EUA garantem que a guerra em Gaza acabou, afirma Hamas

Israel declarou que “todas as partes” assinaram 1ª fase do plano de paz; bombardeios em Gaza continuaram após anúncio
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Estudantes e apoiadores do partido político Jamaat-e-Islami se reúnem para expressar sua solidariedade aos palestinos durante um protesto anti-Israel em Islamabad, em 9 de outubro de 2025. Israel e Hamas concordaram, em 9 de outubro, com um acordo de cessar-fogo em Gaza para libertar os reféns restantes, em um passo importante para encerrar uma guerra que matou dezenas de milhares de pessoas e desencadeou uma catástrofe humanitária. (Foto de Aamir QURESHI / AFP)

O principal negociador do Hamas afirmou nesta quinta-feira (9), em entrevista à televisão, que o movimento islamista palestino obteve garantias dos Estados Unidos e de outros mediadores de que a guerra com Israel na Faixa de Gaza chegou ao fim.  Leia em TVT News.

“Recebemos garantias dos mediadores irmãos e da administração dos Estados Unidos confirmando que a guerra chegou ao fim”, declarou Khalil al Hayya ao canal Al Jazeera. 

Israel confirma que “todas as partes” assinaram 1ª fase do plano

Israel declarou hoje que as as partes assinaram a versão final da primeira fase do acordo com o Hamas para um cessar-fogo em Gaza e a libertação dos reféns israelenses, com o objetivo de pôr fim a dois anos de guerra. 

Esse acordo entre Israel e o Hamas foi elaborado a partir de um plano de 20 pontos proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e prevê a libertação dos reféns israelenses que continuam vivos em troca da libertação de cerca de 2 mil palestinos. 

A porta-voz do governo israelense, Shosh Bedrosian, informou que todas as partes assinaram, no Egito, a versão final desse acordo para a primeira fase do plano, após negociações indiretas na cidade turística de Sharm el-Sheikh, com a mediação dos Estados Unidos, Catar e Turquia. 

A proposta devia receber a aprovação do gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, às 15h00 GMT (12h00 de Brasília), após uma reunião uma hora antes com seu gabinete de segurança. 

Em Khan Yunis, no sul da devastada Faixa de Gaza, palestinos aplaudiram e gritaram de alegria quando o acordo foi anunciado, segundo imagens da AFP. 

“Apesar de todos os mortos e da perda de entes queridos, hoje estamos felizes após o cessar-fogo. Apesar da tristeza e de tudo, estamos felizes”, afirmou Aiman al Najar. 

Na Praça dos Reféns, em Tel Aviv, as pessoas também se abraçavam e se felicitavam com a esperança do retorno dos cerca de 20 sequestrados que ainda estão vivos. 

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu celebrou “um grande dia para Israel” e declarou que Trump deveria receber o Prêmio Nobel da Paz. 

Ainda persiste a incerteza sobre outros pontos levantados por Trump, como o desarmamento do Hamas e o fato de Gaza ser governada por uma autoridade de transição liderada por ele próprio. 

O dirigente republicano detalhou que haverá um “desarmamento” na próxima fase do acordo e que a prioridade, por enquanto, é o retorno dos reféns. 

O Hamas, por sua vez, rejeitou a ideia de uma autoridade de transição chefiada pelo próprio Trump. “Nenhum palestino poderá aceitar isso. Todas as facções, inclusive a Autoridade Palestina [que governa parcialmente a Cisjordânia ocupada], rejeitam”, afirmou Osama Hamdan, dirigente do grupo islamista. 

Israel espera visita de Trump no domingo

Trump anunciou que tentará viajar ao Egito para a assinatura do acordo de cessar-fogo, após ser convidado por seu homólogo Abdel Fatah al-Sisi. 

Israel informou que o cessar-fogo começará nas 24 horas seguintes à aprovação do gabinete de segurança do governo israelense, uma frágil coalizão liderada pelo Likud, de Netanyahu, mas que depende de outras formações de extrema direita. 

O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, aliado-chave do partido Sionismo Religioso, já adiantou que não apoiará o acordo. 

O pacto busca encerrar dois anos de guerra em Gaza, um conflito que começou com o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 em território israelense, que deixou 1.219 mortos, em sua maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais. 

Em resposta, Israel lançou uma ofensiva que já deixou pelo menos 67.183 mortos em Gaza, de acordo com os números do Ministério da Saúde do governo do Hamas, considerados confiáveis pela ONU. 

A porta-voz do governo israelense declarou que o proeminente prisioneiro palestino Marwan Barghuti, membro do Fatah, a facção palestina rival do Hamas, não fará parte da troca. 

Bombardeios continuam em Gaza

Após o anúncio, a Defesa Civil de Gaza informou sobre novos bombardeios israelenses. 

Para que a troca seja concretizada, o Exército israelense anunciou que prepara a retirada de suas tropas do território palestino, do qual controla aproximadamente 75%. 

Trump anunciou em sua rede social Truth Social que “TODOS os reféns serão libertados em breve e Israel retirará suas tropas para uma linha acordada, como primeiros passos rumo a uma paz forte, duradoura e eterna”. 

Das 251 pessoas sequestradas pelo movimento islamista em seu ataque de 2023, 47 ainda estão em Gaza, 25 das quais já morreram, segundo o Exército israelense. 

Com o cessar-fogo, está previsto que pelo menos 400 caminhões de ajuda entrem diariamente na Faixa durante os primeiros cinco dias, informou uma fonte do Hamas. 

O Crescente Vermelho egípcio afirmou que 153 caminhões já estavam a caminho. 

Quase uma em cada seis crianças sofre de desnutrição aguda em Gaza devido à guerra, concluiu um estudo publicado na revista The Lancet e financiado pela Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA). 

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Hafiz Naeem Ur Rehman, líder do partido Jamaat-e-Islami, discursa para seus apoiadores durante um protesto anti-Israel em Islamabad, em 9 de outubro de 2025. Israel e Hamas concordaram, em 9 de outubro, com um acordo de cessar-fogo em Gaza para libertar os reféns restantes, em um passo importante para o fim de uma guerra que matou dezenas de milhares de pessoas e desencadeou uma catástrofe humanitária. (Foto de Aamir QURESHI / AFP)

O que se sabe sobre o acordo para cessar-fogo em Gaza 

Uma fonte do Hamas afirmou que o acordo prevê a libertação de 20 reféns israelenses que estão vivos em troca da soltura de 2.000 palestinos presos em prisões israelenses: 250 condenados à prisão perpétua e outros 1.700 detidos por Israel desde 7 de outubro de 2023. 

A troca deverá ocorrer nas primeiras 72 horas de implementação do cessar-fogo, aprovado por outras facções palestinas, disse à AFP outra fonte do Hamas próxima às negociações. Trump apontou a segunda-feira como data para a libertação dos reféns. 

O acordo também prevê a “retirada programada das tropas israelenses”, junto com a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, que segundo a ONU enfrenta uma situação de fome extrema, indicou um dirigente do Hamas. 

Mais de 150 caminhões com ajuda já partiram do Egito rumo a Gaza, informou o Crescente Vermelho egípcio. 

Uma fonte do movimento islamista calcula que pelo menos 400 caminhões com ajuda humanitária entrarão diariamente na Faixa de Gaza nos primeiros cinco dias do cessar-fogo. 

Também prevê o “retorno das pessoas deslocadas” do sul da Faixa de Gaza para a Cidade de Gaza e outras localidades do norte do território palestino, acrescentou este dirigente. 

O Hamas pediu a Trump que pressione Israel para aplicar plenamente o acordo no que lhe diz respeito. 

Lista de presos palestinos 

Um tema-chave nas negociações é a lista de presos palestinos que o Hamas deseja incluir na troca. 

A porta-voz do governo israelense assinalou que Marwan Barghuti, um membro proeminente do Fatah, a facção palestina rival do Hamas, não fará parte deste intercâmbio. 

“O que posso lhes dizer neste momento é que fão fará parte desta libertação”, disse. 

Barghuti está preso em Israel há mais de vinte anos e cumpre prisão perpétua por seu papel em atentados anti-israelenses. No entanto, ele goza de grande popularidade nas pesquisas sobre lideranças palestinas. 

Questões pendentes

O recente plano de 20 pontos estabelecido por Trump, que serviu de base para as negociações, estipula o desarmamento do Hamas e que Gaza seja governada após a guerra por uma autoridade de transição liderada por ele mesmo. 

Essas questões ainda não foram abordadas. 

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, expressou, nesta quinta-feira, sua esperança de que o acordo possa levar ao estabelecimento de um Estado palestino independente. 

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e os membros de sua coalizão de governo são contra a solução de dois Estados. 

Próximas etapas

O acordo será formalmente assinado nesta quinta-feira no Egito, informou à AFP uma fonte próxima que falou sob condição de anonimato. 

O gabinete de Netanyahu afirmou, nesta quinta-feira, que o acordo para garantir a libertação dos reféns em Gaza só entrará em vigor após receber a aprovação de seu conselho de ministros. 

“Ao contrário do que informam os meios de comunicação árabes, a contagem regressiva de 72 horas só começará uma vez que o acordo seja aprovado na reunião do gabinete, prevista para a tarde”, afirmou o gabinete de Netanyahu em um comunicado. 

O governo de Netanyahu é uma frágil coalizão liderada por seu partido Likud, que depende de outras formações de extrema direita. O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, um importante aliado do partido Sionismo Religioso, já adiantou que não apoiará o acordo. 

Uma fonte do Hamas disse que as negociações para a segunda fase do cessar-fogo devem começar “imediatamente”. 

Itamaraty comenta plano de paz 

O governo brasileiro saúda o anúncio de acordo entre Israel e o Hamas para novo cessar-fogo na Faixa de Gaza, no Estado da Palestina, por meio da implementação da primeira fase de plano para pôr fim ao conflito, transcorridos dois anos de seu início. Reconhece, nesse contexto, o importante papel desempenhado pelos Estados Unidos e valoriza a atuação dos demais países mediadores: Catar, Egito e Turquia. 

O acordo, caso venha a ser efetivamente implementado, deverá interromper os ataques israelenses contra Gaza, os quais provocaram mais de 67 mil mortes – com grande número de mulheres e crianças entre as vítimas -, o deslocamento forçado de quase dois milhões de moradores e devastação sem precedentes, com a destruição de grande parte da infraestrutura civil do território. Deverá, ademais, garantir a libertação de todos os reféns remanescentes, em troca de prisioneiros palestinos, a entrada desimpedida de ajuda humanitária, e a retirada das tropas israelenses até linha acordada entre as partes, além de criar as condições para a imediata reconstrução de Gaza, com apoio da comunidade internacional.

O governo brasileiro ressalta a dimensão humanitária do acordo e enfatiza que o cessar-fogo deverá resultar em alívio efetivo para a população civil. Reitera a necessidade de assegurar acesso pleno, imediato, seguro e desimpedido da assistência humanitária e das equipes das Nações Unidas que atuam no terreno.

O Brasil exorta as partes a cumprirem todos os termos do acordo e a engajarem-se de boa-fé em negociações para assegurar a efetivação da retirada completa das forças israelenses de Gaza, o início do urgente processo de reconstrução da Faixa, sob coordenação e supervisão palestina, e a restauração da unidade político-geográfica da Palestina sob seu legítimo governo, em consonância com o direito inalienável de autodeterminação do povo palestino.

O Brasil reafirma a convicção de que uma paz justa, estável e duradoura no Oriente Médio passa pela implementação da solução de dois Estados, com um Estado da Palestina independente e viável, vivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança, dentro das fronteiras de 1967, incluindo a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, tendo Jerusalém Oriental como sua capital.

Com Agence France-Presse e Ministério das Relações Exteriores

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