Campus Rosário do Sul do IFSul: Um monumento à luta teimosa do povo

Campus Rosário do Sul do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) foi o coroamento de três anos de luta popular
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Tudo começou em setembro de 2022, quando um grupo de educadores, estudantes e lideranças locais se reuniu para sonhar alto: trazer para Rosário do Sul o primeiro campus do IFSul. Foto: Reprodução

Por Eliézer Oliveira, professor de filosofia no campus Santana do Livramento do IFSul

No dia 15 de outubro de 2025, data em que o Brasil celebra seus professores, o Diário Oficial da União trouxe uma notícia que emocionou uma cidade inteira: a criação do Campus Rosário do Sul do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul). Era o coroamento de três anos de luta popular, persistente, criativa e profundamente democrática, uma das mobilizações mais bonitas e simbólicas do país em defesa da educação pública. Veja mais na TVT News.

Membros da mobilização em prol da criação do campus Rosário do Sul fizeram questão de ir até o Hospital Nossa Senhora Auxiliadora, no dia seguinte do anúncio oficial, somente para registrar a primeira rosariense a nascer numa cidade dotada de campus. Ana Alice Pujol Severo se tornou na mascota da mobilização rosariense e seus pais ficaram muito contentes em saber que ela comemorará o seu aniversário juntamente com o campus Rosário do Sul do IFSul.

Tudo começou em setembro de 2022, quando um grupo de educadores, estudantes e lideranças locais se reuniu para sonhar alto: trazer para Rosário do Sul o primeiro campus acadêmico federal de sua história. Daquela conversa nasceu o grupo “O IF é Nosso”, que logo se transformou num movimento social com centenas de participantes e um mesmo propósito: garantir oportunidades de futuro para a juventude rosariense.

Desde o início, o grupo acreditava que a vitória de Lula nas eleições abriria um novo ciclo de expansão da Rede Federal, como nos governos anteriores. Assim, começaram cedo a se organizar, convictos de que a esperança precisa de planejamento e de que a luta popular move montanhas.

Campus Rosário do Sul do IFSul: epopeia popular

O que veio depois foi uma verdadeira epopeia popular. Audiências públicas lotadas, reuniões em escolas e sindicatos, faixas, cartazes, abaixo-assinados, canecas, camisetas, vídeos e músicas, como o hino “Vamu Rosário”, símbolo da mobilização. Deputados de vários partidos, prefeitos, artistas e intelectuais gaúchos aderiram à causa, entre eles o Padre Júlio Lancellotti e a atriz Leona Cavalli.

Em março de 2024, a cidade viveu um momento de frustração: Rosário do Sul não apareceu entre os cem municípios contemplados na nova expansão dos Institutos Federais. Mas, em vez de desânimo, surgiu a palavra de ordem que reacendeu a luta: “Rosário do Sul é o lugar do campus 101.” O card com essa frase circulou imediatamente entre servidores do MEC e da SETEC, tomou as redes sociais e virou estampa de camisetas. A luta, mais uma vez, se reinventava.

Nos momentos difíceis, o povo lembrava o conselho de Dona Lindu a Lula: “Teima, teima, meu filho.” Lula teimou e virou presidente. Rosário do Sul teimou e conquistou o seu campus.

A teimosia tomou forma em caravanas para Porto Alegre e Brasília, em cartas de apoio, visitas a ministros e secretários, campanhas virtuais e mobilizações de rua. Comunidades quilombolas, assentamentos da reforma agrária, sindicatos dos trabalhadores,  associações, escolas e movimento estudantil  se uniram na mesma voz: “A educação é a nossa praia” – em alusão à Praia Fluvial das Areias Brancas que banha a cidade. E até mesmo o rosariense Luiz Inácio, de 2 anos de idade, participou como mascote das atividades da mobilização rosariense.

O município agora se prepara para doar o espaço onde funcionará o novo campus, um conjunto de prédios que será reformado e adaptado para abrigar um centro de ciência, arte, pesquisa e cidadania. Será o primeiro campus acadêmico em 149 anos de história de Rosário do Sul, uma conquista que muda o destino da cidade e amplia o horizonte da Campanha Gaúcha.

O caminho até aqui foi marcado por gestos simbólicos. Em dezembro de 2023, o grupo plantou um tarumã na Praça Borges de Medeiros que no dizer de João Simões Lopes Neto é árvore nativa símbolo do gaúcho: de tronco firme contra o machado e contra o raio e copa generosa para a acolhida das abelhas e pombas. Tal escolha quis representar o campus como a educação que brota desta terra pampeana,  resiste aos poderosos e acolhe e protege em si os pequenos. O povo e pessoas vindas de outras paragens regavam o tarumã com águas trazidas de Pelotas, Porto Alegre, Brasília e Rivera, como quem nutre um sonho local com o apoio de muitos outros lugares.

Durante três anos, Rosário do Sul viveu um laboratório de cidadania. A mobilização foi suprapartidária e solidária, envolvendo estudantes e aposentados, professores e agricultores, comerciantes e artistas. Tornou-se exemplo nacional de engajamento popular pela educação pública. O IFusca, um fusquinha valente e barulhento, desses que parecem mover-se mais pela vontade do que pela gasolina, tornou-se símbolo da teimosia rosariense: popular, simples e resistente como o povo que o guiava, ele cruzava as ruas da cidade enfeitado de faixas, adesivos e banners do Instituto Federal, buzinando esperança e convocando com  a sua caixa de som a cada morador, rua por rua, a somar-se à luta pelo campus, juntando o ronco de seu motor ao hino da mobilização coletiva que canta: Vamu Rosário!

E foi essa força coletiva que comoveu o país. Quando, em 15 de outubro de 2025, o MEC publicou a Resolução CGPAC nº 11, oficializando o campus, a cidade amanheceu em festa. O rádio tocava “Vamu Rosário”, as redes sociais transbordavam de alegria e as pessoas sorriam umas às outras nas ruas, partilhando o sentimento de que sonhar junto vale a pena.

A criação do Campus Rosário do Sul é mais que a chegada de uma instituição — é o reconhecimento de um povo que transformou sonho em política pública, resilência em força coletiva e esperança em realidade.

Rosário do Sul não apenas ganhou um campus. Ganhou um símbolo e a certeza de que, quando o povo se organiza e não desiste, nenhuma força é capaz de impedir o florescimento da educação. A conjunção de um governo federal que valoriza a educação pública, gratuita, transformadora e de qualidade e que também valoriza a mobilização social não podia ter outro desfecho diferente deste consagrado pelo anúncio oficial da criação do Campus Rosário do Sul do IFSul.

E assim como Lula ouviu de sua mãe:
“Teima, teima, meu filho,”
Rosário ouviu de seu próprio coração:
“Teima, teima, meu povo.”
E teimando, fez história.

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