China anuncia R$ 52 bi em investimentos na América Latina

A China firmou parceria com a comunidade latino-americana e caribenha, Celac, além de abrir cinco mercados com o Brasil. Entenda
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A China anunciou hoje (13) uma série de medidas para aprofundar os laços com a América Latina e o Caribe. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Em uma demonstração de diplomática e interesse no desenvolvimento das nações, a China anunciou hoje (13) uma série de medidas para aprofundar os laços com a América Latina e o Caribe, incluindo uma linha de crédito de 66 bilhões de yuans (cerca de R$ 52 bilhões) para financiar projetos de desenvolvimento nos países da região. Entenda na TVT News.

Ontem, o gigante asiático já havia anunciado investimentos na ordem de R$ 27 bilhões apenas no Brasil. Já hoje, Brasil e China assinaram mais de 30 atos e parcerias de financiamentos para aos setores de infraestrutura, sustentabilidade, energia e saúde.


“O presidente Xi e eu também conversamos sobre mobilização de financiamento para projetos de infraestrutura, sustentabilidade e energia”, disse Lula em coletiva hoje, ao lembrar a visita feita, há algumas semanas, por uma missão chinesa para avaliar “oportunidades de investimento” em infraestrutura, no âmbito das Rotas de Integração Sul-Americana.


China e Celac

O anúncio da parceria latin-americana foi feito pelo presidente chinês Xi Jinping durante o IV Fórum Ministerial China-Celac, que marca os dez anos da parceria entre o gigante asiático e os países latino-americanos e caribenhos. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou do evento em Pequim.

Em seu discurso de abertura, Xi Jinping reforçou o apoio da China ao “caminho de desenvolvimento próprio” dos países da região e condenou a interferência externa em seus assuntos internos, em uma crítica velada à influência dos Estados Unidos e suas políticas agressivas contra a comunidade internacional. “Apoiamos a América Latina na proteção de sua soberania e independência”, afirmou o líder chinês.

Parceiros da China

O plano de cooperação apresentado por Xi está estruturado em cinco grandes eixos até 2028:

  1. Unidade e coordenação política: fortalecimento dos laços entre os países por meio de intercâmbio entre partidos, visitas diplomáticas e alinhamento estratégico em questões internacionais. Estão previstas 300 visitas anuais de representantes políticos dos países da Celac à China.
  2. Integração econômica e tecnológica: além da linha de crédito bilionária, a China se comprometeu a ampliar importações de produtos latino-americanos e a incentivar investimentos chineses na região. A agenda inclui cooperação em setores como infraestrutura, energia, mineração, agricultura e áreas emergentes como 5G, inteligência artificial e economia digital.
  3. Cultura e patrimônio: está prevista a realização de um Festival de Arte Latino-Americana e iniciativas de pesquisa conjunta sobre civilizações antigas e combate ao tráfico de bens culturais.
  4. Segurança e combate ao crime organizado: a China promete apoiar os países da Celac com treinamentos policiais, equipamentos e ações conjuntas em áreas como combate ao terrorismo, segurança cibernética e controle de drogas.
  5. Educação e intercâmbio: até 2028, serão oferecidas 3.500 bolsas de estudo, 10 mil oportunidades de treinamento, 500 bolsas para professores de chinês, além de vagas no programa “Ponte Chinesa”, voltado ao ensino da cultura e língua chinesa.

Xi também anunciou a isenção de vistos para cidadãos de cinco países da América Latina e Caribe — os nomes dos países ainda não foram revelados.

Brasil conquista novos mercados para o agro

A visita de Lula à China também rendeu frutos imediatos para o agronegócio brasileiro. Durante cerimônia no Grande Palácio do Povo, em Pequim, foram assinados três novos acordos bilaterais entre os dois países. O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, e a Administração-Geral de Aduanas da China (GACC) formalizaram a abertura de cinco novos mercados para exportações brasileiras: carne de pato, carne de peru, miúdos de frango (como coração e fígado), farelo de amendoim e subprodutos da indústria do etanol de milho (DDG e DDGS).

“É uma conquista histórica. Pela primeira vez, conseguimos abrir cinco novos mercados simultaneamente com a China, o que é reflexo da confiança e da solidez da nossa parceria”, afirmou Fávaro.

A estimativa do Ministério da Agricultura é de que as novas exportações representem impacto superior a R$ 1 bilhão em receita cambial. De acordo com dados da aduana chinesa, apenas em 2024 a China já importou cerca de US$ 155 milhões em miúdos de frango e US$ 66 milhões em derivados do etanol de milho do Brasil.

O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, celebrou o avanço: “É um impulso significativo para o setor. A abertura dessas três novas proteínas pode abrir caminho para novos investimentos e geração de empregos.”

Além disso, foi assinado um Memorando de Entendimento sobre medidas sanitárias e fitossanitárias, com o objetivo de fortalecer a segurança alimentar e facilitar o comércio bilateral com mais transparência e previsibilidade.

Diplomacia estratégica

O encontro em Pequim reforça o papel da China como principal parceiro comercial do Brasil — destino de mais de 30% das exportações brasileiras — e destaca o esforço chinês de consolidar influência política e econômica na América Latina diante das tensões geopolíticas com os Estados Unidos.

Com o fórum ministerial, a China não apenas aprofunda sua presença econômica na região, mas também busca se posicionar como parceira ideológica e diplomática de países que, como o Brasil, defendem um mundo multipolar e menos dependente das potências ocidentais.

Ao celebrar os dez anos do mecanismo China-Celac com propostas concretas, a China sinaliza que a próxima década pode ser marcada por um novo ciclo de cooperação Sul-Sul — em que infraestrutura, segurança alimentar, tecnologia e educação estão no centro da disputa global por corações, mentes e mercados.

Com informações do Mapa/GovBR

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