Neste mês da Consciência Negra, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, afirmou, hoje (6), que o governo quer ampliar o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas, conforme prevê a Lei 10.639/03, que segue sendo um desafio para o país, mesmo após 21 anos de aprovação. Segundo ela, apenas 17% das escolas do país aplicam a lei.
“Apagar essa parte da história é muito cruel com o povo negro”, disse Anielle no programa Bom dia, ministra, exibido pelo Canal Gov. “A aplicabilidade da 10.639, o Camilo [Santana, ministro da Educação] está muito empenhado para que isso venha a ser realidade, mas têm estudos que demonstram que, infelizmente, apenas 17%, às vezes em algumas regiões menos do que isso, aplicam essa lei”, acrescentou.
Anielle comentou o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano, “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”, proposto pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). “O tema dá uma visibilidade às nossas pautas, à luta do ministério, luta do povo negro, dos movimentos negros também”, disse.
“Eu fui professora desde os meus 17 anos e, muitas vezes, eu que imprimia fotos de pessoas negras em momentos felizes e levava pra sala de aula porque nos livros não tinham. Então, por isso a lei é tão importante, por isso a gente precisa fortalecer [o ensino] com editais e [a população negra] com oportunidade, com empregabilidade. Esse tema é tão importante para o nosso país e eu sempre digo que um país mais diverso é um país fortalecido pela igualdade racial”, completou a ministra.
Nesse sentido, o governo lançou o programa Caminhos Amefricanos, uma ação de intercâmbio entre países latino-americanos e africanos para estudantes de licenciatura e docentes. No próximo dia 21, ocorre a formatura da primeira turma de 150 docentes que participaram do programa.
O objetivo, segundo Anielle, é que os professores se apropriem da história e da cultura dos países latino-americanos e africanos e retornem à sala de aula com bagagem para aplicação desses estudos.
Novos editais já estão previstos para o próximo ano, para países como Angola, República Dominicana e Peru. Os dois primeiros editais enviaram docentes e estudantes para Moçambique, Cabo Verde e Colômbia.
No mês da Consciência Negra, a ministra Anielle falou, durante o Bom dia, ministra, sobre as agendas do ministério e como o governo vem trabalhando para acelerar a titulação de terras quilombolas, levantar a pauta da igualdade racial em fóruns internacionais e combater a violência política de gênero e raça. Ainda este mês, o ministério deve lançar um edital de R$ 30 milhões, em parceria com o BNDES, para fortalecer quilombos da Amazônia.
No próximo dia 20 de novembro será comemorado o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, data, agora considerada feriado nacional, que remete ao marco da morte do líder do Quilombo dos Palmares, um dos maiores do Brasil durante o período colonial, que foi resistência contra a escravização negra no país.
Para saber mais sobre Consciência Negra: dicas de leitura
Em comemoração ao Mês da Consciência Negra, a Selo Negro Edições lança Vidas Impressas – Intelectuais Negras e Negros na Escravidão e na Liberdade, uma obra que resgata trajetórias inspiradoras de pensadores negros e negras que atuaram no Brasil entre o século XIX e o início do XX. Organizada pelos historiadores Iamara Viana e Flávio Gomes, a coletânea revela contribuições até então silenciadas de intelectuais que, por meio da educação, literatura e medicina, enfrentaram os desafios de seu tempo e ajudaram a construir uma nova visão de cidadania, liberdade e identidade cultural em um país em transformação.
Com 280 páginas, Vidas Impressas reúne artigos que destacam esses pensadores negros/as que produziram literatura, fundaram escolas e desenvolveram ideias pioneiras sobre liberdade, cidadania e exclusão. A obra proporciona ao leitor o contato com biografias e trajetórias até então pouco conhecidas, dando visibilidade a intelectuais que marcaram a luta pela emancipação negra no Brasil. Cada capítulo revela tensões e conflitos na construção de uma nação que buscava se assemelhar aos valores e à estética europeus, mas que também continha resistências de intelectuais negros, que subverteram o apagamento imposto a suas histórias e memórias.