áreas privadas, com impacto positivo também no combate à pobreza e na geração de emprego e renda.

Para viabilizar essas políticas, Marina citou o uso de instrumentos como o Fundo Clima, o Fundo Amazônia e o programa Ecoinvest. Segundo ela, a expectativa é que a Conferência do Clima deste ano, a COP30, que será realizada em Belém (PA), se torne um marco da implementação, com compromissos financeiros mais robustos e metas de redução de emissões mais ambiciosas.

“Essa é uma agenda urgente, e o Brasil está pronto para liderar, mas essa liderança exige comprometimento global com o financiamento, a tecnologia e a justiça climática”, concluiu.

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