Pela primeira vez, EAD ultrapassa cursos presenciais no ensino superior brasileiro

Censo do MEC revela mudança histórica: mais da metade dos universitários está em cursos a distância
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Apesar do crescimento, modalidade EAD enfrenta desafios de qualidade e evasão. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

De acordo com dados do Censo da Educação Superior de 2024, divulgado pelo Inep/MEC na segunda-feira (22), o número de estudantes matriculados em cursos de graduação a distância (EAD) ultrapassou, pela primeira vez, o total de matriculados em cursos presenciais. Dos 10,22 milhões de universitários no país, 5,18 milhões (50,75%) estudam em cursos EAD, contra 5,03 milhões (49,25%) em graduações presenciais. Saiba mais na TVT News.

Essa virada confirma uma tendência da última década: o EAD não apenas deixou de ser complementar ao ensino presencial como se tornou a modalidade dominante, transformando o acesso ao ensino superior e o perfil dos estudantes brasileiros.

Crescimento em uma década

Entre 2014 e 2024, o número de matrículas em EAD saltou 286,7%, enquanto os cursos presenciais perderam 22,3% de seu público. A mudança também aparece entre os ingressantes: em 2024, dois terços (67%) dos novos alunos optaram por estudar a distância.

Esse movimento impactou diretamente os cursos noturnos presenciais, historicamente voltados para trabalhadores, que perderam 33,2% de seus alunos na última década. A flexibilidade dos cursos online, combinada ao menor custo, acabou atraindo esse público.

Rede privada e concentração geográfica

O crescimento do EAD no Brasil é liderado quase que exclusivamente pelo setor privado. Mais de 95% dos alunos estão matriculados em instituições particulares, e quatro estados concentram 88% das faculdades que oferecem essa modalidade: São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina.

Migração de licenciaturas e cursos tecnológicos

Algumas áreas migraram quase que totalmente para o digital. Em 2024, 82,6% das matrículas em cursos tecnológicos foram na modalidade EAD. Entre as licenciaturas, quase 69% dos alunos já estudam a distância e, entre os novos ingressantes, esse índice chega a 80%.

Na rede privada, a adesão é praticamente total: 93,8% dos novos estudantes de licenciatura optaram pelo ensino remoto. A tendência preocupa, pois a formação de professores é estratégica para o futuro da educação básica no país.

Crescimento em queda e novas regras do MEC

Apesar do domínio, o crescimento do EAD mostra sinais de desaceleração. A taxa anual de expansão caiu de 13,4% (2022-2023) para 5,6% (2023-2024).

O Ministério da Educação também endureceu as regras em 2025 para garantir qualidade mínima nos cursos:

  • Cursos como Medicina, Direito, Odontologia, Psicologia e Enfermagem foram proibidos de serem ofertados 100% online;
  • Nenhum curso poderá ser integralmente a distância: é exigido no mínimo 20% da carga horária presencial ou em atividades síncronas (aulas ao vivo);
  • Foi formalizado o modelo semipresencial, visto como alternativa estratégica para o futuro do setor.

Desafios de permanência e conclusão

O crescimento no acesso não se traduziu em permanência. O Censo 2024 revelou que a evasão no ensino superior atingiu 17,5% no período 2023-2024, o maior índice da série histórica. A taxa é maior entre homens (18,1%) e aumenta para 23,4% entre estudantes com 50 anos ou mais.

A permanência caiu para 75,3%, enquanto a conclusão efetiva foi de 64,9%, números inferiores aos pré-pandemia. Mulheres seguem com desempenho superior, concluindo 67,8% dos cursos contra 60,9% dos homens.

Novo retrato do estudante brasileiro

O perfil do aluno de graduação a distância é majoritariamente feminino, com ingresso médio aos 19 anos, matrícula aos 22 e conclusão aos 24. É um público mais conectado, que utiliza plataformas digitais e concilia estudo, trabalho e vida pessoal.

Do aluno que estuda presencialmente, a maior parte é do gênero feminino no turno noturno, com ingresso médio aos 19, matrícula aos 20 e conclusão aos 23. 

Futuro do ensino superior no Brasil

O Censo demonstra que se, por um lado, o EAD democratizou o acesso e reduziu barreiras geográficas, por outro expôs desafios de qualidade, evasão e desigualdade regional.

Com as novas regras, o modelo híbrido ou semipresencial deve se consolidar como alternativa intermediária entre custo, flexibilidade e qualidade. O desafio agora é garantir não apenas o acesso, mas a permanência e a formação adequada dos milhões de estudantes que apostaram no ensino remoto.

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