Eleições na Bolívia: 2º turno terá dois nomes da direita

Rodrigo Paz lidera com 32,18% e Jorge “Tuto” Quiroga fica em segundo com 26,94%; racha no MAS enfraquece a esquerda
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Pela primeira vez em duas décadas, esquerda está fora da disputa. Foto: Reprodução/Instagram

O primeiro turno das eleições presidenciais na Bolívia, realizado no último domingo (17), confirmou uma guinada no cenário político do país. Pela primeira vez em duas décadas, a disputa presidencial será decidida entre dois nomes ligados à direita. O senador Rodrigo Paz, do Partido Democrata Cristão (PDC), alcançou 32,18% dos votos e terminou em primeiro lugar. Em segundo, ficou o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga, da coalizão conservadora Alianza, com 26,94%. Os dois se enfrentarão no segundo turno, marcado para 19 de outubro.

Rodrigo Paz, de 57 anos, é filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora. Economista, já foi vereador, deputado e prefeito de Tarija, além de senador desde 2020. Sua trajetória política, inicialmente vinculada à Comunidad Ciudadana, ganhou força ao defender uma agenda de descentralização, por meio de sua proposta de dividir em partes iguais os recursos públicos entre o governo central e os governos regionais. Durante a campanha, apresentou-se como alternativa ao desgaste do MAS e à figura de Quiroga, defendendo o que chamou de um “novo ciclo de transformações”.

Já Jorge Quiroga, de 65 anos, governou a Bolívia entre 2001 e 2002, após a renúncia de Hugo Banzer. Representando setores mais tradicionais da direita, sua campanha foi centrada em propostas de austeridade fiscal, redução do tamanho do Estado e reaproximação com organismos internacionais como o FMI e o Banco Mundial. Ele também defendeu o distanciamento de governos aliados ao MAS, como Venezuela, Cuba e Nicarágua. Com sua coalizão formada em abril deste ano, conseguiu consolidar uma base que lhe garantiu o segundo lugar.

O resultado evidenciou a crise interna do Movimento ao Socialismo (MAS), partido que governou o país nos últimos 19 anos. A divisão entre o atual presidente Luis Arce e o ex-presidente Evo Morales resultou em candidaturas concorrentes e pouco expressivas. O ministro Eduardo del Castillo, apoiado por Arce, recebeu apenas 3,16% dos votos, enquanto Andrónico Rodríguez, ligado a Morales, obteve em torno de 8%. A chamada de Evo para que seus seguidores votassem nulo ampliou o índice de votos inválidos para mais de 19%, número inédito em eleições bolivianas, e contribuiu para o fracasso da legenda.

O presidente Luis Arce reconheceu o resultado, afirmando que “a democracia triunfou”, mas o partido sai do pleito enfraquecido e dividido. Morales, impedido de concorrer, manteve sua postura crítica à condução do MAS sob Arce, reforçando o racha que desmobilizou parte do eleitorado.

Além da crise política, a eleição ocorreu em meio a um cenário econômico delicado. A Bolívia enfrenta inflação elevada, acima dos 23%, escassez de combustíveis e forte pressão cambial, com dificuldades no acesso a dólares. Esse quadro, que deteriorou as condições de vida da população, foi determinante para a perda de apoio do MAS e abriu espaço para candidaturas conservadoras.

O resultado do primeiro turno confirma a fragmentação do campo progressista e marca o fim da hegemonia de um partido que, desde a chegada de Evo Morales ao poder em 2006, havia dominado a cena política boliviana. O segundo turno entre Paz e Quiroga colocará em disputa duas visões distintas dentro da direita, mas sem a presença de uma candidatura de esquerda competitiva, num cenário inédito na história recente do país.

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