Por Fábia Regina Ribeiro Gonzaga Medeiros, de Belém, PA, com supervisão de Alexandre Barbosa*
Crianças tomam a palavra na Cúpula das Infâncias durante a COP30 em Belém
Em Belém (PA), a inédita Cúpula das Infâncias, parte da Cúpula dos Povos paralela à COP30, reuniu centenas de crianças e adolescentes para debater justiça climática, ameaças aos seus territórios e a urgência de ações concretas. Eles entregaram um manifesto à presidência da COP30 reivindicando garantias de futuro “sem medo e com esperança”.
Desde os primeiros dias da 30ª Conferência das Partes (COP30), a Cúpula dos Povos reservou um espaço especial para as jovens vozes. Com atividades lúdicas, debates e cirandas, o encontro, que ocorreu entre 12 e 16 de novembro na Universidade Federal do Pará (UFPA), deu protagonismo a crianças e adolescentes, parte deles vindos de comunidades ribeirinhas e tradicionais da Amazônia.
Um dos rostos mais emblemáticos do evento foi o de Izabelly Lobato dos Santos, 15 anos, moradora da Ilha do Capim, em Abaetetuba (PA). Com firmeza, ela denunciou os efeitos da crise climática em sua comunidade: “O calor aflige os pescadores da comunidade” e, segundo ela, a construção de um terminal portuário da empresa Cargill ameaça as ilhas ao redor, devastando o modo de vida local.
Além dela, os participantes relataram o impacto direto das mudanças climáticas em suas rotinas. Izabelly, por exemplo, contou como o calor intenso nas salas de aula prejudica sua aprendizagem: “Tem ventilador, mas funciona até duas horas. E o calor é insuportável.”
No palco cultural da cúpula, a Orquestra Ribeirinha Amazônica (ORA), composta por crianças da Ilha do Combu, emocionou o público. Segundo o coordenador da Cúpula das Infâncias, Salomão Hage, a participação infantil traz uma crítica importante à escuta “adultocêntrica” predominante na política climática. Ele destacou que as infâncias são agentes de mudança e sujeitos de direitos: “Justiça climática e bem viver só são possíveis com a participação de crianças e de adolescentes.”

No domingo (16), as jovens lideranças entregaram uma carta à presidência da COP30 e a ministros brasileiros. O documento, fruto das oficinas e rodas de conversa da cúpula, expressa o temor pelo futuro (“fumaça, falta de água, extinção dos animais”) e um pedido por ação concreta: para que “as próximas crianças e adolescentes não tenham medo do calor, da fumaça, da falta de água… Para que elas possam desenhar florestas vivas e não florestas morrendo.”
A Cúpula das Infâncias marca um momento histórico: é a primeira vez que crianças e adolescentes têm esse tipo de protagonismo estruturado dentro de uma Cúpula dos Povos.
Para muitos, trata-se de um gesto simbólico, mas também de uma reivindicação política clara, eles exigem ser ouvidos como cidadãos com direito à participação nas negociações sobre seu próprio futuro. O professor reforça que a carta entregue é uma “afirmação para o mundo” de que seus sonhos, medos e esperanças merecem espaço.
* A estudante de jornalismo Fábia Regina Ribeiro Gonzaga Medeiros é paraense e está em Belém acompanhado a COP30, com orientação do jornalista Alexandre Barbosa.
