Imagens gravadas por câmeras corporais de policiais militares de São Paulo revelam que Igor Oliveira, de 24 anos, foi executado mesmo após se render durante uma operação em Paraisópolis, na zona sul da capital paulista, na última quinta-feira (10). O vídeo mostra o momento em que o jovem, desarmado e deitado no chão, é atingido por disparos fatais.
A divulgação das imagens gerou forte indignação popular, pressão sobre o governo estadual e levou à prisão de dois policiais militares, agora indiciados por homicídio doloso. Outros agentes também estão sendo processados por envolvimento na ação.
As cenas mostram Igor obedecendo a ordens dos policiais, de mãos erguidas, em pé. Um dos PMs realiza dois disparos contra ele, que cai no chão. Segundos depois, o policial pede para Igor se levantar. Enquanto se levanta, o agente faz outro disparo. Outro militar também atira em seguida. Assim que realizam os disparos, os PMs gritam “As COP, as COP, as COP”, fazendo referência às câmeras.
Em entrevista coletiva após a repercussão do caso, o porta-voz da Polícia Militar, coronel Emerson Massera, reconheceu a gravidade da conduta dos agentes: “O que a gente vê nas imagens é uma ação totalmente incompatível com os protocolos da Polícia Militar. É uma execução. Isso é inadmissível.” Massera confirmou ainda que os dois policiais que atiraram foram presos em flagrante e indiciados por homicídio doloso. Os demais PMs presentes na ação também estão sendo processados e foram afastados preventivamente de suas funções.
A morte de Igor provocou revolta na comunidade de Paraisópolis. Moradores saíram às ruas em protesto, com cartazes, faixas e palavras de ordem denunciando o que chamaram de mais um caso de violência policial e racismo institucional. “Não foi confronto, foi execução”, gritavam durante os atos, exigindo justiça e responsabilização imediata dos envolvidos.
A operação policial reacende a lembrança do massacre de 2019, quando nove jovens morreram pisoteados após uma ação da PM em um baile funk na mesma região. Organizações de direitos humanos, como a Conectas e a Anistia Internacional, denunciam a frequência com que moradores de periferias são vítimas de ações letais e desproporcionais por parte das forças de segurança.
O caso também escancara as contradições do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) em relação ao uso de câmeras corporais. Desde o início da gestão, o programa foi reduzido, enfrentou paralisações e mudanças que limitaram sua eficácia. Mesmo diante de estudos que comprovam a redução da letalidade policial com o uso dos equipamentos, o governo estadual chegou a suspender o contrato com a fornecedora das câmeras. A retomada parcial do programa só ocorreu após forte pressão do Ministério Público, da Defensoria Pública e de organizações civis.
A Corregedoria da Polícia Militar e o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) abriram investigações formais sobre o caso. Segundo nota da Secretaria de Segurança Pública, as imagens das câmeras corporais serão provas centrais no inquérito e “o caso será tratado com absoluto rigor”.
A execução de Igor Oliveira, registrada por uma tecnologia criada justamente para promover transparência e controle das ações policiais, tornou-se mais uma evidência dos limites da atual política de segurança do Estado. A mobilização popular e a pressão institucional agora se voltam para garantir que os responsáveis sejam punidos.