Cook x Trump: entenda a crise com o Federal Reserve

Trump tenta demitir diretora e gera tensão com a instituição equivalente ao Banco Central
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A diretora do Fed, Lisa Cook, garantiu que não renunciará ao cargo. Fotos: Reprodução/Federal Reserve/Daniel Torok/The White House

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na segunda-feira (26) sua intenção em demitir a diretora do Federal Reserve, Lisa Cook. A ação de Trump é vista por especialistas como uma tentativa de politizar a instituição, que é equivalente ao Banco Central do Brasil. Essa é a primeira vez em 111 anos do Fed que um presidente demite o diretor do banco. Entenda a crise na TVT News

A demissão é baseada em alegações do diretor da Agência Federal de Financiamento de Habitação, Bill Pulte, que acusou Cook de fraude hipotecária. Pulte alegou ter documentos indicando que, em 2021, Cook declarou duas propriedades, uma em Ann Arbor, Michigan, e outra em Atlanta, como residência principal em um curto intervalo de duas semanas. O objetivo, segundo ele, seria obter condições hipotecárias mais vantajosas, o que teria envolvido a falsificação de documentos bancários.

Apesar das denúncias, Lisa Cook não foi formalmente acusada ou condenada por qualquer crime. A pedido de Pulte, o Departamento de Justiça iniciou uma investigação criminal contra a diretora. 

Reação e contra-ataque jurídico

Em resposta, Lisa Cook deixou claro que não apresentará sua renúncia. Na terça-feira (26), seu advogado, Abbe David Lowell, classificou a ação de Trump como uma “tentativa ilegal” e um “ato de bullying”, e anunciou que entrará com uma ação judicial para contestar a demissão. A defesa argumenta que o presidente “não tem autoridade” para tal medida e que a ação “carece de fundamento factual ou legal”.

O Federal Reserve, por sua vez, se manifestou publicamente, declarando que “acataria qualquer decisão judicial”, reiterando sua independência. A instituição enfatizou que os diretores cumprem mandatos longos e fixos, e podem ser destituídos apenas por “justa causa”, o que geralmente se refere a má conduta ou negligência no exercício de suas funções, algo que, até o momento, não foi comprovado contra Cook.

Motivações políticas

A iniciativa de Trump é amplamente interpretada como parte de um esforço maior para politizar o banco central. O presidente tem criticado abertamente o presidente do Fed, Jerome Powell, por manter as taxas de juros elevadas, buscando pressionar por uma redução que, em sua visão, impulsionaria a economia.

A remoção de Cook abriria caminho para que Trump nomeasse um aliado, possivelmente garantindo uma maioria de 4-3 no Conselho do Fed, o que facilitaria a aprovação de custos de empréstimos mais baixos.

Especialistas econômicos, contudo, alertam para o risco de tal intervenção. A independência do Fed é considerada um pilar para a estabilidade econômica, ajudando a manter a inflação e as taxas de juros baixas a longo prazo.

Uma potencial perda dessa autonomia poderia levar a um aumento nas taxas de empréstimos, já que investidores exigiriam maiores retornos para compensar o risco de uma inflação futura mais alta. 

Uma batalha judicial com potencial histórico

A disputa legal tem o potencial de se tornar um marco, redefinindo os limites da presidência sobre o Fed. Embora a Suprema Corte tenha recentemente se mostrado mais flexível em relação à capacidade do presidente de demitir funcionários de agências, ela já considerou o Fed um “caso especial”.

Políticos democratas condenaram a ação. O Congressional Black Caucus classificou-a como um “ataque racista, misógino e ilegal”, enquanto a senadora Elizabeth Warren a descreveu como uma “tomada de poder autoritária”.

Lisa Cook foi a primeira mulher negra a integrar o Conselho de Governadores do Fed, sendo indicada pelo presidente Joe Biden em 2022. Seu mandato estava previsto para durar até janeiro de 2038. Cook foi economista sênior do Conselho Econômico Nacional durante o governo Obama e possui diplomas da Oxford e da Berkeley, além de ter sido professora de economia e relações internacionais na Michigan State University por quase duas décadas.

Com informações do The New York Times

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