Cientistas estudam se o aquecimento global está acelerando

2023 e 2024 quebraram reordes de calor em uma velocidade assustadora. No ano passado, a temperatura pode ter ultrapassado "limite crítico"
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Embora as causas do aumento de temperatura em 2024 ainda estejam sendo debatidas, o episódio destaca a urgência de ações climáticas contra o aquecimento global. Foto: Fernando Frazão/ABr

Cientistas do clima anunciarão, de acordo com a revista científica Nature, que a temperatura da Terra ultrapassou 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais em 2024. Essa elevação, considerada um limite crítico para evitar impactos climáticos catastróficos, levanta questões urgentes sobre o aquecimento global e as mudanças climáticas.

A principal pergunta é se este pico seria um evento isolado ou um indício de que o planeta está aquecendo mais rápido do que o previsto, uma vez que, 2023 e 2024 quebraram reordes de calor em uma velocidade assustadora.

A questão foi tema central de vários estudos e de uma sessão na reunião da União Geofísica Americana (AGU), realizada no mês passado na capital norte-americana, Washington. Dois fatores foram amplamente citados para explicar o fenômeno, de acordo com o consenso dos presentes.

O primeiro é o evento El Niño, iniciado em meados de 2023, que traz águas mais quentes ao Pacífico tropical, frequentemente associadas a temperaturas globais mais altas e climas turbulentos. O segundo é a redução na poluição do ar nos últimos anos, que anteriormente ajudava a refletir parte da radiação solar de volta ao espaço.

O fenômeno de aquecimento do Pacífico foi um dos mais intensos da história e contribuiu para cenários climáticos extremos. No Brasil, secas históricas no Norte, queimadas no Pantanal e até mesmo as tempestades que castigaram o Rio Grande do Sul em maio do ano passado. Agora, o regime climático do El Niño arrefeceu. O planeta agora entra em um ciclo oposto, o La Niña, caracterizado pelo resfriamento das águas.

Embora relevantes, muitos cientistas ressaltam que esses fatores não parecem explicar completamente o aumento de temperatura. Entre as hipóteses, inclusive, a de que o próprio aquecimento global tenha contribuído de forma efetiva para a força extraordinária do El Niño.

Aquecimento global acelerado

Um estudo publicado na revista Science em dezembro identificou uma redução significativa na cobertura de nuvens baixas em partes do hemisfério norte e dos trópicos. Essa diminuição, combinada com o El Niño, foi suficiente para explicar o pico de temperatura em 2023.

No entanto, as causas dessa redução permanecem um mistério. Não parece ser apenas fruto da diminuição da poluição do ar, sugerindo que o próprio aquecimento global pode estar contribuindo para a redução da cobertura de nuvens. Isso poderia criar um ciclo vicioso, acelerando as mudanças climáticas nas próximas décadas.

“Eu seria muito cauteloso em dizer que isso é uma evidência clara de aceleração, mas pode haver algo acontecendo”, afirma em entrevista à revista Nature Helge Goessling, físico do clima no Instituto Alfred Wegener, na Alemanha.

Picos preocupantes

A preocupação dos cientistas está no fato de que 2023 já foi um ano extraordinariamente quente, com uma média de 1,45 °C acima do nível pré-industrial, ultrapassando recordes anteriores. Esse nível de aquecimento está fora do que era previsto com base em tendências e modelos anteriores. O esperado era que as temperaturas caíssem após o enfraquecimento do El Niño no meio de 2024, quando o regime entrou em estabilidade, rumando para o La Niña. Contudo, isso não aconteceu.

Hipótese alternativa

Uma hipótese alternativa sugere que o pico pode ser um fenômeno temporário, influenciado por novas regras para emissões de enxofre de navios implementadas em 2020 pela Organização Marítima Internacional. Essa regulação exigiu uma redução de 80% nas emissões de enxofre, que anteriormente contribuíam para a formação de nuvens baixas. Imagens de satélite mostram uma clara redução nas trilhas de navios, correlacionando-se com a diminuição na cobertura de nuvens identificada por Goessling e sua equipe.

Embora as causas do aumento de temperatura em 2024 ainda estejam sendo debatidas, o episódio destaca a urgência de ações climáticas contra o aquecimento global. Se o cenário atual indicar uma tendência acelerada, os desafios para mitigar os impactos serão ainda maiores. Após impasses na última reunião de cúpula da COP 29, no Azerbaijão, os olhos do mundo estão voltados para o Brasil, que sedia, no fim deste ano, a COP 30. A expectativa é da realização de novos acordos eficazes para enfrentar e mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

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