O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou hoje (8) de uma cerimônia para lembrar a tentativa de golpe de Estado de bolsonaristas no dia 8 de janeiro de 2023. Naquele dia, uma multidão de apoiadores do ex-presidente inelegível, Jair Bolsonaro, invadiu Brasília, atacou e destruiu instalações dos Três Poderes, incluindo obras de arte e peças de valor inestimável do acervo nacional. Então, além de devolver as obras restauradas aos brasileiros, autoridades participaram nesta manhã de um abraço simbólico em defesa da democracia.
O objetivo dos bolsonaristas era impedir que Lula, eleito nas urnas, assumisse a presidência pela terceira vez. Mas perderam. “Ainda estamos aqui para dizer em alto e bom som. Ditadura nunca mais. Democracia sempre”, disse o presidente, em referência ao filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, que conta a história de Rubens Paiva, desaparecido nas mãos da ditadura civil-militar (1964-1985), e sua esposa Eunice Paiva. A atriz Fernanda Torres ganhou o Globo de Ouro por interpretar Eunice.
Ditadura essa que apoiadores de Bolsonaro defendem e tentaram retomar, sem sucesso. Parte dos planos dos golpistas, inclusive, era assassinar Lula, o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, e o vice-presidente Geraldo Alckmin. Lula lembrou do caso que veio à luz após intensa investigação da Polícia Federal (PF), e evocou Moraes a aceitar seu apelido carinhoso: Xandão.
“Junto com Xandão e o companheiro Alckmin, escapei de um atentado de um bando de aloprados que acharam que não precisavam deixar a presidência depois do resultado das eleições. E acharam que seria fácil tomar o poder. Se a tentativa de golpe tivesse dado certo, fico imaginando o que aconteceria nesse país. Se queriam matar presidente do STF, vice-presidente e presidente da República, não queriam que continuassem ninguém”, disse.
Democracia venceu
Eu seu discurso, Lula destacou que a derrota dos bolsonaristas representou a vitória da democracia e que esta segue inabalável. “Quero falar em alto e bom som. Ainda estamos aqui. Estamos aqui para dizer que a democracia está viva, ao contrário do que planejavam os golpistas do 8 de janeiro de 2023. Estamos aqui, mulheres e homens, independente de crença, partido ou ideologia, em torno de uma causa comum”, disse.
“Se estamos aqui é porque a democracia venceu. Se não tivesse vencido, muitos aqui estariam presos, exilados ou mortos, como aconteceu no passado. Não permitiremos que isso aconteça outra vez. Se podemos expressar ideias é porque a democracia venceu”, completou.
Lula destacou o risco que o país correu naquela data. “Ao contrário, a única liberdade permitida seria do ditador e seus cúmplices, usada para mentir, incitar o ódio e a violência contra quem pensa diferente. Se estamos aqui é para renovar a fé no diálogo entre opostos. Ao contrário, todos poderes seriam um só, concentrados na mão de um fascista.”
“Se obras de arte estão aqui de volta, restaurada com esmero, é porque a democracia venceu. Do contrário, estaríam destruídas para sempre. Tantas obras inestimáveis teriam o mesmo destino daquela de Di Cavalcanti, vítima do ódio daqueles que sabem que a arte e a cultura carregam a história e a memória de um povo. A arte e a cultura que os ditadores odeiam, não serão apagadas. Estamos aqui para lembrar e para que nunca mais aconteça”, completou.
Lula impávido e colosso
Ao lembrar emocionado do caminho que levou o Brasil e o próprio Lula a este momento de resistência democrática. “Nasci em uma região onde a criança que passasse dos cinco anos ia demorar para morrer. Escapei da morte atés os cinco anos. Depois, tive um câncer e achei que fosse meu fim. Tive três irmãos que morreram de câncer. Mas estou aqui forte, impávido e colosso para dirigir esse país”, disse.
Então, fez um histórico de sua sobrevivência. “Sobrevivi, com companheiros daqui, cinco horas em um avião torcendo para ele não cair. Queria pousar de qualquer jeito. Escapei pela segunda vez (…) junto com Xandão e o companheiro Alckmin, escapei de um atentado de um bando de aloprados (…) Depois, cai no banheiro. Estava no banquinho, cai, bati a cabeça. Achei que era meu fim. Fiz cinco ressonâncias. Antes do último exame, estava tão confiante que estava pensando em tomar um gole, pois estava sem beber desde então. Mas vi que estava pior que no começo.
Contudo, mais uma vez, Lula escapou. “Os médicos estavam horrorizados e eu poderia entrar em coma. Abriram minha cabeça e lavaram. Então, estou com a cabeça limpa e purificada. Se tem um brasileiro sem sujeira na cabeça sou eu”, disse.
A voz da democracia
Por fim, Lula fez críticas ao viés da imprensa comercial que tentou polarizar repetidamente a defesa da democracia. “Hoje é um dia muito importante. A imprensa, de manhã, alguns meios estavam preocupados se teríamos muita gente. Queria que as pessoas soubessem que enquanto tivermos uma só pessoa em praça pública falando de democracia, será o suficiente para acreditarmos que a democracia vai reinar”, disse o presidente.