Carnaval 2025: “Exu-Mulher” é tema da Escola Pérola Negra

Samba é baseado em "Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô", escrito por Claudia Alexandre, que ganhou o Prêmio Jabuti Acadêmico 2024
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Cláudia Alexandre, autora do livro "Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô" que inspirou o samba-enredo. Foto: Acervo Pessoal/Reprodução

A Escola de Samba Pérola Negra levará para o Carnaval de SP, no Sambódromo do Anhembi, o enredo “Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô”, inspirado no livro com o mesmo título da jornalista e pesquisadora Cláudia Alexandre. Conheça Exu-Mulher e os bastidores da Pérola Negra na TVT News.

O desfile da escola de samba localizada na Vila Madalena acontece no sábado (22) e as entradas para as arquibancadas são gratuitas. A avenida vai abrir às 18h30 com Liga do Amanhã (Desfile Mirim), já a Pérola deve descer às 23h20.

Livro sobre Exu-Mulher

A obra, que recebeu o Prêmio Jabuti Acadêmico 2024, maior prêmio literário brasileiro para pesquisadores acadêmicos, mergulha nas complexidades do orixá Exu e na importância do matriarcado nas tradições afro-brasileiras.

Lançado pela Editora Aruanda/Fundamentos de Axé em 2023, “Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô” desafia a masculinização e demonização do orixá Exu na diáspora africana, trazendo à tona sua representação feminina. Claudia Alexandre aprofunda-se na resistência das mulheres negras na preservação das tradições afro-brasileiras, revelando as tensões e negociações que ocorrem nos terreiros liderados por mulheres em Salvador.

A autora aponta que, historicamente, a presença feminina de Exu foi ocultada no Brasil devido às imposições coloniais e ao racismo religioso. Segundo ela, havia resistência, por parte de antigas lideranças, em iniciar filhos e filhas deste orixá, muitas vezes trocando-o por Ogum para evitar estigmas. Esse silenciamento é uma consequência das opressões contra práticas negro-africanas.

“Fui recebida com surpresa nos terreiros que visitei para a pesquisa sobre a existência de cultos ao feminino de Exu. Em alguns terreiros de candomblé, alguns negavam ou diziam desconhecer”, explica Claudia sobre o que percebeu no início da pesquisa. 

O apagamento da figura religiosa se decorreu do machismo impregnado na cultura europeia responsável pela escravização dos povos africanos e da colonização brasileira. “Exu-Mulher não é um elemento isolado; ela denuncia consequências da invasão na África para a escravização negra e como homens e mulheres foram atingidos no seu sistema de crença e na forma de ver o mundo”, enfatiza a pesquisadora.

Atualmente há diversos debates sobre a representação feminina na sociedade e na história — o enredo da Pérola Negra é um exemplo disso. Mas a pesquisadora alerta que “porém isso não significa que vá ocorrer mudanças em cultos tradicionais, que, desde o início, concebem Exu masculino”.

A montagem do enredo sobre Exu-Mulher no Carnaval de 2025

A ideia do enredo surgiu de uma conexão espontânea do carnavalesco Rodrigo Meiners com o livro. “Eu estava lendo e não havia pensado em transformá-lo em enredo. Até que, ao assistir ao desfile da Mocidade Unida da Mooca, que homenageou Helena Theodoro, percebi que Claudia Alexandre havia participado do desfile. Fui pesquisar sobre ela e descobri que, além de escritora, é apaixonada pelo carnaval e autora de um livro sobre o Vai-Vai”, afirmou Meiners.

O carnavalesco também disse que o livro tem forte relação com a Pérola Negra, “uma escola de nome feminino, que tem uma mulher presidente”. Meiners montou a ideia e apresentou a Claudia, que entendeu como uma celebração aos 39 anos de carreira trabalhando na cobertura de carnaval e pesquisadora.

“Além de emocionada, estou tão ansiosa quanto fico quando vou entrar ao vivo para narrar ou comentar um desfile”, declarou emocionada a autora.

O desfile da Pérola Negra acontecerá no dia 22 de fevereiro de 2025, às 23h30, pelo Grupo de Acesso 2 do Carnaval de São Paulo, no Sambódromo do Anhembi.

Sobre Claudia Alexandre

Claudia Alexandre é jornalista, comunicadora de rádio e TV, doutora e mestre em Ciência da Religião pela PUC-SP. Pesquisadora das relações entre raça, gênero e religiosidades de matrizes africanas, Claudia também é sacerdotisa umbandista e Ebomi de Oxum no candomblé nagô-vodunsi.

Seu livro “Orixás no Terreiro Sagrado do Samba: Exu e Ogum no Candomblé da Vai-Vai” também é referência na área. Não é a primeira vez que uma obra de Claudia inspira um enredo de carnaval. Em 2009, o livro “Na Fé de Vivaldo de Logunedé” inspirou a Vila Nova, de Santos. Agora, a emoção se repete com a Pérola Negra: “Exu-Mulher vai reinar na festa do carnaval, unindo os meus grandes temas de pesquisa: os terreiros sagrados, suas ancestralidades e experiências civilizatórias negras”, celebra a autora.

A expectativa para o desfile é alta, com a escola e sua comunidade empolgadas pela força do enredo e pelas recentes conquistas no carnaval paulistano. Pérola Negra promete emocionar o público e exaltar o poder e os mistérios de Exu-Mulher na avenida.

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