O tarifaço de 50% anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros pode provocar reações em cadeias produtivas, particularmente aquelas que são costuradas em parceria entre empresas brasileiras e norte-americanas. Entenda na TVT News.
Café mais barato no Brasil, Big Mac mais caro nos EUA; resultados do tarifaço de Trump e Bolsonaro
A medida, que entra em vigor em 1º de agosto, deve impactar diretamente os preços de alimentos e bens industrializados consumidos pelos norte-americanos, como o café da Starbucks e os hambúrgueres do McDonald’s, além de alterar significativamente o mercado interno brasileiro, especialmente no agronegócio. O Brasil é o maior fornecedor de café e laranja para os EUA, por exemplo, além de exportar grande quantidade de carnes. O Brasil é o maior produtor de proteína animal do mundo.
Em reunião com o vice-presidente Geraldo Alckmin, representantes do setor agroexportador brasileiro alertaram que a tarifa pode tornar o café e a carne do Brasil inviáveis para o mercado dos EUA. Isso pode provocar, inclusive, a falência de grandes redes lá nos Estados Unidos, como a Starbucks.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Pavel Cardoso, destacou que 76% dos norte-americanos consomem café, e 35% de todo o café bebido nos EUA tem origem brasileira. “É inevitável que produtos como o café da Starbucks fiquem mais caros”, afirmou.
Já o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, afirmou que frigoríficos brasileiros já começaram a desacelerar a produção destinada aos EUA, que é o segundo maior comprador da carne bovina nacional. A proteína brasileira é amplamente utilizada na produção de hambúrgueres e, segundo Perosa, a nova tarifa afetará diretamente os preços nos restaurantes fast food dos EUA.
Café mais barato
A medida, embora negativa para exportadores, pode representar alívio para o bolso dos brasileiros, ao menos no caso do café. Dados do IBGE mostram que, de janeiro de 2024 a junho de 2025, o preço do pó de café no mercado interno subiu 96,3%, com aumentos de 39,6% no ano passado e 42,9% apenas no primeiro semestre deste ano.

Esse encarecimento se deve, em grande parte, à exportação massiva do produto: em 2024, o Brasil exportou 50,5 milhões de sacas de café, um aumento de 28,8% em relação a 2023. Quase 20% desse volume foi destinado aos EUA. Com o novo tarifaço, a tendência é de que o café brasileiro perca competitividade lá fora e sobre no mercado interno, o que pode derrubar os preços para os consumidores locais.
Setores afetados no tarifaço
Além do café e da carne, o tarifaço também afeta setores industriais e estratégicos para a economia brasileira. Veja abaixo os principais impactos:
- 🥩 Carne bovina: Foram exportadas 532 mil toneladas para os EUA em 2024, com receita de US$ 1,6 bilhão. Parte dessa produção pode voltar ao mercado interno, o que tende a pressionar os preços para baixo.
- 🍊 Suco de laranja: Com 41,7% das exportações do setor destinadas aos EUA, a sobretaxa deve dificultar as vendas externas e criar excedente no Brasil.
- 🛢️ Petróleo: Os EUA compraram US$ 5,8 bilhões da commodity brasileira em 2024. O setor, porém, tem maior flexibilidade para redirecionar embarques.
- 🏗️ Ferro, aço e materiais de construção: Os EUA são o principal destino desses produtos. O excesso de oferta pode afetar preços internos e margens de lucro das indústrias.
- ✈️ Aeronaves: O setor exportou US$ 2,4 bilhões para os EUA em 2024 (63% do total). A redução de encomendas pode afetar empregos e produção.
- 🌳 Celulose e madeira: O mercado americano absorve 40% da madeira brasileira exportada. Empresas com presença global, como a Suzano, podem mitigar impactos.
- ⚙️ Máquinas e eletrônicos: Com mais de 60% das exportações do setor indo para os EUA, a perda de competitividade pode reduzir receita e afetar o setor de tecnologia.
Empresários norte-americanos reagem
A decisão de Trump já provocou reação de entidades empresariais dos EUA. Em nota conjunta, a U.S. Chamber of Commerce e a Amcham Brasil alertaram que a tarifa elevará custos para famílias e empresas norte-americanas. “Produtos essenciais às cadeias produtivas e aos consumidores dos EUA ficarão mais caros, reduzindo a competitividade de setores estratégicos”, afirmaram.
As entidades pedem a abertura de “negociações de alto nível” entre os dois países para evitar a aplicação da medida. Segundo elas, mais de 6.500 pequenas empresas americanas dependem de produtos brasileiros, e 3.900 empresas dos EUA têm investimentos diretos no Brasil.
Tarifaço
A medida foi oficialmente comunicada a Lula em carta enviada por Trump e é vista como uma retaliação política após o republicano acusar o governo brasileiro de “perseguição vergonhosa” contra Jair Bolsonaro. A escalada diplomática acirra o clima entre as duas maiores economias das Américas e preocupa analistas pelo potencial impacto econômico e político bilateral.
Exportações brasileiras para os EUA em 2024:
- Total: US$ 22 bilhões no 1º semestre
- Café: US$ 2 bilhões (16,7%)
- Carne bovina: US$ 1,6 bilhão (16,7%)
- Suco de laranja: US$ 1,3 bilhão (41,7% da exportação do setor)
- Petróleo: US$ 5,8 bilhões (13%)
- Ferro e aço: US$ 2,8 bilhões (70% vai para os EUA)
- Aeronaves: US$ 2,4 bilhões (63%)
- Celulose e madeira: US$ 1,6 bilhão (40%)
- Máquinas e eletrônicos: US$ 2,4 bilhões (60% do total do setor)
Impactos esperados:
- Nos EUA: aumento de preços de alimentos, bebidas, papel, café, carne e derivados industriais.
- No Brasil: queda de preços no mercado interno de café, carne e suco; dificuldades para indústrias de alto valor agregado e possível perda de empregos (reversível com abertura de novos mercados).
Medida entra em vigor em: 1º de agosto de 2025.