A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém, consolidou o esforço para criar um mapa do caminho para o fim dos combustíveis fósseis, proposta que mobiliza cerca de 80 países e se firma como principal legado político da conferência. Saiba mais na TVT News.
Proposta reorganiza debate climático
A ideia do mapa do caminho, defendida pelo Brasil, busca preencher uma lacuna deixada pela COP28, que reconheceu a necessidade da transição do petróleo, carvão e gás, mas não definiu como fazê-lo. O plano, nos moldes das negociações internacionais, funcionaria como um roteiro operacional, com metas, prazos e responsabilidades claras para orientar a saída global dos fósseis.
A urgência não é retórica. Emissões de gases de efeito estufa seguem em níveis recordes, e projeções atuais indicam um aquecimento entre 2,6 ºC e 2,8 ºC até o fim do século. Cientistas alertam que, mesmo no melhor cenário, o limite de 1,5 ºC acordado na COP de Paris, em 2016, será ultrapassado.
Lula e Marina: lideranças que impulsionam coalizão
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou o tema no centro da COP30 desde o discurso de abertura, afirmando que o mundo precisa sair de Belém com um processo claro para abandonar os combustíveis fósseis. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, transformou o recado em articulação diplomática contínua.
O resultado é uma coalizão diversa e crescente. Alemanha, Reino Unido, Dinamarca, França, Colômbia, Vanuatu, Nigéria, Quênia e outros integraram o “Mutirão pelo Mapa do Caminho”, que hoje reúne países de diferentes realidades econômicas e regiões do globo.
Durante um painel no pavilhão do Brasil, o vice-ministro alemão Jochen Flasbarth foi direto ao declarar que apoiaria qualquer decisão que desse o pontapé inicial ao mapa do caminho em Belém. Já Rachel Kyte, enviada especial britânica, classificou a sinalização de Lula como extraordinária e afirmou a Marina: “Estamos totalmente ao seu lado”.
Do evento paralelo ao texto oficial
Embora ainda não esteja na agenda formal de negociação, o tema subiu de patamar político. O primeiro rascunho do mutirão, documento que organiza os pontos mais difíceis da COP, trouxe pela primeira vez a discussão sobre a eliminação dos fósseis de forma explícita, ao lado de metas como triplicar renováveis e dobrar eficiência energética até 2030.
Para analistas, isso representa a transição da proposta de um desejo político para um item com potencial de entrar na decisão final.
Contudo, a formalização do mapa do caminho enfrenta oposição de países produtores de petróleo, como Arábia Saudita e Irã, que resistem historicamente a compromissos explícitos de eliminação dos fósseis. Para eles, a linguagem proposta é inaceitável.
Nações em desenvolvimento pedem recursos previsíveis para adaptação e transição. A estimativa é que serão necessários 310 bilhões de dólares por ano até 2035. “Financiamento climático não é caridade, é obrigação moral e legal”, afirmou Ralph Regenvanu, de Vanuatu.
Um possível legado histórico
A articulação em torno do mapa do caminho transformou-se no eixo político da COP30 e colocou o Brasil no centro da diplomacia climática. Para Marina Silva, não há mais espaço para adiar o enfrentamento da raiz da crise climática. Ela defende que Belém entregue um mandato claro para iniciar a elaboração do roadmap.
Se a iniciativa será formalizada ou não ainda depende das negociações finais. Mas, independentemente do resultado, a COP30 já marca o momento em que a transição para o fim dos combustíveis fósseis deixou de ser promessa distante e se tornou um projeto em construção.
Com informações da Deutsche Welle e Agência Pública
