EUA e bolsonaristas seguem atacando o Brasil. Governo reage e convoca diplomacia

Após novos ataques às instituições brasileiras da embaixada dos EUA, governo convoca diplomatas por insatisfação. Entenda
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Postagens do Departamento de Estado dos EUA e da própria representação diplomática no Brasil representam uma interferência inaceitável. Foto: X

O governo brasileiro reagiu à onda de ameaças e ataques vindos dos Estados Unidos. Em resposta a declarações recentes da embaixada americana em Brasília, que sugeriram mais sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o Ministério das Relações Exteriores convocou o encarregado de negócios dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, para prestar esclarecimentos. A convocação, ato diplomático de alto grau, sinaliza insatisfação do Brasil com a ingerência norte-americana. Entenda na TVT News.

Segundo o Itamaraty, as postagens do Departamento de Estado dos EUA e da própria representação diplomática no Brasil representam uma interferência inaceitável nos assuntos internos de um país soberano e pacífico. Em especial, o governo reagiu à acusação feita contra o ministro Alexandre de Moraes, apontado como “principal arquiteto da censura e perseguição contra Bolsonaro”. A mensagem, publicada em redes sociais, ainda ameaçava eventuais punições aos “aliados de Moraes no Judiciário e em outras esferas”.

A manifestação pública norte-americana, articulada por membros golpistas da família Bolsonaro em conluio com Donald Trump, gerou indignação no governo brasileiro, que vê nessa atitude não apenas uma tentativa de coagir o Judiciário, mas também um grave ataque à institucionalidade e à democracia brasileira.

A diplomacia brasileira considera que o movimento se encaixa em uma ofensiva coordenada pela extrema direita internacional para blindar Jair Bolsonaro, atualmente investigado por tentativa de golpe e outros crimes. A família Bolsonaro, inclusive, é articuladora direta dos ataques à soberania nacional ao lado de Trump.

Tarifaço dos EUA de Trump e Bolsonaro

O episódio ocorre no mesmo momento em que entrou em vigor um tarifaço unilateral de 50% sobre boa parte das exportações brasileiras aos Estados Unidos. A medida, também atribuída ao governo Trump, afeta diretamente produtos como carne e café, pilares do agronegócio nacional. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), 35,9% das exportações brasileiras para os EUA agora enfrentam a nova tarifa abusiva, enquanto outros 44,6% mantêm a tarifa anterior de 10%.

A medida é considerada pelo governo Lula uma retaliação injustificável e um ataque direto à economia brasileira. Em entrevista, o vice-presidente Geraldo Alckmin ressaltou que, ao contrário das acusações de protecionismo por parte dos EUA, o Brasil mantém tarifas muito mais baixas.

Alckmin se reuniu com Gabriel Escobar fora da agenda oficial, no dia seguinte à entrada em vigor do tarifaço. O encontro ocorreu em Brasília, mas não teve seu conteúdo detalhado pelo Mdic ou pela embaixada americana. O que se sabe é que Escobar também teve reuniões com parlamentares brasileiros, como o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad (PSD-MS), e circulou pelo Congresso Nacional como principal representante dos EUA, já que o país está sem embaixador em Brasília desde janeiro de 2025.

Pressões e tentativas de intimidação ao STF

O pano de fundo dessas movimentações é a clara tentativa de pressionar o sistema de Justiça brasileiro. A diplomacia brasileira classificou como ameaças inaceitáveis as declarações do subsecretário de Estado norte-americano para Diplomacia Pública, Darren Beattie, sugerindo sanções a membros do STF. As críticas e insinuações, feitas sem qualquer base legal ou diplomática, são vistas como um ataque direto à soberania do país.

Desde o início do novo mandato de Donald Trump, os sinais de hostilidade contra o Brasil se intensificaram. A ausência de um embaixador americano no país, somada à reincidência de declarações agressivas da missão diplomática, reforça o que o Itamaraty considera ser uma campanha orquestrada de desestabilização. Em episódios anteriores, a própria embaixada já havia se posicionado em defesa de Jair Bolsonaro, sugerindo que ele sofria “perseguição política”, numa repetição do discurso da extrema direita internacional.

A convocação de Gabriel Escobar nesta sexta-feira (8) foi conduzida pelo embaixador Flavio Goldman, que atualmente responde pela secretaria de Europa e América do Norte no Itamaraty. Goldman reiterou a insatisfação com o tom das mensagens e alertou para o risco de comprometimento das relações bilaterais, caso os ataques à institucionalidade brasileira continuem.

Defesa da soberania

A postura do Itamaraty representa uma defesa necessária diante de ameaças externas. Ao sinalizar que não tolerará interferência estrangeira, o Brasil busca preservar sua autonomia institucional, seu sistema democrático e o direito de conduzir suas próprias investigações e julgamentos, especialmente no âmbito do STF.

A ofensiva norte-americana se dá, portanto, em dois níveis: econômico e institucional. De um lado, o tarifaço afeta diretamente a economia nacional, com impacto no emprego e na renda de setores estratégicos. De outro, há uma tentativa clara de minar a credibilidade das instituições brasileiras, especialmente aquelas responsáveis pela responsabilização de Jair Bolsonaro e seus aliados por crimes contra a democracia.

Enquanto o governo Trump atua para blindar Bolsonaro, o governo Lula reafirma que não aceitará pressões nem interferências, e que a defesa da soberania nacional é prioridade.

Plano de resposta em andamento

Diante do tarifaço, o governo prepara um plano de contingência para apoiar os setores afetados. Uma medida provisória está sendo elaborada, mas ainda não há data para sua apresentação. Ao mesmo tempo, segue a articulação internacional do Brasil para buscar apoio junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) e outras instâncias multilaterais.

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