O Brasil celebra nesta sexta-feira (5) o Dia da Amazônia, data que ganha uma dimensão especial em 2025 por estar diretamente ligada à realização da COP 30, que ocorrerá em Belém do Pará, em novembro do próximo ano. Será a primeira vez que a mais importante conferência mundial sobre o clima acontece no Brasil — e também a primeira vez que se realiza na maior floresta tropical do planeta. Leia em TVT News.
Amazônia, a casa da COP 30
A escolha da Amazônia como palco do encontro tem forte caráter simbólico e político: ao mesmo tempo em que representa uma oportunidade histórica para fortalecer o protagonismo brasileiro no enfrentamento da crise climática, também coloca em evidência os desafios urgentes de preservação do bioma.
A efeméride remonta a 1850, quando a província do Amazonas foi oficialmente criada, por decreto imperial de Dom Pedro II. Mais de um século depois, em 2007, a data foi oficializada no calendário ambiental brasileiro, justamente para reforçar a importância estratégica da floresta para o equilíbrio climático global e para a sobrevivência de milhões de pessoas que dependem diretamente dela. Hoje, esse simbolismo se renova diante do contexto internacional em que a Amazônia volta a ser centro das atenções.
A COP 30 em Belém
A 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30) é o espaço mais relevante para que líderes mundiais negociem compromissos e medidas de redução das emissões de gases de efeito estufa. Em Belém, pela primeira vez, esses debates ocorrerão dentro da própria floresta que concentra a maior biodiversidade do planeta e que também figura entre os pontos mais vulneráveis às mudanças climáticas.
O governo brasileiro tem reiterado que a COP 30 será uma vitrine para demonstrar os avanços do país na proteção ambiental e na redução do desmatamento. Mais do que isso, o encontro é visto como uma oportunidade para consolidar mecanismos de financiamento internacional destinados à preservação da floresta e ao desenvolvimento sustentável da região amazônica. A expectativa é que Belém receba mais de 70 mil pessoas entre chefes de Estado, cientistas, ambientalistas e representantes da sociedade civil.
Redução do desmatamento e novos desafios
Dados divulgados recentemente pelo Ministério do Meio Ambiente indicam que, em 12 meses, o desmatamento na Amazônia registrou a segunda menor taxa da série histórica e o menor índice de corte raso da floresta desde o início da medição. Os números são celebrados como uma conquista do esforço de fiscalização e da retomada de políticas públicas que haviam sido enfraquecidas nos últimos anos.
Contudo, especialistas lembram que a situação ainda é grave. A pressão por abertura de áreas para o agronegócio, a expansão de garimpos ilegais e a ação de madeireiras continuam sendo fatores críticos. Além disso, o risco do chamado “ponto de não retorno” — quando a floresta perderia sua capacidade de regeneração e se transformaria em uma savana — segue sendo motivo de preocupação global.
O impacto das mudanças climáticas
Um estudo liderado por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) trouxe novas evidências sobre a vulnerabilidade do bioma. A pesquisa revisou 35 anos de dados sobre desmatamento, temperatura e chuvas na Amazônia e concluiu que tanto o corte raso quanto a emissão global de gases de efeito estufa já alteraram significativamente o regime de chuvas na região. O trabalho demonstra que, quanto mais a floresta é destruída, maiores são os impactos sobre os ciclos de água e o equilíbrio climático, não apenas no Brasil, mas em todo o planeta.
Esses resultados reforçam o alerta de que preservar a Amazônia é essencial não apenas para os países amazônicos, mas para a estabilidade do clima mundial. A floresta funciona como um “ar-condicionado natural” do planeta, responsável por absorver bilhões de toneladas de carbono e por manter padrões de chuvas que influenciam diretamente a produção de alimentos e a segurança hídrica em diversas partes do globo.
O que esperar da COP 30
Entre os principais objetivos da COP 30 está a negociação de novos compromissos de mitigação das emissões, além da consolidação do Fundo de Perdas e Danos, que prevê apoio financeiro a países mais vulneráveis aos impactos climáticos. Para o Brasil, a conferência também será um momento de reafirmar a meta de desmatamento zero até 2030 e de buscar parcerias internacionais que apoiem a transição para uma economia de baixo carbono.
Governos estaduais da Amazônia Legal, organizações da sociedade civil e lideranças indígenas também já se articulam para levar suas pautas à conferência. A expectativa é que a COP em Belém seja marcada por uma forte presença de comunidades tradicionais, que são as guardiãs do território e que mais sofrem os impactos da degradação ambiental.
Neste Dia da Amazônia, o país se prepara para um momento único em sua história recente: ser anfitrião do debate global mais importante sobre o futuro do clima. Ao mesmo tempo em que os índices de desmatamento mostram sinais de melhora, a pressão sobre a floresta e os impactos das mudanças climáticas exigem que a proteção do bioma seja permanente e efetiva.
A realização da COP 30 em Belém é, portanto, mais do que um gesto simbólico. É um chamado para que a humanidade olhe para a Amazônia não apenas como patrimônio brasileiro, mas como condição de sobrevivência para todos os povos.