COP30 reta final: Lula retorna a Belém para destravar negociações

Na reta final da COP30, o presidente Lula retorna a Belém para tentar destravar os principais impasses da Conferência. Entenda
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“Voltarei a Belém no dia 19 de novembro para encontrar o Secretário Geral da ONU em um esforço conjunto para fortalecer a governança do clima e do multilateralismo", disse Lula sobre a COP30 Foto Alex Ferro/COP30

Na reta final da COP30, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retorna nesta quarta-feira (19) a Belém para tentar destravar os principais impasses da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas. O evento está previsto para terminar na sexta-feira (21), mas a falta de consenso entre países desenvolvidos e em desenvolvimento já levanta a possibilidade de extensão das negociações, como ocorreu em edições anteriores. Entenda na TVT News.

Lula deve desembarcar na capital paraense por volta das 10h30 e terá uma agenda intensa com representantes de blocos-chave como União Europeia, Grupo Africano e Grupo Árabe, além de encontros com governadores, prefeitos, povos indígenas, movimentos sociais e o secretário-geral da ONU, António Guterres.

Em mensagem enviada no fim de semana, lida pela ministra Marina Silva na Cúpula dos Povos, Lula destacou a importância política de seu retorno: “Voltarei a Belém no dia 19 de novembro para encontrar o Secretário Geral da ONU em um esforço conjunto para fortalecer a governança do clima e do multilateralismo. Também vou participar de reuniões com vários países, representantes da sociedade civil, povos indígenas e populações tradicionais, e governadores e prefeitos.”

A expectativa da diplomacia brasileira é que sua presença ajude a avançar temas que permanecem sem acordo, como o financiamento climático, a lacuna entre as metas apresentadas pelos países e o que a ciência exige, mecanismos de transparência e medidas unilaterais de comércio. Outro objetivo é tentar incluir na declaração final uma menção explícita à construção de um “mapa para o fim dos combustíveis fósseis”, proposta defendida por Lula desde a abertura da conferência.

Pacote de Belém na COP30

Nesta quarta-feira, a presidência brasileira da COP começa a discutir em plenária o chamado “Pacote de Belém”, compilação final dos acordos da COP30, cujo primeiro rascunho foi entregue às delegações na terça (18). Após uma semana de textos travados e tensões discretas, a chegada de chefes de Estado é vista como essencial para destravar negociações consideradas sensíveis.

Às 15h, está prevista a Reunião Ministerial de Alto Nível, convocada pelas presidências da COP30 e COP29, além da Secretaria Executiva da ONU para o Clima. O encontro é tratado como o “momento culminante” das duas semanas de debates, quando se espera a apresentação das principais mensagens políticas, anúncios e diretrizes para o próximo plano quinquenal da Agenda da Ação Climática Global.

Lula deve retornar a Brasília no fim da tarde.

Impasse sobre financiamento

O financiamento climático segue como um dos pontos de maior conflito. O artigo 9.1 do Acordo de Paris estabelece que países desenvolvidos devem garantir recursos aos países em desenvolvimento, algo considerado insuficiente nas propostas atuais.

Na COP29, foi definido um piso de US$ 300 bilhões anuais, considerado muito aquém das necessidades globais. Para esta COP, Brasil e Azerbaijão, que presidiram COP30 e COP29, chegaram a sugerir uma meta de US$ 1,3 trilhão por ano, mas a proposta enfrenta forte resistência.

Metas de redução de emissões

O relatório síntese das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) é outro foco de embates. As metas atuais são consideradas tímidas: cientistas afirmam que as emissões globais precisam cair 5% ao ano a partir de 2026. Entretanto, em vez de cair, as emissões podem aumentar 1% em 2025.

Johan Rockström, do Instituto Potsdam, alertou: “A lacuna não pode continuar como está (…) As emissões globais precisam passar de um aumento de 1% para uma redução de 5% no próximo ano.” Isso equivaleria a retirar 2 bilhões de toneladas de CO₂ da economia global imediatamente.

A climatologista Ricarda Winkelmann, do Instituto Max Planck, reforçou a urgência: “Nossas crianças enfrentarão ondas de calor seis vezes maiores do que seus avós.”

Transição energética

Apesar das divergências, entidades da sociedade civil veem algum otimismo. Um grupo de países começou a formar uma coalizão favorável a um acordo para abandonar gradualmente os combustíveis fósseis, seguindo diretriz defendida pelo Brasil.

Natalie Unterstell, do Instituto Talanoa, avalia:
“Começou a nascer uma coalizão de países que não existia na semana passada, que está fazendo emergir essa ideia da sinalização política dos mapas do caminho da transição.”

Já o WWF-Brasil afirmou que houve avanços no debate sobre transição energética e proteção de florestas tropicais, mas alertou para a necessidade de decisões claras até o fim da COP. Pelo menos 23 países já aderiram ao compromisso informal de abandono gradual dos fósseis, entre eles Reino Unido, Alemanha, União Europeia e Colômbia.

Adaptação na COP30

A Meta Global de Adaptação (GGA), compromisso do Acordo de Paris para orientar ações de adaptação climática, também enfrenta impasses. Países negociam 100 indicadores que medirão avanço em resiliência e adaptação, mas o Grupo Africano defende adiar o processo técnico para 2027.

A proposta preocupa outras delegações e especialistas: Unterstell alerta que “não dá para adaptação esperar. A proposta do Grupo Africano é atrasar esse assunto por dois anos.”

Florence Laloë, da Conservação Internacional, afirmou que o atraso pode travar investimentos: “Se a adoção formal dos indicadores atrasar, isso poderá desacelerar ações e investimentos, gerando frustração para os países mais vulneráveis.”

Liderança brasileira em teste

A volta de Lula a Belém ocorre em meio a críticas internacionais sobre a organização da COP e o papel do Brasil na liderança climática. Na terça (18), o presidente reagiu aos comentários do chanceler alemão Friedrich Merz ao defender a escolha de Belém como sede da conferência. No plano diplomático, a presença de Lula é vista como decisiva para tentar conduzir os países a um consenso mínimo.

Com impasses profundos em financiamento, adaptação e metas de mitigação, e diante da urgência expressa por cientistas, ativistas e comunidades tradicionais, os próximos dias definirão se a COP30 será lembrada como um avanço real ou mais uma conferência marcada por promessas frágeis diante de uma crise climática cada vez mais acelerada.

Com informações da Agência Brasil

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