Trabalhadores de aplicativos de entrega anunciaram, por meio das redes sociais, uma paralisação nacional de dois dias a partir desta segunda-feira (31). Confira mais sobre a greve dos motoboys em TVT News.
Saiba mais sobre a greve dos motoboys e trabalhadores de app
O movimento, denominado “Breque dos APPs”, reúne entregadores de 59 cidades brasileiras, incluindo grandes capitais como São Paulo, Florianópolis, Rio de Janeiro e Salvador. A mobilização conta com diversas lideranças, como a Aliança Nacional dos Entregadores por Aplicativos (Anea) e conta com o apoio do Movimento VAT (Vida Além do Trabalho), que também atua na defesa de direitos trabalhistas e na luta contra a escala 6×1 no Congresso Nacional.
Os entregadores exigem melhorias urgentes nas condições de trabalho, entre elas: pagamento mínimo de R$ 2,50 por quilômetro rodado, limitação de 3 quilômetros para entregas realizadas com bicicletas e o fim do agrupamento de corridas sem compensação financeira adequada. Eles argumentam que, sem esses ajustes, os ganhos não acompanham o aumento do custo de vida, enquanto os trabalhadores arcam sozinhos com despesas como combustível, manutenção de veículos e riscos diários no trânsito.
As demandas desses trabalhadores contrastam com as negociações realizadas por outros setores que utilizam plataformas digitais. Por exemplo, motoristas de aplicativos de transporte, em um acordo mediado pelo governo federal no ano passado, optaram por não buscar formalizações trabalhistas previstas na CLT. Já os entregadores têm denunciado há anos a precarização das condições de trabalho, agravada durante a pandemia de COVID-19, quando houve um aumento exponencial no número de profissionais no setor. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, cerca de 1,5 milhão de pessoas trabalhavam por meio de aplicativos de serviços no Brasil.
Paralisação afeta principais apps de entrega
A greve impacta os principais aplicativos de entrega em operação no país, como iFood, Uber Flash e 99 Entrega. Além da interrupção dos serviços, atos públicos estão programados para ocorrer em pelo menos 19 capitais brasileiras, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre e Manaus. Em São Paulo, o protesto terá início na Praça Charles Miller, no Pacaembu, com concentração marcada para as primeiras horas da manhã. Posteriormente, os manifestantes seguirão para o vão do MASP, na Avenida Paulista, antes de encerrar o ato em frente à sede do iFood, líder do mercado de entrega de comida na América Latina.

O iFood é o principal alvo das críticas dos entregadores, que acusam a empresa de impor exigências sem transparência e realizar bloqueios arbitrários. Esses bloqueios, conhecidos como “strikes”, podem ocorrer por motivos como demora em aceitar uma corrida ou supostos desvios de rota, mesmo quando não há evidências concretas dessas infrações. Os trabalhadores que sofrem esse tipo de penalidade não recebem explicações detalhadas e podem ficar meses sem poder acessar a plataforma.
Em resposta ao movimento, o iFood enviou um e-mail aos organizadores destacando que, nos últimos três anos, aumentou os valores pagos por quilômetro rodado e elevou a taxa mínima paga por entrega de R$ 5,31, em 2022, para R$ 6,50, em 2023. A empresa também afirmou que “segue ouvindo os entregadores e trabalhando continuamente para melhorar tanto os ganhos quanto o dia a dia desses profissionais, e de todo o ecossistema de delivery”.
Já a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), que representa diversas plataformas de entrega, divulgou uma nota defendendo a regulação do trabalho intermediado por plataformas digitais. A entidade declarou que suas empresas associadas “mantêm canais de diálogo contínuo com os entregadores” e “apoiam medidas que garantam proteção social aos trabalhadores e segurança jurídica para as atividades”.
Histórico de mobilizações
Esta não é a primeira vez que entregadores por aplicativo organizam paralisações. Desde a pandemia de COVID-19, o setor tem sido palco de diversas mobilizações. Em julho de 2020, uma greve nacional reivindicava aumento no valor mínimo por entrega, fornecimento de vale-refeição, seguro de vida, fim de bloqueios injustificados pelas plataformas e equipamentos de proteção individual (EPIs).
Em abril de 2022, entregadores de pelo menos cinco estados brasileiros participaram de novas paralisações, afetando capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia e Porto Velho. Essas ações foram organizadas por trabalhadores avulsos, sem a participação de sindicatos ou associações de classe.
Apesar do amplo alcance do movimento, a ausência de um organização centralizada gera enormes desafios. Por não contar com uma estrutura sindical unificada e por ser liderado por diferentes grupos regionais, não há garantias de uma adesão total dos entregadores. Mesmo assim, os organizadores afirmam que o objetivo é chamar a atenção da sociedade e das empresas para as condições precárias enfrentadas pelos trabalhadores.
Com a crescente dependência dos serviços de entrega no Brasil, o debate sobre os direitos desses profissionais ganha relevância. Enquanto as plataformas digitais promovem avanços tecnológicos e ampliam seus lucros ano a ano, a falta de regulamentação clara e de proteção social permanece um obstáculo para quem está na linha de frente dessa economia digital.