Dia de Nossa Senhora Aparecida: conheça outras aparições da Virgem na América Latina

Dia 12 de outubro marca data que pescadores encontram a imagem da Virgem Maria no Rio Paraíba. Conheça outras aparições da virgem na América Latina
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Imagem da Virgem no Brasil é negra, “como nossa gente”. Foto: Agência Brasil

12 de outubro é o Dia de Nossa Senhora Aparecida. A data se refere ao episódio em que pescadores encontram a imagem da Virgem Maria nas águas do Rio Paraíba depois de pedirem ajuda à Mãe de Deus para que conseguissem encontrar peixes. Após o encontro da imagem, a pesca foi farta. A história  se espalhou e outros milagres foram atribuídos à Santa, que se tornou a Padroeira do Brasil.  

A imagem da Virgem Maria como Nossa Senhora da Conceição Aparecida é negra. “Negra como nossa gente”, teriam dito os pescadores. A devoção à Padroeira do Brasil é gigante e leva, todos anos, milhares de pessoas à Basílica do Santuário de Aparecida, para agradecer pelas graças alcançadas ou para pedir a intervenção da Mãe de Jesus.  

Neste texto, publicado originalmente na revista Babel, do curso de Jornalismo da ECA-USP, a estudante de Jornalismo Luana Franzão relata outras aparições da Virgem Maria pela América Latina, como a de Nossa Senhora de Guadalupe, a padroeira da América Latina.

Entre a espada e a cruz: as aparições marianas na América Latina

“Rogai por nós”, é o que pedem os fiéis da igreja católica à mãe de seu Messias, Maria. Na América Latina, o clamor parece ressoar mais do que em qualquer outro canto do globo. O continente americano concentra a maior proporção de católicos: são 64,1 fiéis por 100 habitantes, segundo o último Anuário Pontifício, divulgado em outubro de 2023 pela Agência Fides.

Teria sido o próprio Jesus quem teria a entregue a seus fiéis como figura materna, segundo as escrituras bíblicas: “Aí está sua mãe”, disse apontando Maria a um de seus discípulos, narra o evangelho de João.

A suposta virgem tomou forma de protetora na região sul do continente americano, com cada uma de suas aparições associando características de seus crentes nos locais onde se mostrava a eles.

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Aparições da Virgem pela América Latina. Infográfico: Luana Frazão/Revista Babel/ECA-USP

Ao mesmo tempo que Maria assume o papel da mãe de povos que sofrem e buscam o perpétuo socorro, ela também é símbolo da colonização que assolou o continente.

“A virgem de Guadalupe é uma das respostas religiosas mais inteligentes da evangelização cultural”, afirmou Martha Robles, que escreveu o capítulo “La Virgem Maria de Guadalupe y la Diosa Madre Tonantzin”, integrante da coletânea de artigos “Virgenes y Diosas de América Latina”, publicada originalmente em espanhol .

Segundo a autora, a imagem das padroeiras serve de instrumento para gerar união nacional sob um símbolo aparentemente milagroso, a solução para um sofrimento coletivo que a América Latina foi levada a acreditar ser inevitável.

Para Robles, o culto às aparições marianas na América Latina é dotado de uma “ambiguidade engimática”. No âmbito particular, a santa parece capaz de resolver as mazelas pessoais das famílias, em uma “devoção doméstica à sua misericórdia”, e coletivamente, “um emblema de um povo desprovido de outras divisas de identidade dotadas de importância semelhante”.

Em algumas regiões, a devoção à mãe do Cristo se tornou símbolo político. O exemplo mais proeminente é Nossa Senhora de Guadalupe, a padroeira do México e de toda a América Latina. Ela apareceu como símbolo em 1810, na luta pela independência do país, e em 1914, quando os zapatistas entram com a imagem dela na Cidade do México.

Também no Chile, símbolos europeus e coloniais católicos foram retomados e ressignificados por revoluções. A devoção à Virgem do Carmo, de origem europeia, se espalhou pela América espanhola durante o processo de colonização. No entanto, durante a luta pela independência chilena no início do século 19, ela foi proclamada patrona do exército andino. Na versão latina, a Virgem do Carmo ganhou uma cruz de Maipu, símbolo do povo chileno.

No Brasil, a aparição de Nossa Senhora Aparecida ajudou a criar uma identidade católica nacional. Dois pescadores teriam tirado a imagem das águas do Rio Paraíba do Sul – estátua esta que reside no Santuário Nacional Aparecida, o maior templo no mundo dedicado a Maria, segundo informações da própria instituição.

Aqueles que resgataram sua imagem, ao perceber a cor da pele de Aparecida, teriam comentado: “negra feito o nosso povo”.

Na região do Vale do Paraíba, a imagem de Maria movimenta a economia e o turismo. Todos os anos, perto do dia 12 de outubro, data dedicada à santa, multidões caminham até o Santuário, ocupando as estradas, hotéis e comércio da região.

Uma estimativa da instituição religiosa informa que mais de 100 mil romeiros passaram pela Basílica no feriado da Padroeira em 2023.

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Basílica Santuário de Aparecida construída no local em que a Virgem foi encontrada. Foto: Agência Brasil

Diversas missas foram realizadas, cada uma com lotação máxima de 35 mil fiéis. A imagem de Nossa Senhora Aparecida – a original, aquela encontrada no rio – fica exposta em um mosaico dourado reluzente. No dia em que a santa é celebrada nacionalmente, a fila para vê-la chegou a exigir 40 minutos de espera.

A santa padroeira da Bolívia é Nossa Senhora de Copacabana. Se o nome não é estranho, é porque o bairro mais famoso do Brasil foi nomeado em homenagem à mesma aparição mariana. Comerciantes bolivianos e peruanos chegaram ao Rio de Janeiro no século 17, trazendo uma imagem de Maria – que acabou por nomear o bairro do calçadão.

Maria faz parte não somente das orações, mas também da política, economia e sociologia do sul latino. Nas palavras da pesquisadora Martha Robles, “é a figura feminina por excelência em uma terra de órfãos”.

Esta reportagem foi originalmente veiculada na Revista Babel, publicação laboratorial produzida por estudantes de jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), sob supervisão do prof. Dr. Alexandre Barbosa. A matéria original pode ser acessada neste link. A edição de junho de 2024 da revista pode ser acessada aqui. Escrita por Luana Franzão.

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