Diplomação da Resistência: USP entrega diplomas para alunos mortos na ditadura

Cerimônia diploma estudantes mortos pela Ditadura Militar. / Foto: Divulgação
diplomacao-da-resistencia-usp-entrega-diploma-para-alunos-mortos-na-ditadura-cerimonia-diploma-estudantes-mortos-pela-ditadura-militar-foto-divulgacao-diplomacao-da-resistencia-foto-memorial-da-resistencia-tvt-news
Cerimônia diploma estudantes mortos pela Ditadura Militar. / Foto: Divulgação

Hoje, o projeto Diplomação da Resistência, na USP, Universidade de São Paulo, fez mais uma cerimônia de diplomação honorífica de estudantes da universidade mortos pela Ditadura Militar. Entre os estudantes homenageados estão Lauriberto José Reyes, Luiz Fogaça Balboni, Manoel José Nunes Mendes de Abreu e Olavo Hanssen. A cerimônia aconteceu no Auditório Prof. Francisco Romeu Landi, no prédio de Administração da Poli.  Saiba mais em TVT News.

Reparação histórica

O projeto Diplomação da Resistência é fruto da parceria entre a pró-reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP), Pró-Reitoria de Graduação (PRG) e outras instituições e concede diplomas honoríficos a 31 estudantes da USP mortos durante a Ditadura Militar brasileira, a fim de reparar as injustiças e honrar a memória dos ex-alunos. 

De acordo com a Comissão da Verdade da USP, 39 alunos foram vítimas fatais, seis professores e dois funcionários. Na Escola Politécnica, a Diplomação da Resistência foi aprovada em reunião de sua Congregação realizada no dia 27 de junho de 2024.

Durante a diplomação, a professora dra. Ana Lúcia Duarte Lanna, pró-reitora de inclusão, relembrou a fala do ministro Flávio Dino durante o julgamento do ex-presidente de Jair Bolsonaro como réu. “Ele disse que golpe de Estado mata e, que ninguém morre no primeiro dia, mas que a morte no golpe de Estado se prolonga no tempo, porque diz respeito a torturas e desaparecimentos”. Ela também reforçou que lembrar é essencial “a memória feita coletivamente impede que normalizamos coisas que não podem ser normalizadas na nossa sociedade”.

O diretor da escola-técnica Reinaldo Giudici e a professora Maria Armindo do Nascimento Arruda ficaram responsáveis por entregar os diplomas. 

Regina Reyes, Vital Fogaça Balboni, Maria Graça de Mendes Abreu e Alice Hanssen receberam os diplomas dos irmãos.

Regina Reyes, irmã de Lauriberto José Reyes lembrou do desmonte das políticas de reparação durante o governo Bolsonaro. “Hoje, podemos dizer que a memória não morrerá porque ainda estamos aqui” e, complementou “memória não morrerá se ao resgatarmos o passado pudermos compreender os desafios do presente. Compreender e enfrentar os desafios da universidade em um país, que apesar dos avanços educacionais, e das mudanças do perfil universitário, ainda é persistentemente desigual, estruturalmente racista e historicamente patrimonialista”.

Já Vital Fogaça Balboni, irmão de Luiz Fogaça Balboni, comemorou o gesto político da Escola Politécnica da USP. “Esses estudantes que perderam a vida na mão da ditadura buscavam um mundo melhor para a população. São aqueles que poderiam transformar nosso país, contribuir com nossa sociedade, aqueles generais poderosos devem muito a nossa sociedade, interromperam um futuro brilhante de um jovem de apenas 24 anos. Aonde ele estaria hoje?”, indagou emocionado.

Durante a cerimônia do projeto Diplomação da Resistência, Maria Graça de Mendes Abreu, irmão de Manoel José Mendes Nunes de Abreu falou sobre a importância do resgate das memórias dos alunos ao receber os diplomas. “Nosso percurso é de realizar os sonhos dos antepassados e, agora, um sonho que estava suspenso se religa e, isso, para minha família tem um valor muito grande.”

Por último, Alice Hanssen, irmã de Olavo Hanssen, descreveu a Diplomação da Resistência como um presente “Olavo, assim como muitos jovens, ousaram pensar numa justiça social, num mundo onde tivesse menos injustiça social, desigualdade e, onde todos tivessem os mesmos direitos”, afirmou.

Biografias

diplomacao-da-resistencia-usp-entrega-diploma-para-alunos-mortos-na-ditadura-lauriberto-jose-reyes-morto-na-ditadura-aos-26-anos-foto-memorial-da-resistencia-tvt-news
Lauriberto José Reyes, morto na ditadura aos 26 anos. / Foto: Memorial da Resistência.

Nascido em São Carlos, São Paulo, em 1965 ingressou na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), vindo a residir no Conjunto Residencial daquela universidade, onde atuou como diretor cultural. Lauriberto era militante da Dissidência Estudantil do PCB/SP até a formação da Ação Libertadora Nacional (ALN). Posteriormente, passou a integrar o Movimento de Libertação Popular (Molipo). Foi um dos organizadores do XXX Congresso da União Nacional de Estudantes (UNE), em Ibiúna, tendo sido detido na ocasião.

Lauriberto foi acusado de participar com outros militantes da ALN do sequestro de um avião da Varig durante o trajeto Buenos Aires–Santiago, desviando-o para Cuba, no dia 4 de novembro de 1969. Em Cuba, realizou treinamento de guerrilha e, em setembro de 1971, retornou ao Brasil clandestinamente como militante do Molipo. Foi morto em 27 de fevereiro de 1972, aos 26 anos de idade, na mesma ocasião de Alexander José Ibsen Voerões, em ação perpetrada por agentes do Estado. 

diplomacao-da-resistencia-usp-entrega-diploma-para-alunos-mortos-na-ditadura-luiz-fogaca-balboni-morto-aos-24-anos-pela-ditadura-militar-foto-memorial-da-resistencia-tvt-news
Luiz Fogaça Balboni, morto aos 24 anos pela Ditadura Militar. / Foto: Memorial da Resistência.

Luiz Fogaça Balboni, ou “Zizo”, como era chamado pela família, nasceu em Itapetininga (SP). Mudou-se para São Paulo (SP) para realizar estudos universitários, na Escola Politécnica da USP. Na mesma cidade, trabalhou como professor e desenhista na Empresa Geotécnica. Luiz iniciou sua militância política em 1968, quando ingressou na Ala Vermelha do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Após divergência, desligou-se da organização e passou a militar na Ação Libertadora Nacional (ALN), a partir de março de 1969. No dia 24 de setembro de 1969, foi vítima de uma emboscada comandada por delegados do DOPS/SP, na capital paulista. Gravemente ferido, foi levado ao Hospital das Clínicas, onde morreu no dia seguinte, aos 24 anos de idade.

diplomacao-da-resistencia-usp-entrega-diploma-para-alunos-mortos-na-ditadura-manoel-jose-mendes-nunes-de-abreu-militante-da-acao-nacional-libertadora-morto-pela-ditadura-apos-uma-emboscada-foto-memorial-da-resistencia-tvt-news
Manoel José Mendes Nunes de Abreu, militante da Ação Nacional Libertadora, morto pela ditadura./ Foto: Memorial da Resistência.

Manoel iniciou a sua militância política no movimento estudantil, quando era aluno na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Era militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) e havia entrado na clandestinidade quando foi vítima de emboscada dos órgãos da repressão, no dia 23 de setembro de 1971. Nesta data, Manoel José Mendes Nunes de Abreu, Antônio Sérgio de Mattos, Ana Maria Nacinovic Corrêa e Eduardo Antônio da Fonseca, todos militantes da ALN, foram vítimas de uma emboscada engendrada pelos órgãos de segurança na rua João Moura, no bairro Sumarezinho, na cidade de São Paulo. Os agentes da repressão colocaram na rua um jipe do Exército aparentemente com problemas e à volta dele, em um caminhão baú do jornal Folha de S.Paulo, estavam escondidos os agentes do DOI-CODI/SP portando metralhadoras. Da ação resultou a morte de três dos quatro militantes, incluindo Manoel José. 

diplomacao-da-resistencia-usp-entrega-diploma-para-alunos-mortos-na-ditadura-olavo-hanssen-do-partido-operario-revolucionario-trotskista-port-morto-pela-ditadura-em-1970-foto-memorial-da-resistencia-tvt-news
Olavo Hanssen, do Partido Operário Revolucionário Trotskista (PORT), morto pela ditadura em 1970. / Foto: Memorial da Resistência.

Em 1960, ingressou na Escola Politécnica da USP, onde frequentou até o segundo ano do curso de Engenharia de Minas. Iniciou sua militância em 1961, associando-se ao Grêmio Politécnico e participando do movimento estudantil onde conheceu Tullo Vigevani, do Partido Operário Revolucionário Trotskista (PORT), ao qual se filiou. Foi trabalhar no setor de programação da Massari S.A. Indústria de Viaturas. Utilizando o codinome de Alfredo, e também apelidado de Totó, inscreveu-se no Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas e de Material Elétrico de São Paulo e deu início à sua militância no movimento operário. O Sindicato dos Metalúrgicos estava sob intervenção do governo e Hanssen tornou-se membro ativo da oposição sindical, defendendo propostas como a garantia do direito de greve, a oposição aos interventores nos sindicatos e a organização das comissões de fábrica. Durante a Ditadura Militar, Hanssen foi preso ao menos cinco vezes. Foi morto pelo regime em 1970.

Com informações de Memorial da Resistência e Diplomação da Resistência.

Leia também sobre ditadura militar e golpe de 31 de março de 1964

Assuntos Relacionados