Chilli Beans abandona dólar e passa a negociar com China em renminbi

A empresa anunciou que não utilizará mais o dólar em suas transações com a China. Segundo o fundador, a empresa já usa o renminbi
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A mudança ocorre em meio à intensificação da guerra comercial dos Estados Unidos contra o mundo, particularmente contra a China e o Brics. Foto: Reprodução

A marca brasileira Chilli Beans anunciou que não utilizará mais o dólar em suas transações com a China. Segundo o fundador e CEO, Caito Maia, a empresa já começou a pagar seus fornecedores chineses diretamente em renminbi, a moeda oficial do país asiático, e pretende manter essa prática de forma permanente. Entenda na TVT News.

“De forma alguma é uma estratégia pontual. Queremos continuar mantendo esta prática. A ideia é que o uso do dólar não volte nunca mais”, afirmou Maia, em entrevista à revista Exame.

A mudança ocorre em meio à intensificação da guerra comercial dos Estados Unidos contra o mundo e reflete um movimento de adaptação da companhia às novas dinâmicas do comércio internacional. De acordo com Maia, a alteração na moeda de negociação trouxe ganhos financeiros significativos, permitindo que a Chilli Beans se posicione de forma mais competitiva no mercado global.

“Queremos fazer todas as transições diretamente com a China: em termos de moeda, compra, comércio, tudo”, disse o executivo. Ele destacou que a relação com o país asiático é de longa data. “Há 30 anos somos ‘apadrinhados’ pelo mercado chinês. Fomos apresentados às fábricas e temos os mesmos parceiros há 25 anos. É uma relação comercial extremamente ganha-ganha, saudável, ética e bacana. A Chilli Beans está onde está porque a China nos ajudou e acreditou em nós.”

Novos mercados e parceria com a China

Além de fortalecer os laços comerciais com a China, a Chilli Beans vem investindo na expansão para outros mercados asiáticos. A empresa já opera na Indonésia, com 10 pontos de venda, e pretende ampliar sua presença no país.

A estratégia faz parte de um plano ambicioso de crescimento: alcançar 3.200 lojas nos próximos cinco anos, o que representa dobrar o número atual de unidades. Entre as iniciativas previstas está o Eco Chilli, projeto que levará contêineres sustentáveis para cidades com menos de 50 mil habitantes.

Para Maia, a aposta na diversificação de mercados e no fortalecimento das parcerias asiáticas é fundamental para o futuro da marca. “Essa é a direção que queremos seguir: mais autonomia, mais competitividade e mais conexão direta com quem produz para nós.”

Contexto China, Brasil e EUA

Nos últimos meses, o Brasil tem intensificado, no âmbito dos BRICS, esforços para reduzir a dependência do dólar nas trocas comerciais, favorecendo mecanismos que permitam liquidações diretas em moedas locais e a modernização dos sistemas de pagamentos transfronteiriços.

A presidência brasileira do bloco em 2025 privilegiou a construção de infraestrutura de pagamentos, iniciativas como o chamado “BRICS Pay” ou arranjos bilaterais para compensação em moedas nacionais, em vez de perseguir, no curto prazo, uma moeda comum do grupo. Essa opção é apresentada oficialmente como uma medida técnica para baratear e desburocratizar o comércio entre os membros, mas também ganha contornos geopolíticos ao reduzir a exposição de países emergentes ao sistema financeiro dominado pelo dólar.

O movimento brasileiro pelo uso ampliado de moedas locais ocorre em um momento de tensão com os Estados Unidos: na esteira de uma escalada diplomática recente, o governo dos EUA anunciou tarifas de 50% sobre determinados produtos brasileiros, uma medida que analistas interpretam como alinhada a pressões políticas em apoio a figuras da direita brasileira e que, segundo reportagens, contou com apelos e articulações vindos de membros da família Bolsonaro junto a atores políticos norte-americanos.

Essas tarifas reforçam a narrativa, dentro de setores do governo e do empresariado brasileiro, de que diversificar parceiros e meios de pagamento (por exemplo, operações diretas em renminbi com fornecedores chineses) é também uma estratégia de proteção econômica e política.

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