O mais recente levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) — “Brasil: indicadores socioeconômicos selecionados, séries históricas de 1995 a 2024” — apresenta um retrato detalhado de como as bases macroeconômicas e fiscais do país evoluíram nas últimas décadas, e principalmente, como registraram expressiva melhora durante os governos do presidente Lula. Após destacar a recuperação social recente, o relatório também mostra que o Brasil chega a 2024 com contas externas robustas, dívida controlada e retomada do investimento público em ciência e tecnologia. Leia em TVT News.
Reservas elevadas e dívida externa negativa
Um dos pontos mais relevantes do documento é a situação das contas externas brasileiras. As reservas internacionais líquidas atingem US$ 329,7 bilhões em 2024 — valor semelhante ao de 2023 e muito superior ao observado no final dos anos 1990, quando o país mantinha apenas US$ 51,8 bilhões em reservas.

Esse acúmulo contribui para outro dado positivo: a dívida externa líquida, que se mantém negativa em cerca de US$ 12,6 bilhões. Em termos práticos, o Brasil é credor líquido do restante do mundo — uma situação inversa à da década de 1990, quando o país devia mais de US$ 90 bilhões ao exterior. Segundo o Dieese, esse cenário “confere maior segurança financeira e reduz a vulnerabilidade cambial”, ao mesmo tempo em que dá margem para políticas voltadas ao crescimento interno.

Dívida pública controlada e melhora fiscal
O estudo mostra também que a dívida líquida do setor público (DLSP) representa 61,5% do PIB em 2024, valor próximo ao do início dos anos 2000 e abaixo do patamar atingido durante a pandemia, quando o índice superou 70% em alguns trimestres. O resultado é reflexo de uma gestão fiscal mais equilibrada, com o resultado primário (receitas menos despesas não financeiras) marcando déficit de apenas 0,4% do PIB neste ano — número bem inferior ao de 2016, quando o rombo chegou a cerca de 2% do PIB.
Esses dados indicam que o país recupera gradualmente a capacidade de investimento público sem recorrer ao endividamento excessivo. As despesas da União com pessoal e encargos, por exemplo, permanecem estáveis em 3,1% do PIB, patamar inferior ao de 1995 (4,8%) e similar ao observado nos anos anteriores.
Queda da taxa básica de juros e alívio nas contas
A taxa básica de juros (Selic) — instrumento central da política monetária — caiu de 13,8% ao ano em 2019 para 12,3% em 2024, consolidando a tendência de redução iniciada após o pico de 14,3% em 2011. Essa diminuição tem reflexo direto sobre o custo da dívida: as despesas com juros da dívida pública, que chegaram a R$ 855,2 bilhões (a preços de dezembro de 2024), seguem altas, mas o Dieese ressalta que a tendência é de descompressão gradual, favorecida por um ambiente de inflação sob controle e expansão moderada do crédito.
Para efeito de comparação, o relatório observa que, em 2024, os gastos com o Bolsa Família ficaram em torno de R$ 168 bilhões — o equivalente a apenas um quinto do montante gasto com o serviço da dívida. O contraste, destaca o Dieese, evidencia o peso das políticas de juros altos sobre o orçamento público.
Mais recursos para ciência, inovação e tecnologia
O Dieese também chama atenção para o aumento expressivo das despesas federais com ciência e tecnologia, que saltaram para R$ 15 bilhões em 2024 — o maior valor desde o início da série em 2000, quando o investimento era de apenas R$ 5,2 bilhões. A recuperação começou em 2023 e representa uma inversão da tendência de queda observada durante os governos Temer e Bolsonaro, quando os gastos haviam recuado para R$ 9,1 bilhões em 2019.

Esses recursos são considerados estratégicos para inovação, produtividade e geração de empregos qualificados. O estudo aponta que, historicamente, períodos de ampliação do investimento em ciência e tecnologia coincidem com ganhos salariais e melhora da renda.
Estabilidade monetária e câmbio sob controle
A inflação medida pelo INPC ficou em 4,8% em 2024, uma das menores variações dos últimos dez anos, e a taxa de câmbio se manteve em torno de R$ 5,39 por dólar, com pequena valorização em relação a 2023. O Dieese destaca que essa estabilidade cambial é resultado direto da combinação entre reservas robustas e inflação moderada — fatores que reduzem pressões externas sobre os preços internos.

Um país com bases mais sólidas
O conjunto dos dados analisados pelo Dieese revela que o Brasil encerra 2024 com fundamentos macroeconômicos mais sólidos: dívida estável, reservas elevadas, juros em queda e inflação controlada. Ao mesmo tempo, há recomposição dos investimentos públicos e avanços sociais, como mostram os indicadores de renda, emprego e segurança alimentar abordados na primeira nota.
Para o instituto, esse cenário sinaliza “a reconstrução de um modelo que alia responsabilidade fiscal, investimento produtivo e distribuição de renda” — um caminho, segundo o Dieese, essencial para garantir crescimento com justiça social e soberania nacional.