Enquanto famílias buscam corpos, governadores de direita comemoram massacre

"Brasil não tem pena de morte e operações policiais não podem ser cinematográficas", cobra o deputado Dimas Gadelha (PT-RJ)
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“Montado em 130 caixões, é o lançamento da candidatura de Cláudio Castro”, criticou. Foto: Reprodução

O deputado federal Dimas Gadelha (PT-RJ), em entrevista ao Jornal TVT News Primeira Edição nesta sexta-feira (31), fez dura crítica à operação policial convertida em massacre que resultou na morte de 121 pessoas e no acúmulo de cem corpos ainda aguardando perícia no Rio de Janeiro. Para Dimas, o episódio não pode ser visto como um êxito apenas por causa do número de mortos — e muito menos transformado em espetáculo político por pré-candidatos e governadores de direita. Leia em TVT News.

“Uma operação para ser de sucesso não precisa apenas apreender drogas, prender bandidos ou armas. Ela precisa, acima de tudo, não ter letalidade”, disse o parlamentar, lembrando que o objetivo de segurança pública é preservar vidas — tanto de moradores quanto de policiais — e reduzir o custo social da ação. Em vez disso, Gadelha acusou os responsáveis de promoverem uma ação “pensada em política” e “para a plateia”: “isso é cena para cinema”, resumiu.

O deputado também reage com preocupação ao uso político do episódio. Ele descreveu o que chamou de “lançamento de candidatura” montado em torno dos enterros, citando o secretário de segurança do Rio e a presença de governadores que, segundo ele, transformaram a tragédia em palanque. “Montado em 130 caixões, é o lançamento da candidatura de Cláudio Castro”, criticou, apontando que figuras como Tarcísio de Freitas, Romeu Zema e Ronaldo Caiado celebraram a operação e anunciaram o chamado “Consórcio da Paz”.

Gadelha questionou ainda a narrativa oficial segundo a qual a grande maioria dos mortos eram “bandidos”. “Como se houvesse pena de morte no Brasil”, observou, ao rebater aquela versão e denunciar a queima de arquivo: em vez de trazer detidos para depor e investigar, disse o deputado, muitos foram silenciados com a morte.

O parlamentar pediu respostas concretas sobre o que virá depois da ação: “Cadê a ocupação desse espaço depois? Qual é o plano para ocupar esse espaço que era dominado pelo crime organizado?” Ele alertou para o risco de que, sem políticas de presença e ações sociais, a área volte a ser dominada por grupos criminosos. “Enxugar gelo”, afirmou, é a expressão que usou para descrever políticas de segurança que repetem incursões letais sem estratégia de médio e longo prazo.

Ao tratar da realidade das favelas, Dimas trouxe um depoimento ilustrativo: a mesma família, o mesmo bairro e destinos opostos para dois irmãos — um morto em operação, outro beneficiado por projeto social e prestes a se formar na universidade. “A política pública é compromisso com a seriedade”, disse, lembrando que prevenção, investimento social e enfrentamento das estruturas financeiras do crime são caminhos efetivos, não operações espetaculares.

Sobre a pauta da pena de morte e a pressão da extrema direita, o deputado foi incisivo: “Não, não, não tem espaço para discussão disso.” Ele se disse contra a naturalização da pena de morte e afirmou que a solução não passa por matar, mas por políticas públicas que toquem nas feridas verdadeiras — educação, inclusão e repressão qualificada às redes financeiras do crime.

Dimas também denunciou contratos de conveniência entre gestores locais e grupos criminosos, que impedem o enfrentamento integral da milícia e do tráfico em certas regiões, e criticou a paralisação da PEC da segurança pública na Câmara, culpando setores da direita por travar reformas que poderiam criar um sistema de segurança integrado e capaz de atuar em redes mais amplas do crime organizado.

Ao fim da entrevista, a mensagem do deputado foi clara: a sociedade precisa de coragem para ver além do espetáculo. “Não é com pena de morte, não é com policial entrando em favela de forma cinematográfica que vamos acabar com o crime organizado”, concluiu, pedindo que o debate público volte-se para soluções estruturais e para o respeito à vida — sobretudo das famílias que, neste momento, ainda buscam os corpos dos seus mortos.

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