A derrota do texto original do Projeto de Lei (PL Antifacção) enviado pelo governo federal à Câmara desencadeou reação de entidades e parlamentares. Para a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e para a deputada estadual Professora Bebel (PT-SP), o substitutivo apresentado por Guilherme Derrite (PL-SP), com apoio do líder do Republicanos, Hugo Motta, representa um “retrocesso” no enfrentamento ao crime organizado e um movimento político alinhado ao bolsonarismo. Entenda na TVT News.
Em nota, a FUP classificou a aprovação como “um golpe no combate ao crime organizado”. A entidade afirma que “ao desfigurar o PL Antifacção enviado pelo Governo Federal, que fortalecia a Polícia Federal (PF), a extrema-direita e o centrão deixaram claro a quem desejam proteger”.
A federação critica especialmente o impacto financeiro sobre a PF. “A mudança proposta por Guilherme Derrite, com apoio do Hugo Motta, retira recursos da PF e enfraquece quem investiga os verdadeiros chefes do crime”, diz o comunicado. Para a FUP, o desmonte afeta justamente as investigações que miram o crime organizado de colarinho branco: “Os mandachuvas não estão nas favelas: estão nos escritórios de luxo, nas estruturas financeiras, no colarinho branco”.
A entidade cita ainda episódios recentes para reforçar seu argumento. “O próprio caso do PCC na Faria Lima, revelado pela PF, mostra isso”, afirma, além de mencionar o episódio do avião da FAB flagrado com cocaína durante o governo Bolsonaro. “O sargento traficou sete vezes e só ele foi responsabilizado. Nenhuma palavra sobre como esse esquema operou dentro de uma comitiva presidencial”, diz o texto. Para a federação, o resultado votado na Câmara “protege os grandes ‘tubarões’, aqueles que nunca aparecem algemados na TV”.
A FUP conclui defendendo que o Senado reverta o quadro: “Agora, cabe ao Senado corrigir o projeto e devolver à PF as condições reais de enfrentar o crime organizado, sem seletividade e sem proteger os de cima”.
“Tarcísio não é terceira via. É a mesma via autoritária”, diz Bebel
A deputada estadual Professora Bebel também critica a desfiguração do projeto e amplia o debate ao situar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como protagonista desse movimento. Ela rebate a tentativa de setores da mídia de apresentar Tarcísio como alternativa moderada ao bolsonarismo.
“Os meios de comunicação que desejam alavancar sua candidatura presidencial tentam transformar barro em ouro”, afirma. “A postura política de Tarcísio nada tem de moderada”. Para Bebel, o governo paulista é “autoritário, não respeita os direitos do funcionalismo, faz do assédio moral um método de administração e utiliza a força policial para oprimir os segmentos mais pobres da população”.
A deputada cita dados do relatório Pele Alvo, da Rede de Observatórios da Segurança, para reforçar seu diagnóstico: “São Paulo registrou um aumento de 59,2% nas mortes decorrentes de intervenção policial entre 2023 e 2024. Do total de vítimas, 66% eram negras”.
No contexto do debate nacional sobre segurança pública, impulsionado tanto pela operação federal Carbono Oculto quanto pela matança de 121 pessoas em ação policial no Rio de Janeiro, Bebel critica o papel de Tarcísio. “E o que fez o governador Tarcísio de Freitas diante deste debate? Enviou seu secretário da Segurança Pública de volta à Câmara dos Deputados para desfigurar o projeto de lei do presidente Lula contra o crime organizado”.
A parlamentar retoma a trajetória do relator do PL Antifacção, Guilherme Derrite, para sustentar sua crítica. “Derrite é ex-policial, excluído da Rota por ‘excesso de mortes’. Como relator, alterou a proposta de Lula, retirando recursos da Polícia Federal e criando uma situação que levará à aplicação de penalidades mais brandas para o crime organizado”. Por isso, resume, o texto tem sido apelidado de “PL da blindagem 2”.
Bebel ainda aponta a proximidade de Tarcísio com o bolsonarismo: “Tarcísio pede anistia a Bolsonaro e demais golpistas condenados, mantém pessoas ligadas a atividades criminosas em seu governo e pratica cada vez mais discursos de ódio contra o Partido dos Trabalhadores”. Para ela, é ilusório enxergá-lo como alternativa política: “Tarcísio não é terceira via. É a mesma via autoritária de Bolsonaro e sua turma”.
Senado vira palco do PL Antifacção
Com a votação na Câmara encerrada, as atenções se voltam ao Senado, onde governo federal e entidades esperam reverter as mudanças. A FUP resume o que está em disputa: “Segurança de verdade se faz enfrentando os chefes, não apenas a base visível das facções”.
Para Bebel, o caminho também é claro: “Espero que o Senado o altere”.
Enquanto isso, o debate nacional sobre segurança pública segue tensionado entre dois modelos: o que aposta na investigação qualificada e no combate às estruturas financeiras das facções, e o que, segundo as críticas, reforça o punitivismo seletivo e mantém intocáveis os operadores do crime no topo da cadeia.
