O Brasil deixou uma forte impressão no segundo Fórum Global sobre Refugiados (GRF, sigla em inglês), realizado em dezembro de 2023, em Genebra, Suíça. Durante o evento, coorganizado pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e pelo governo da Suíça, o país registrou uma das maiores promessas do setor privado neste evento internacional que reuniu mais de 4 mil participantes de 168 países, incluindo 320 representantes refugiados.
O setor privado brasileiro, representado no GRF por 22 empresas e organizações, assumiu um compromisso coletivo de impactar diretamente a vida de mais de 17 mil refugiados no Brasil até o final de 2027. As iniciativas incluem contratação formal, capacitação para o mercado de trabalho e apoio à inclusão econômica de pessoas que foram forçadas a deixar seus lares, alinhando-se à ambição do Fórum de encontrar soluções sustentáveis para refugiados por meio de expertise técnica, investimentos e mudanças internas para políticas mais inclusivas, pautadas na diversidade.
“A participação do setor privado no processo de integração de refugiados é uma parte fundamental de seu papel social”, afirmou Davide Torzilli, Representante do ACNUR no Brasil. Ele destacou que essa responsabilidade coletiva pode trazer resultados efetivos e promover a redução de desigualdades, aproveitando o conhecimento e a experiência que os refugiados trazem de seus países de origem.
Fórum sobre refugiados
As empresas envolvidas no Fórum Global sobre Refugiados integram, no Brasil, o Fórum Empresas com Refugiados, uma iniciativa do ACNUR e do Pacto Global da ONU no Brasil. Desde 2022, o fórum nacional tem promovido ações de capacitação, compartilhamento de experiências e boas práticas para facilitar a contratação e integração de pessoas refugiadas nos ambientes de trabalho, contribuindo efetivamente para atingir resultados efetivos em diferentes segmentos de negócios.
Um exemplo é a Accor Brasil, que se comprometeu a contratar 280 refugiados de diversas nacionalidades e oferecer capacitação em hospitalidade a outros 600 profissionais. Em 2024, em parceria com uma escola de hospitalidade, a empresa ofereceu cursos gratuitos a 70 refugiados e migrantes em São Paulo, com a primeira turma tendo se formado em agosto. Atualmente, a Accor emprega 150 profissionais refugiados em seus hotéis.
“Esperamos que o setor de hospitalidade seja um dos que mais cresçam na próxima década, oferecendo inúmeras oportunidades de carreira para indivíduos talentosos e responsáveis, como as pessoas refugiadas”, comentou Laís Fernanda de Souza, gerente de Diversidade, Equidade e Inclusão da Accor, durante um evento paralelo ao “Summit of the Future: Propondo-se para o Futuro – promovendo o Pacto para o Futuro por meio do GCR. O evento foi organizado pelo ACNUR e copatrocinado pelos governos do Canadá e da Colômbia para demonstrar o reforço mútuo necessário para endereçar as questões dos deslocamentos nas Américas.
A Construtora Tenda também se destacou no Fórum com o compromisso de garantir que 10% de sua força de trabalho em canteiros de obras seja composta por profissionais refugiados até o final de 2025. Essa meta foi alcançada antecipadamente em novembro de 2024, com 210 refugiados já empregados, sendo mais da metade contratados neste ano.
“Nosso programa está agora presente em 86% das regionais da empresa com projetos em andamento, reforçando nosso compromisso com essa agenda de inclusão. Nosso objetivo é também chegar a 100% das regionais”, explicou Lucas Moura, gerente de Comunicação e Responsabilidade Corporativa da Tenda.
Refugiados e proteção
A empresa Foundever percebeu que ao contratar pessoas que precisam de proteção internacional, conseguiu atender uma demanda interna com mais qualidade, e começou a incentivar outras empresas a fazerem o mesmo. “Contratar profissionais venezuelanos hoje está se mostrando essencial para a empresa. Hoje temos 700 colaboradores refugiados e migrantes, mas ainda é pouco quando você considera que todos os dias, mais de 300 venezuelanos chegam ao Brasil via Roraima. Estou muito empenhado em divulgar essa iniciativa para outros CEOs. É uma responsabilidade enorme, mas também um sucesso e um motivo de orgulho para mim”, afirma o CEO da Foundever no Brasil, Laurent Delache.
Um exemplo é Kiria Flores, venezuelana que vive no Brasil há seis anos. Ela começou como assistente na Foundever, mas logo teve a oportunidade de receber treinamento dentro da empresa para liderar equipes que têm o espanhol como língua nativa. “Quero continuar crescendo na empresa para continuar ajudando minha família e ter um futuro melhor no Brasil, comprando minha própria casa”, planeja.
A participação ativa do setor privado brasileiro no Fórum Global de Refugiados demonstra como a colaboração entre as partes interessadas pode criar soluções duradouras e positivas tanto para as pessoas empregadas como também para os resultados da empresa. Por meio de compromissos como os feitos pela Accor e pela Tenda Construction, os refugiados não apenas têm oportunidades de emprego, mas também são capacitados para reconstruir suas vidas e contribuir para a economia do país anfitrião, permitindo uma melhor inclusão social e econômica de pessoas deslocadas à força.
No próximo GRF em 2027, o exemplo do Brasil, inclusive de compromissos anunciados pelo governo brasileiro, pode inspirar outros Estados e empresas a também se apresentarem, garantindo que os refugiados possam encontrar proteção, estabilidade e a chance de prosperar em suas novas comunidades, inclusive contribuindo para o desenvolvimento delas. O protagonismo assumido pelas empresas no Brasil serve como um excelente exemplo de que, quando se trabalha com compromisso e centrado em resultados, um futuro mais digno e diverso pode ser atingido para todos.