Instituto Vladimir Herzog e DPU pedem retomada de renomeação de ruas em São Paulo

Entidades recorreram da decisão que suspendeu programa da prefeitura que busca alterar os nomes de ruas homenageando figuras da ditadura
elevado-presidente-joao-goulart-conhecido-como-minhocao-antes-recebia-o-nome-de-presidente-costa-e-silva-foto-rovena-rosa-agencia-brasil-tvt-news
Elevado Presidente João Goulart, conhecido como Minhocão, antes recebia o nome de Presidente Costa e Silva. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

O Instituto Vladimir Herzog e a Defensoria Pública da União (DPU) apresentaram recurso contra a decisão que suspendeu a implementação do Programa Ruas de Memória, iniciativa da prefeitura de São Paulo que busca alterar os nomes de ruas e logradouros públicos na capital homenageando figuras ligadas à ditadura militar. A medida, aprovada pela Câmara Municipal em 2016, prevê mudanças graduais nos nomes de vias que prestam tributo a agentes do regime militar instaurado em 1964. No entanto, mais de uma década após a criação da lei e cinco anos depois da publicação do decreto, os logradouros permanecem com as mesmas denominações. Confira mais em TVT News.

Um exemplo é a Avenida Presidente Castelo Branco, que liga a Zona Norte ao Centro de São Paulo e ainda carrega o nome do general do Exército, primeiro presidente do regime militar. Outro caso é a Rua Délio Jardim de Matos, localizada na Zona Sul, que homenageia o tenente-brigadeiro da Aeronáutica ex-ministro entre 1979 e 1985 e um dos articuladores do golpe que derrubou o presidente João Goulart.

av-presidente-castelo-branco-(marginal-tiete)-permanece-com-o-nome-do-primeiro-presidente-da-ditadura-foto-rovena-rosa-agencia-brasil-tvt-news
Av. Presidente Castelo Branco (marginal Tietê) permanece com o nome do primeiro presidente da ditadura. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

No final do ano passado, a 3ª Vara de Fazenda Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo determinou, liminarmente, que o município apresentasse, no prazo de 60 dias, um cronograma detalhado para a execução da política pública de renomeação dos logradouros. Contudo, em fevereiro deste ano, o desembargador Fausto Seabra, relator da 7ª Câmara de Direito Público, acolheu os argumentos da prefeitura e suspendeu a decisão.

Leia também: Governo brasileiro reconhece Vladmir Herzog como anistiado político

A administração municipal afirmou que diversas vias já tiveram seus nomes alterados desde o início do programa, citando exemplos como:

  • A Rua Doutor Sérgio Fleury, renomeada para Rua Frei Tito;
  • A Avenida General Golbery do Couto e Silva, que passou a se chamar Avenida Giuseppe Benito Pegoraro;
  • A Via Elevada Presidente Arthur Costa e Silva, rebatizada como Elevado Presidente João Goulart.

Além disso, a prefeitura argumentou que o decreto que instituiu o programa não estipula prazo específico para a realização das mudanças, o que, segundo ela, justificaria a ausência de um cronograma formal.

Entidades questionam inércia administrativa

Diante dessa decisão, o Instituto Vladimir Herzog e a Defensoria Pública contestaram o entendimento judicial, alegando que a inércia da gestão municipal na execução do Programa Ruas de Memória é evidente. As entidades destacam a falta de dotação orçamentária específica para o programa, a ausência de um responsável institucional claramente definido e pouca transparência na execução das ações previstas no decreto.

No recurso, as organizações afirmaram que “a ausência de um prazo específico não isenta o Executivo de implementar ações concretas e contínuas para o cumprimento da política pública. O caráter progressivo da mudança não autoriza a omissão administrativa, especialmente considerando que o programa foi instituído há mais de oito anos. Ora, o Programa foi aprovado para ser cumprido e não para ser letra morta”.

As entidades agora podem ingressar com novo recurso, solicitando a suspensão ou até a revogação da liminar. Caso contrário, a decisão favorável à prefeitura continuará válida até que o processo seja julgado definitivamente.

Assuntos Relacionados