O Movimento Vida Além do Trabalho (VAT) realizou uma passeata neste 1º de maio em São Paulo. Após concentração próximo à estação Paraíso, centenas de manifestantes marcharam pela Avenida Paulista. Torcidas antifascistas, sindicatos como a CSP Conlutas, a Intersindical e movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e Central de Movimentos Populares (CMP) marcaram presença. Outras cidades, como Belo Horizonte, também registraram atos pela causa. Entenda na TVT News.

“O trabalhador merece e precisa de vida e oportunidade (…) Essa é a pauta prioritária do país nesse momento (…) Uma pauta puxada por negros e negras, mulheres, trabalhadoras e trabalhadores”, disse, durante o ato, a deputada federal Erika Hilton (Psol-SP), presente no ato, uma das vozes mais ativas pelo fim da escala de exaustão dos trabalhadores.
O ponto central da manifestação de São Paulo neste Dia das Trabalhadoras e dos Trabalhadores é uma pauta simples. Vida digna para além dos olhos controladores dos patrões. O fim da escala 6 x 1, na qual os trabalhadores se submetem a um regime de uma folga por semana, muitas vezes em dia útil, e não possuem tempo para a família, lazer ou mesmo para estudos e aperfeiçoamento. Trata-se de um regime que sufoca as famílias e impede a dignidade dos cidadãos.
“Represento o Movimento Vida Além do Trabalho. Precisamos unificar a luta neste 1º de maio. Nós, trabalhadores, não venceremos sozinhos. Quando uma categoria perde, todos nós perdemos. Por isso que trabalhadores, servidores, sustentam esse país. Precisamos dizer que quem manda neste país é a classe trabalhadora. União, está na hora de mostrar nossa força”, disse Priscila Santos.
Vida Além do Trabalho
Liderado pelo influenciador digital e agora vereador pelo PSOL do Rio de Janeiro, Ricardo Azevedo, o Movimento Vida Além do Trabalho (VAT) quer pôr fim à jornada conhecida como escala 6×1 — modelo em que o trabalhador tem direito a apenas um dia de descanso após seis dias consecutivos de trabalho.
Azevedo, que ganhou notoriedade nas redes sociais em 2023 por meio de vídeos virais no TikTok, transformou seu desabafo pessoal como balconista de farmácia em um chamado à mobilização da classe trabalhadora. “É uma escravidão moderna”, afirmou em um dos vídeos que somou milhões de visualizações. “Se a gente não se revoltar, colocar a boca no mundo, meter o pé na porta, as coisas não vão mudar.”
A proposta do VAT ganhou ainda mais força após sua eleição como vereador no primeiro turno, em 6 de outubro, e ecoou no Congresso Nacional. No último 1º de maio, Dia do Trabalhador, a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) anunciou o envio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para revisar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que atualmente permite esse regime, desde que não ultrapasse as 44 horas semanais.
“Trabalhar seis dias para folgar um não é vida, é exploração”, declarou Hilton em vídeo publicado nas redes sociais. “Não dá para viver só um sétimo da própria vida. Nossa lei precisa mudar.”

Burnout e exaustão: um retrato alarmante
A iniciativa também chama atenção para os impactos diretos do modelo 6×1 na saúde dos trabalhadores. Segundo dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), cerca de 30% dos brasileiros economicamente ativos sofrem de síndrome de burnout, distúrbio causado por estresse crônico relacionado ao trabalho. O Brasil está atrás apenas do Japão em número de casos diagnosticados.
A petição pública do movimento destaca que a escala 6×1 “compromete a saúde, o bem-estar e as relações familiares” dos empregados, e defende que a legislação deve refletir avanços no debate sobre dignidade e qualidade de vida.
Além da redução da jornada, o movimento propõe a criação de espaços de debate público sobre o tema, a formulação de políticas públicas de proteção ao trabalhador e uma fiscalização rigorosa das empresas, com punições severas em caso de descumprimento das normas.
Conquistas locais: o caso de Pindamonhangaba
O movimento já começa a render frutos concretos. Em Pindamonhangaba (SP), trabalhadores da unidade da empresa Gerdau — uma das maiores produtoras de aço do país — conseguiram, após negociação em setembro, o fim da escala 6×1 na planta industrial local. A decisão passa a valer a partir de janeiro, com todos os direitos dos funcionários preservados e a proibição de retorno a esse regime.
O caso da Gerdau é visto pelo movimento como um exemplo inspirador e demonstra que a mobilização coletiva pode gerar resultados práticos. Para Ricardo Azevedo, o próximo passo é “transformar indignação em política pública”, e sua atuação no legislativo municipal será, segundo ele, dedicada a esse objetivo.
Enquanto o projeto avança nas ruas e no Congresso, o VAT busca consolidar uma agenda que vá além do ativismo digital: “Queremos devolver à classe trabalhadora o tempo que lhe foi tirado”, resume Azevedo.
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