Direita blindou o crime: Minc denuncia atuação de milícias e facções dentro da Alerj

Carlos Minc, em entrevista à TVT, lembra que "os bandidos nunca estão do nosso lado; estão do lado deles”
Para Minc, a votação evidencia uma prática recorrente na Alerj: “Mais uma vez, para surpresa zero, a maioria da assembleia acobertou envolvimentos criminosos
Para Minc, a votação evidencia uma prática recorrente na Alerj: “Mais uma vez, para surpresa zero, a maioria da assembleia acobertou envolvimentos criminosos

A revogação da prisão do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacelar (União Brasil), aprovada por 42 votos a 21 e formalizada nesta terça-feira (9), abriu crise política no Estado.

Em entrevista à apresentadora Talita Galli, do jornal TVT News Primeira Edição, o deputado estadual Carlos Minc (PSB) criticou duramente o que chamou de “bandeira da impunidade” hasteada pela maioria da casa, denunciou a infiltração de facções criminosas no parlamento fluminense e afirmou que a decisão fragiliza ainda mais a confiança social nas instituições.

A decisão, inédita em proporção e impacto, foi remetida ao Supremo Tribunal Federal, que agora decidirá sobre a eventual soltura do parlamentar, detido desde a semana passada na Superintendência da Polícia Federal.

Minc denuncia “acobertamento” e alinhamento

Para Minc, a votação evidencia uma prática recorrente na Alerj: “Mais uma vez, para surpresa zero, a maioria da assembleia acobertou envolvimentos criminosos e manteve bem alta a bandeira da impunidade”, disse.

Segundo o deputado, toda a esquerda votou pela manutenção da prisão e pelo afastamento de Bacelar, proposta que nem chegou a ser apreciada pelo plenário. Minc destacou ainda que até parte da direita “linha-dura”, que costuma se apresentar como defensora do combate ao crime, demonstrou incômodo com o caso:

“Eles passam o dia dizendo que tem que ‘cancelar CPF’ de bandido, mas, quando se trata dos tentáculos das facções dentro do parlamento, acobertados pelo presidente, aí muda tudo.”

STF deve soltar, mas impor medidas, avalia deputado

A decisão da Alerj não tem efeito automático sobre a detenção. Como explicou Minc, a assembleia pode votar pela revogação da prisão, mas não tem competência para afastar medidas cautelares.

“Tenho certeza que o Supremo terá que assinar a soltura, é obrigatório, mas deve afastá-lo da presidência e impor medidas como retenção de passaporte e uso de tornozeleira”, afirmou.

Infiltração do crime na política

O deputado descreveu um cenário de avanço contínuo das facções e milícias sobre o sistema político fluminense. Citou o caso do suplente TH Joias, suspeito de intermediar contrabando de armas e equipamentos para o Comando Vermelho, como símbolo da deterioração institucional.

“Eles usam o dinheiro do tráfico e da milícia, que não é pouco, para eleger vereadores, deputados estaduais, federais e influenciar governos. Corroem a democracia por dentro”, disse.

Minc lembrou que casos anteriores, como as operações Cadeia Velha e Furna da Onça, também resultaram em prisões revertidas com auxílio da própria Alerj, reproduzindo o que ele chamou de “ciclo da condescendência”.

Críticas à postura da esquerda e defesa de nova agenda de segurança

O deputado afirmou que a esquerda precisa enfrentar com mais clareza o domínio territorial de facções e milícias sobre as comunidades — algo que, segundo ele, vem sendo tratado de forma insuficiente.

“Esses grupos oprimem as comunidades, violam meninas, extorquem dinheiro, controlam serviços essenciais. E nós, por focarmos nas ilegalidades policiais — que devem, sim, ser denunciadas — acabamos batendo menos no domínio despótico dos traficantes”, avaliou.

Ele defendeu a retomada de políticas de segurança cidadã, como o Pronasci, e a recriação de um Ministério da Segurança Pública.

“A direita tenta transformar a segurança no único tema capaz de mobilizar seu eleitorado. Temos que avançar muito nisso e sabemos como.”

Armas: “Está na hora de endurecer novamente”

Questionado sobre o aumento do armamento no país, Minc defendeu medidas mais firmes contra o legado dos decretos de Jair Bolsonaro.

“Eu fiz a primeira lei de desarmamento no Rio e presidi a CPI das Armas. Vimos milhares de armas desviadas de quartéis e empresas de segurança. Lula já revogou vários decretos do Bolsonaro, mas parte das medidas foi travada pela bancada da bala. Precisamos retomar o controle”, afirmou.

Para o parlamentar, a ideologia da autodefesa armada serve a um projeto político golpista:
“É o bolsonarismo dizendo que cada um deve cuidar da própria segurança. E ainda usavam o argumento de que o povo precisava estar armado para impedir um golpe — o golpe que eles próprios tentaram.”

Papel do governo Cláudio Castro na votação

A atuação dos aliados do governador Cláudio Castro (PL) também entrou no debate. Segundo Minc, ainda que publicamente Castro tenha adotado um discurso “neutro”, figuras centrais do governo operaram pela substituição de Bacelar no comando da Alerj.

Ele citou Altineu Côrtes, presidente regional do PL, que visitou o presidente interino Guilherme Delaroli e liberou a bancada para votar.
“O PL tinha interesse em colocar alguém da própria sigla na presidência. Castro também tinha interesse em tirar Bacelar da linha sucessória”, explicou Minc.

“É triste, mas só resta resistir”

Para o deputado, o cenário revela uma combinação de interesses políticos, infiltração do crime e um ambiente institucional deteriorado.
“É triste, mas só nos resta resistir com dignidade, mesmo num espaço poluído”, concluiu.

Minc defendeu que a sociedade acompanhe de perto o comportamento dos parlamentares, pressionando por responsabilização:
“A cara de todos os deputados que votaram pela soltura está aí. A sociedade tem que ficar ligada.”

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