Parlamentar diz ter convicção que extrema direita italiana protege Zambelli

Parlamentar italiano acusa governo de ser conivente com o crime por não ter prendido ainda a bolsonarista Carla Zambelli. Entenda
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O governo da primeira-ministra Giorgia Meloni, de extrema direita, foi acusado de conivência e omissão ao não efetivar a prisão de Zambelli. Foto: Lula Marques/EBC

O Parlamento italiano discutiu hoje (13) o paradeiro da ex-deputada brasileira Carla Zambelli, foragida da Justiça do Brasil, procurada pela Interpol, que está na Itália. Entenda na TVT News.

O governo da primeira-ministra Giorgia Meloni, de extrema direita, foi acusado de conivência e omissão ao não efetivar a prisão da parlamentar, condenada a 10 anos de prisão no Brasil. O pedido de explicações partiu do deputado Angelo Bonelli, da coalizão Aliança Verdes e Esquerda (AVS), que exigiu medidas urgentes para a extradição e questionou a possível proteção institucional oferecida a Zambelli em razão de identidade ideológica entre Meloni e o clã da família Bolsonaro, de quem Zambelli é parte do núcleo de apoio, “bolsonarista raiz”.

Bonelli, inclusive, disse acreditar que sabem do paradeiro de Zambelli, mas que se negam a agir. “Sabemos – o mundo sabe, os brasileiros sabem, a imprensa brasileira sabe, o Governo brasileiro sabe – que o Governo italiano permitiu a entrada da deputada Carla Zambelli na Itália, deixando-a entrar sem monitorá-la e hoje finge não saber onde ela está, porque eu tenho convicção de que sabem”, disse.


“É inaceitável, vocês estão fazendo a polícia italiana cometer uma vergonha que ela não merece; mas a questão é que alguém lhes disse para não vigiarem a deputada Zambelli (…) agora eu entendo quem está dando cobertura: vocês são os que estão dando cobertura a essa senhora que está na Itália. Todos sabem disso – os laços políticos que existem, em particular aqueles entre a Liga (partido de Meloni) e o partido de Jair Bolsonaro”, disse o deputado.


“Prendam Zambelli”

A parlamentar brasileira é acusada de uma série de crimes, incluindo invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com inserção de documentos falsos, difusão de fake news durante as eleições de 2022 e porte ilegal de arma ao perseguir um adversário político em via pública.

Desde o início de junho, após deixar os Estados Unidos, Zambelli se encontra em território italiano. Segundo Bonelli, a ex-deputada ingressou na Itália no dia 5 de junho, desembarcando no aeroporto de Fiumicino, em Roma, pouco antes da publicação oficial da nota vermelha da Interpol solicitando sua prisão.

O deputado denunciou que, mesmo sabendo da chegada iminente de Zambelli, o governo italiano não tomou providências para monitorá-la ou detê-la. “É uma vergonha inaudita”, afirmou Bonelli em plenário. Ele denunciou que o Ministério do Interior e a Polícia de Fronteira falharam deliberadamente ao não ativar nenhum sistema de vigilância, mesmo diante de alertas públicos e da entrevista concedida por Zambelli à CNN, nos Estados Unidos, na qual afirmava ser “intocável na Itália” por possuir cidadania italiana.


“Se eu fosse Ministro do Interior, diante deste caso, teria ligado para o Chefe de Polícia e dito: está chegando uma mulher procurada por crimes gravíssimos que podem inclusive minar as relações diplomáticas entre Brasil e Itália. Vigiem esta senhora, porque, quando o mandado de prisão internacional chegar, nós o executaremos”, disse Bonelli.


Resposta do governo

A resposta do governo foi dada pela subsecretária do Interior, Wanda Ferro, que admitiu que Zambelli entrou na Itália com passaporte válido e que seu nome ainda não constava em registros internacionais no momento do desembarque. Segundo Ferro, a nota vermelha da Interpol foi divulgada apenas às 16h46 do mesmo dia, quase cinco horas após sua chegada, impossibilitando qualquer ação legal no aeroporto. Desde então, segundo a subsecretária, Zambelli está “indetectável” e o governo afirma seguir procurando-a com apoio da polícia internacional.

Conivência entre extremistas

A explicação foi criticada por Bonelli. “Vocês sabiam que ela chegaria. Preferiram não vigiá-la. Isso é conivência. Isso é acobertamento político”, disparou o deputado. Ele ainda acusou diretamente o governo Meloni e seus laços com o ex-presidente Jair Bolsonaro de influenciar na inação das autoridades italianas.


“Meloni está assumindo uma responsabilidade política e diplomática incrível, porque a Itália não pode se tornar um paraíso para homens procurados, para golpistas ou para criminosos, porque alguém que diz “Tenho cidadania italiana e sou intocável” é inaceitável”


Bolsonaro e Meloni

Além de Zambelli, a discussão no Parlamento abordou a situação da família Bolsonaro. Ferro confirmou que Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro obtiveram cidadania italiana entre 2023 e 2024. Bonelli denunciou a concessão como parte de um “projeto político transnacional da extrema direita” e defendeu que a legislação italiana seja alterada para revogar a cidadania de indivíduos condenados por crimes contra a democracia. Ele também indagou se Jair Bolsonaro já teria solicitado cidadania italiana — o que foi negado pela subsecretária.

“Querem transformar a Itália num paraíso para golpistas?”, questionou Bonelli, que comparou o caso ao de Abu Omar Almasri, sequestrado e extraditado ilegalmente com conivência de autoridades italianas em 2003. O deputado exigiu a responsabilização política do governo italiano e concluiu sua fala afirmando que “o mundo sabe que a Itália deixou Carla Zambelli entrar e agora finge não saber onde ela está”.

Os fatos:

  • Condenação no Brasil: Carla Zambelli foi condenada pelo STF a 10 anos de prisão, perdeu o mandato e foi declarada inelegível por 8 anos.
  • Fuga para a Itália: Após breve passagem pelos EUA, chegou a Roma em 5 de junho, antes da nota vermelha da Interpol estar visível.
  • Parlamento italiano: Deputado Bonelli cobra ação do governo e acusa proteção política à foragida.
  • Resposta oficial: Governo alega falha de tempo entre desembarque e ativação da nota da Interpol.
  • Cidadania italiana: Filhos de Jair Bolsonaro obtiveram cidadania; governo confirma não haver pedido formal de Jair Bolsonaro.
  • Repercussão: Oposição italiana vê conivência do governo Meloni com aliados da extrema direita brasileira.

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