Tarifaço de Trump: café mais barato no Brasil e Big Mac mais caro nos EUA

Tarifaço de Trump e família Bolsonaro pode resultar em café mais barato para os brasileiros e falência de empresas nos EUA. Entenda
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Tarifaço de 50% anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros pode provocar reações em cadeias produtivas. Foto: Flickr/WhiteHouse/ Daniel Torok

O tarifaço de 50% anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros pode provocar reações em cadeias produtivas, particularmente aquelas que são costuradas em parceria entre empresas brasileiras e norte-americanas. Entenda na TVT News.

Café mais barato no Brasil, Big Mac mais caro nos EUA; resultados do tarifaço de Trump e Bolsonaro

A medida, que entra em vigor em 1º de agosto, deve impactar diretamente os preços de alimentos e bens industrializados consumidos pelos norte-americanos, como o café da Starbucks e os hambúrgueres do McDonald’s, além de alterar significativamente o mercado interno brasileiro, especialmente no agronegócio. O Brasil é o maior fornecedor de café e laranja para os EUA, por exemplo, além de exportar grande quantidade de carnes. O Brasil é o maior produtor de proteína animal do mundo.

Em reunião com o vice-presidente Geraldo Alckmin, representantes do setor agroexportador brasileiro alertaram que a tarifa pode tornar o café e a carne do Brasil inviáveis para o mercado dos EUA. Isso pode provocar, inclusive, a falência de grandes redes lá nos Estados Unidos, como a Starbucks.

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Alckmin disse que plano do Governo é negociar antes do dia 01 de agosto. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Pavel Cardoso, destacou que 76% dos norte-americanos consomem café, e 35% de todo o café bebido nos EUA tem origem brasileira. “É inevitável que produtos como o café da Starbucks fiquem mais caros”, afirmou.

Já o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, afirmou que frigoríficos brasileiros já começaram a desacelerar a produção destinada aos EUA, que é o segundo maior comprador da carne bovina nacional. A proteína brasileira é amplamente utilizada na produção de hambúrgueres e, segundo Perosa, a nova tarifa afetará diretamente os preços nos restaurantes fast food dos EUA.

Café mais barato

A medida, embora negativa para exportadores, pode representar alívio para o bolso dos brasileiros, ao menos no caso do café. Dados do IBGE mostram que, de janeiro de 2024 a junho de 2025, o preço do pó de café no mercado interno subiu 96,3%, com aumentos de 39,6% no ano passado e 42,9% apenas no primeiro semestre deste ano.

Café espresso – Itália O espresso é o modo mais tradicional de se tomar café na Itália. Preparado sob alta pressão, com água quase fervente passando por café moído bem fino, o resultado é uma bebida intensa, com uma camada de creme dourado na superfície. Costuma ser servido em pequenas doses, consumidas rapidamente, muitas vezes em pé nos balcões dos cafés.
Brasil exportou 50,5 milhões de sacas de café, Quase 20% desse volume foi destinado aos EUA Foto: Wikimedia Commons

Esse encarecimento se deve, em grande parte, à exportação massiva do produto: em 2024, o Brasil exportou 50,5 milhões de sacas de café, um aumento de 28,8% em relação a 2023. Quase 20% desse volume foi destinado aos EUA. Com o novo tarifaço, a tendência é de que o café brasileiro perca competitividade lá fora e sobre no mercado interno, o que pode derrubar os preços para os consumidores locais.

Setores afetados no tarifaço

Além do café e da carne, o tarifaço também afeta setores industriais e estratégicos para a economia brasileira. Veja abaixo os principais impactos:

  • 🥩 Carne bovina: Foram exportadas 532 mil toneladas para os EUA em 2024, com receita de US$ 1,6 bilhão. Parte dessa produção pode voltar ao mercado interno, o que tende a pressionar os preços para baixo.
  • 🍊 Suco de laranja: Com 41,7% das exportações do setor destinadas aos EUA, a sobretaxa deve dificultar as vendas externas e criar excedente no Brasil.
  • 🛢️ Petróleo: Os EUA compraram US$ 5,8 bilhões da commodity brasileira em 2024. O setor, porém, tem maior flexibilidade para redirecionar embarques.
  • 🏗️ Ferro, aço e materiais de construção: Os EUA são o principal destino desses produtos. O excesso de oferta pode afetar preços internos e margens de lucro das indústrias.
  • ✈️ Aeronaves: O setor exportou US$ 2,4 bilhões para os EUA em 2024 (63% do total). A redução de encomendas pode afetar empregos e produção.
  • 🌳 Celulose e madeira: O mercado americano absorve 40% da madeira brasileira exportada. Empresas com presença global, como a Suzano, podem mitigar impactos.
  • ⚙️ Máquinas e eletrônicos: Com mais de 60% das exportações do setor indo para os EUA, a perda de competitividade pode reduzir receita e afetar o setor de tecnologia.

Empresários norte-americanos reagem

A decisão de Trump já provocou reação de entidades empresariais dos EUA. Em nota conjunta, a U.S. Chamber of Commerce e a Amcham Brasil alertaram que a tarifa elevará custos para famílias e empresas norte-americanas. “Produtos essenciais às cadeias produtivas e aos consumidores dos EUA ficarão mais caros, reduzindo a competitividade de setores estratégicos”, afirmaram.

As entidades pedem a abertura de “negociações de alto nível” entre os dois países para evitar a aplicação da medida. Segundo elas, mais de 6.500 pequenas empresas americanas dependem de produtos brasileiros, e 3.900 empresas dos EUA têm investimentos diretos no Brasil.

Tarifaço

A medida foi oficialmente comunicada a Lula em carta enviada por Trump e é vista como uma retaliação política após o republicano acusar o governo brasileiro de “perseguição vergonhosa” contra Jair Bolsonaro. A escalada diplomática acirra o clima entre as duas maiores economias das Américas e preocupa analistas pelo potencial impacto econômico e político bilateral.


Exportações brasileiras para os EUA em 2024:

  • Total: US$ 22 bilhões no 1º semestre
  • Café: US$ 2 bilhões (16,7%)
  • Carne bovina: US$ 1,6 bilhão (16,7%)
  • Suco de laranja: US$ 1,3 bilhão (41,7% da exportação do setor)
  • Petróleo: US$ 5,8 bilhões (13%)
  • Ferro e aço: US$ 2,8 bilhões (70% vai para os EUA)
  • Aeronaves: US$ 2,4 bilhões (63%)
  • Celulose e madeira: US$ 1,6 bilhão (40%)
  • Máquinas e eletrônicos: US$ 2,4 bilhões (60% do total do setor)

Impactos esperados:

  • Nos EUA: aumento de preços de alimentos, bebidas, papel, café, carne e derivados industriais.
  • No Brasil: queda de preços no mercado interno de café, carne e suco; dificuldades para indústrias de alto valor agregado e possível perda de empregos (reversível com abertura de novos mercados).

Medida entra em vigor em: 1º de agosto de 2025.

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