Uma misteriosa mancha de água fria no Atlântico Norte, também chamada de “bolha fria” ou “buraco de aquecimento”, que influencia no clima global, tem intrigado a comunidade científica internacional há décadas. Localizada a sudeste da Groenlândia, essa área contrasta com o aquecimento generalizado dos oceanos e pode ser sinal de um fenômeno de proporções globais: o enfraquecimento da Circulação Meridional do Atlântico (AMOC, na sigla em inglês) — um sistema fundamental para a regulação do clima no planeta. Entenda na TVT News.
Enquanto a maior parte dos oceanos aquece, essa anomalia térmica vem registrando temperaturas abaixo do esperado desde 1901, segundo dados consolidados até 2021. Diversas hipóteses já foram levantadas para explicar o fenômeno, como o derretimento das calotas polares do Ártico, a poluição gerada por embarcações que impactaria a reflexão da luz solar, e, mais recentemente, a hipótese mais alarmante: a desaceleração da AMOC.
“Neste momento, o Hemisfério Norte é mais quente do que seria se as correntes que compõem a AMOC fossem mais fracas”, explicou Maya Ben-Yami, pesquisadora da Universidade Técnica de Munique, em entrevista à revista Live Science.
O que é a AMOC e por que ela importa?
A AMOC funciona como uma gigantesca esteira oceânica que transporta água quente dos trópicos em direção ao Norte, onde essa água libera calor e afunda, iniciando um ciclo que movimenta massas oceânicas ao redor do mundo. Esse mecanismo ajuda a manter países como Noruega e Reino Unido até 15°C mais quentes, em média, do que seriam sem sua atuação.
Mas esse delicado equilíbrio está sendo ameaçado. O derretimento do gelo do Ártico, intensificado pelas mudanças climáticas, dilui a salinidade da água do mar, tornando-a menos densa e, portanto, menos propensa a afundar e continuar o ciclo. Isso reduz a capacidade da AMOC de redistribuir calor — e pode gerar um efeito cascata de enfraquecimento.
“Se você começa a enfraquecer a AMOC, menos água salgada entra no Atlântico Norte, o que por sua vez enfraquece ainda mais a AMOC. É um processo em espiral”, explicou David Thornalley, cientista do clima e oceanógrafo do University College London.

Consequências globais e risco para a Amazônia
O colapso completo da AMOC ainda é considerado improvável, mas um enfraquecimento significativo já pode mudar radicalmente o clima em diferentes regiões. Entre os efeitos possíveis estão:
- Invernos mais rigorosos na Europa
- Secas prolongadas e colapso do regime de chuvas na Amazônia
- Elevação do nível do mar na costa leste dos EUA
- Desestabilização do vórtice polar no Ártico, que regula o frio no Hemisfério Norte
“Uma redução de 50% na força da AMOC teria um impacto substancial no clima regional”, afirmou Matthew Marsh, cientista climático. “Mesmo uma redução de 10% já tornaria nossos invernos menos amenos.”
A Amazônia, segundo os cientistas, corre risco de sofrer savanização ou até desertificação em partes de seu território, caso o regime de chuvas mude drasticamente. A floresta, que depende da umidade transportada pelos ventos do Atlântico, pode enfrentar danos irreversíveis.
Entre dados e incertezas
Apesar das evidências crescentes, ainda não há consenso sobre o grau de enfraquecimento da AMOC. Os registros diretos só existem desde 2004, e os demais estudos se baseiam em “impressões digitais climáticas”, como variações em temperaturas, ventos e salinidade.
Essa limitação gera resultados contraditórios: enquanto estudos de 2018 apontam para um declínio acentuado, outras análises, como uma publicada em janeiro deste ano, não observaram mudanças significativas nos últimos 60 anos. Ainda assim, a maioria dos especialistas acredita que o enfraquecimento é real e deve continuar ao longo do século XXI.
“Mesmo que a AMOC não entre em colapso, ela não precisa desaparecer para provocar o caos”, alertou Marsh. “O futuro do nosso clima — e da nossa sociedade — pode depender dessas correntes.”
Uma urgência silenciosa
À medida que o planeta aquece, o risco de mais água doce fluindo para o Atlântico Norte aumenta, alimentando um ciclo de enfraquecimento. Esse processo pode afetar desde tempestades no Hemisfério Norte até a produção agrícola em várias regiões do globo.
O “buraco de aquecimento” no Atlântico Norte, antes uma curiosidade científica, tornou-se um alerta global. Monitorar essa anomalia e compreender suas causas e efeitos é agora uma prioridade para a ciência climática. “Precisamos acompanhar essas mudanças de perto. O futuro do clima global pode depender disso”, concluiu Ben-Yami.
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