Campos de concentração: EUA prometem financiar estruturas em El Salvador

Após encontro entre os presidentes Trump e Bukele, dos EUA e El Salvador, norte-americanos financiarão mega prisões para imigrantes. Entenda
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Milionário de extrema direita busca apoio de El Salvador para a criação de "campos de concentração". Foto: Flickr/WhiteHouse

Em uma decisão que marca um novo revés para as promessas radicais de Donald Trump, a Justiça dos Estados Unidos determinou que o governo norte-americano não pode revogar o status legal de mais de 530 mil imigrantes oriundos de Venezuela, Cuba, Nicarágua e Haiti. Contudo, o milionário de extrema direita busca apoio de El Salvador para a criação de “campos de concentração”. Entenda na TVT News.

A ordem contra as deportações em massa foi emitida por um tribunal em Boston. A decisão protege os imigrantes que entraram legalmente no país por meio de um programa especial implementado durante a gestão de Joe Biden. A medida representa um obstáculo para Trump que tem prometido executar a maior deportação em massa da história dos EUA.

Campos de concentração

Trump encontrou ontem (14) com o presidente de El Salvador, Nayib Bukele. Os dois líderes, conhecidos por suas posturas autoritárias e alinhamento ideológico à extrema direita, trocaram elogios durante a reunião e discutiram uma possível ampliação da cooperação entre os países na área de segurança. Particularmente sobre estes “campos de concentração”.

Um dos pontos centrais do encontro foi o financiamento norte-americano para a construção de novos presídios de segurança máxima em território salvadorenho — estruturas que, segundo analistas, podem se transformar em campos de detenção de imigrantes deportados dos EUA. Desde março, mais de 200 venezuelanos já foram transferidos dos Estados Unidos para El Salvador, onde estão encarcerados em prisões originalmente destinadas a criminosos considerados de alta periculosidade.

Cenário alarmante em El Salvador

Para a analista política e professora de filosofia Biazita Gomes, especialista em geopolítica, relações internacionais e direitos humanos – e colunista do TVT News: Primeira Edição – o cenário é alarmante. “É um cenário muito preocupante. Bukele não respeita nenhum tipo de direito humano ou internacional. Essas prisões de venezuelanos não possuem qualquer respaldo jurídico nem em El Salvador ou nos EUA. Sequer no direito internacional”, afirma.

Segundo ela, o envio de imigrantes para prisões estrangeiras, como campos de concentração externos, configura uma tentativa de burlar as legislações norte-americanas. “Como Trump não pode fazer essas prisões dentro do seu país porque a legislação impede, o Judiciário americano impede isso, então vemos as tentativas de Trump de burlar leis”, alerta Gomes.

A especialista aponta que, por trás dessa manobra, está o financiamento massivo do governo norte-americano ao regime de Bukele. “O que temos é uma questão de dinheiro. Os EUA colocam muito dinheiro em El Salvador e vão passar por cima de todas as legislações internacionais. Vamos ver El Salvador se transformando em um grande campo de concentração. Ele já é assim dentro do país. 2% dos jovens estão presos, consequência de um Estado de Sítio que o país vive há dois anos. A tendência é aumentar”, explica.

Escalada autoritária

Além de El Salvador, a professora menciona com preocupação o avanço de governos autoritários em outras partes da América Latina, como o Equador, comandado por Daniel Noboa. Reeleito em meio a denúncias de irregularidades eleitorais, Noboa também decretou Estado de Sítio antes do pleito, sob a justificativa de conter a violência gerada por organizações criminosas.

“O Equador segue o mesmo caminho. Em guerra civil desde 2024, Noboa declarou Sítio no sábado que antecedeu o processo eleitoral. São dois regimes totalitários que fazem parte do que chamo de Cinturão Trumpista na América Latina. Ainda temos Paraguai e Argentina. Temos que ficar de olho nisso”, alerta Biazita Gomes.

A crescente influência de lideranças de direita radical e a cooperação internacional para contornar legislações protetivas de direitos humanos acendem o alerta de organizações internacionais e defensores das liberdades civis. O temor, como diz Biazita, é que estejamos assistindo à construção de um “filme distópico acontecendo na realidade”.

Assista ao TVT News: Primeira Edição na íntegra

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