De Valência ao Rio Grande do Sul. É preciso saber lidar com o aquecimento global

Especialistas argumentam que há uma falta de planejamento dos governos locais para lidar com o aquecimento global. Entenda na TVT News
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Capital dos gaúchos, Porto Alegre sob as águas do Guaíba após intensas chuvas relacionadas ao aquecimento global. Foto: Gilvan Rocha/EBC

A recente devastação ambiental que atingiu a região de Valência na última semana, na Espanha, possui relações com as enchentes no Rio Grande do Sul em maio deste ano. Em ambos os casos, chuvas intensas deixaram um rastro de destruição. Especialistas argumentam que há uma falta de planejamento e preparação dos governos locais para lidar com esses eventos climáticos extremos. Isso porque o aquecimento global é um processo de certa forma irreversível. Cabe, agora, adaptar e reduzir danos. É o que defende o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine Ribeiro.

Embora separados por milhares de quilômetros, os dois episódios trazem semelhanças. No Brasil, particularmente governos de extrema direita adotaram medidas para reduzir a proteção ambiental. Isso impactou no Rio Grande do Sul. Enquanto, em Valência, houve um relaxamento na vigilância ambiental. Ambos os casos geraram debates e críticas quanto ao papel das políticas ambientais e de monitoramento, particularmente em cenário de aquecimento global.

Segundo Janine Ribeiro, em entrevista para a Rádio USP, da universidade em que ministra aulas de filosofia, esses desastres carregam uma importante lição sobre a necessidade de valorizar o conhecimento científico e o planejamento estratégico.

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Valência após intensas chuvas na última semana. Foto: Reprodução/X

Aquecimento global e planejamento

“Nós podemos perceber que esses casos dão uma importante mensagem no tocante à ciência e ao que chamo de ‘espírito da modernidade’”, afirma. Ele explica que a ciência tem a capacidade de prever a ocorrência de eventos extremos, e o Brasil, por exemplo, conta com o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), criado há mais de uma década, que pode antecipar riscos e emitir alertas.

“São naturais, sim, mas você pode saber que vão acontecer, tomar providências, colocar sirenes, como em Petrópolis, ou retirar as pessoas de áreas de risco”, destaca o professor, enfatizando que existem medidas que podem reduzir o impacto desses eventos, seja durante a crise ou como prevenção em áreas de risco.

Espírito da época

Ribeiro sublinha que, apesar de ser possível prever desastres com certa precisão, muitas vezes há um desprezo pelo conhecimento científico, algo que afeta principalmente as populações mais vulneráveis, que não têm voz sobre as políticas adotadas. “Infelizmente, nos dois casos houve um descaso em relação à ciência, pelo qual depois pagam sobretudo os mais pobres, os mais vulneráveis, os que têm menos influência sobre os respectivos governos”, lamenta o colunista.

Esse despreparo também reflete o que Ribeiro chama de “espírito da modernidade”, conceito que ele relaciona ao surgimento do planejamento sistemático após a Revolução Russa e que mais tarde foi adotado em várias nações, incluindo o Brasil. “Com a modernidade, tornou-se possível planejar. Isso significa que, pelo conhecimento científico, podemos interferir em variáveis e mitigar ou até eliminar danos em situações como essas”, diz.

Então, o professor ressalta que o planejamento é essencial para lidar com fenômenos climáticos extremos e minimizar seus efeitos sobre a população. Para ele, é possível e necessário traçar planos para ampliar a infraestrutura de transporte coletivo, saúde, educação, proteção ambiental e moradia segura. “Esses são os fatores que permitem, numa situação dessas, minorar danos, às vezes até eliminar os danos, e que faltaram no Rio Grande do Sul e em Valência; fica a lição”, conclui o professor.

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