EUA cancelam vistos de esposa e filha de Alexandre Padilha

Padilha foi um dos articuladores da implantação do Mais Médicos. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ABR

Os Estados Unidos cancelaram os vistos da esposa e da filha do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em mais um capítulo da ofensiva de Washington contra autoridades brasileiras ligadas ao programa Mais Médicos e à cooperação com Cuba. A decisão foi comunicada nesta sexta-feira (15) pelo Consulado-Geral dos EUA em São Paulo e, segundo informaram familiares, pegou todos de surpresa. As duas receberam e-mails informando que, após a emissão dos vistos, surgiram informações que as tornariam “não elegíveis” para entrar no país. A filha do ministro tem apenas dez anos de idade.

O próprio Padilha não foi afetado diretamente pela medida porque seu visto de entrada nos Estados Unidos já estava vencido desde 2024. No entanto, o nome do ministro está entre os alvos da política do Departamento de Estado para punir autoridades consideradas “cúmplices” de um suposto “esquema de exportação de mão de obra” do governo cubano. O endurecimento contra o Brasil tem como uma das bases a Lei Magnitsky, instrumento de política externa norte-americana que permite sanções contra pessoas acusadas de violações de direitos humanos ou de corrupção.

De acordo com a chancelaria dos EUA, as sanções atingem familiares próximos para ampliar a pressão sobre figuras públicas que, na visão de Washington, atuaram para manter acordos internacionais com Havana no setor da saúde. Além da família de Padilha, também foram atingidos o atual secretário de Atenção Especializada à Saúde, Mozart Julio Tabosa Sales, e Alberto Kleiman, ex-assessor do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

A medida reacende a polêmica sobre o Mais Médicos, programa criado em 2013 no governo Dilma Rousseff para suprir a falta de profissionais em regiões remotas e periferias urbanas. Na época, centenas de médicos cubanos foram contratados por meio de acordo intermediado pela Opas. Os Estados Unidos, historicamente críticos à política externa de Cuba, classificaram o arranjo como uma forma de “trabalho forçado”, alegando que parte do salário dos profissionais ficava retida pelo governo cubano. O Brasil e a própria Opas sempre defenderam que os contratos estavam dentro da legalidade e que a presença dos médicos salvou milhares de vidas.

Alexandre Padilha, que reassumiu o Ministério da Saúde em 2023 no terceiro governo Lula, já havia ocupado o cargo entre 2011 e 2014. Ele foi um dos articuladores da implantação do Mais Médicos e mantém relação próxima com autoridades cubanas no campo da saúde pública. Desde seu retorno ao comando da pasta, Padilha apoiou a recontratação de profissionais estrangeiros e ampliou a cooperação bilateral com Havana, defendendo que o Brasil não pode abrir mão de mão de obra qualificada em áreas carentes. Em várias declarações, ele afirmou que a perseguição internacional contra médicos cubanos é motivada por razões ideológicas e prejudica a população mais pobre.

O cancelamento dos vistos ocorre num momento de tensão diplomática entre Brasil e Estados Unidos, já desgastada por medidas semelhantes contra outras autoridades, como o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, que teve seu visto revogado no mês passado. Analistas veem nessas ações um movimento coordenado do governo norte-americano para influenciar a política externa brasileira e desestimular alianças com regimes considerados adversários de Washington.

Até o momento, nem o Palácio do Planalto nem o Ministério das Relações Exteriores emitiram nota oficial sobre o caso. A expectativa é que o tema seja tratado com cautela, para evitar um escalonamento do conflito. Nos bastidores, assessores do governo apontam que a decisão dos EUA atinge diretamente questões de soberania e pode ter impacto sobre outros programas de cooperação internacional na área da saúde.

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