Conheça a história de Ana Preta: heroína negra

Livro Ana Preta conta a saga da heroína negra durante o Brasil Império que se tornou símbolo de luta
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Capa de Ana Preta: história dos escravizados que lutaram na Guerra do Paraguai. Imagem: Reprodução

Assim como muitas mulheres pobres e negras do Brasil escravagista, Ana Preta não entrou para os livros de história. Mas sua vida foi marcada por atos heroicos, como descreve o pesquisador João Londe, autor do livro Ana Preta. Conheça a história de Ana Preta e o livro em TVT News.

Quem foi Ana Preta

Ana Preta acompanhou o marido Zé Mulato durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), lutou bravamente, e enfrentou fome, sede, cólera e varíola. Com a morte de Zé em campo de batalha, ela retornou ao Brasil, caminhando, com o corpo do amado nos braços.

Ana Preta é símbolo de resistência e coragem que merece ser conhecido pelas novas gerações. O autor do livro conta sobre como descobriu essa figura histórica, seu processo de pesquisa para construir o perfil da heroína e a importância de revisitar a história do Brasil.

A história não contada de Ana Preta

No livro Ana Preta, o escritor e jornalista J. Londe reconstrói a saga da heroína durante o Brasil Império que se tornou símbolo de luta

Assim como tantas mulheres na história do Brasil, Ana Preta poderia ter sua trajetória invisibilizada se não fosse o trabalho do escritor e jornalista J. Londe. No livro Ana Preta, ele revive a atuação da mulher pobre e negra de Minas Gerais, que lutou corajosamente durante a Guerra do Paraguai (1864-1870).

O romance histórico Ana Preta retrata a determinação, coragem e ousadia da protagonista em acompanhar o marido Zé Mulato junto com o Exército brasileiro, numa época em que crianças e mulheres não eram aceitas no contingente. Mas, para ela ficar em Uberaba, seria uma condenação à miséria. Nestas condições, Ana partiu para um futuro incerto, sem dinheiro, roupas ou comida.

Em campo, era conhecida pelo desprendimento, pois nunca abandonava os soldados feridos, nem mesmo quando as forças inimigas armaram uma emboscada contra o exército brasileiro. Ela enfrentou varíola, cólera, fome e sede. Como forma de reivindicar a humanidade que lhes foi negada ao longo da vida, Ana caminhou a pé de volta para o Brasil, com o corpo do marido nos próprios braços, para enterrá-lo em terra natal.

Neste meio tempo, encontrou um tenente ferido. Não conseguiu deixá-lo para trás e também o carregou nos próprios braços.

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Capa de Ana Preta: história dos escravizados que lutaram na Guerra do Paraguai. Crédito: Reprodução

Ana andava por volta de quatrocentos metros com o corpo do companheiro morto, colocava-o no solo e voltava para buscar o outro homem. Quando não tinha mais tantas forças, conseguiu enterrar o marido em solo brasileiro. Já o tenente se salvou graças a seus esforços. Ana morreu colérica e sozinha no Brasil.

Leia um trecho do livro

Todos a olham com assombro e admiração. Muitas mulheres lhe dizem para abandonar o Tenente à própria sorte.
— Por que se preocupa com esse branco que vai morrer?
Ana responde simplesmente:
— O que seria do soldado sem o seu comandante?
— Larga os dois, mulher, trate de se salvar!
Ana ignora, é uma missão. Vai buscar água para aplacar a febre do doente. Implora comida para o tenente, que é oficial e ainda está vivo.

(Ana Preta, pg. 123 e 124)

A partir da pesquisa, J. Londe apresenta outros personagens que não são lembrados pela “história oficial”, como Tião Arlindo, minerador de diamantes fugitivo por assassinato; Pedro Barroso, peão jurado de morte; e Magaref, um açougueiro filho de escravizada. Juntos da protagonista, eles são envolvidos nas dificuldades e sacrifícios da guerra, conduzindo o leitor a uma profunda reflexão sobre a condição humana em tempos de adversidade.

Ao abordar temas como racismo, pobreza, misoginia, analfabetismo, promessas do Estado não cumpridas e empobrecimento da população no pós-guerra, Ana Preta demonstra a importância de preservar a memória e compreender o passado como fator essencial para resgatar a identidade de uma comunidade brasileira marginalizada há séculos.

Sobre o livro Ana Preta

Título: Ana Preta
Subtítulo: Histórias de Minas
Autor: J. Londe
ISBN: 9786501111384
Páginas: 160
Preço: R$ 57,14 (livro físico) e R$ 34,92 (e-book)
Onde comprar: Clube de Autores | Amazon | Estante Virtual

Sobre o autor

O mineiro João Batista Londe é jornalista, especialista em Biologia pela Universidade Federal de Lavras (MG) e licenciado em matemática e em ciências biológicas. Escritor permanente das revistas literárias: “Poetas Brasileiros” e “Arte Literária”; ele é membro da Academia Internacional de Literatura Brasileira com sede em Nova Iorque (EUA) e possui o título de Imortal da Academia Interamericana de Escritores, com sede em Fortaleza (CE). Em 2024, a obra Ana Preta, que possui imagem de capa gerada por inteligência artificial e associada à arte de Alexandre Monteiro Londe, recebeu o Prêmio de Melhor Capa de Livro pela Academia Interamericana de Escritores.

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