A pequena ilha de Parintins, no coração da Amazônia, vai se transformar em um dos maiores espetáculos culturais a céu aberto a partir desta sexta-feira (27): a 58ª edição do Festival de Parintins vai começar. Saiba mais detalhes na TVT News.
Reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil, o Festival de Parintins apresenta a lendária rivalidade entre os bois-bumbás Caprichoso e Garantido, em uma disputa que vai muito além das cores. A festa vai até domingo (29).
A tradição do Boi-Bumbá chegou ao Amazonas com trabalhadores maranhenses durante o Ciclo da Borracha. O festival surgiu em 1965 para arrecadar fundos para a construção de uma catedral na cidade e, desde então, tornou-se um fenômeno.
O festival surge de uma lenda. A história mais conhecida sobre a origem do Boi-Bumbá envolve um casal de escravos. A mulher, Mãe Catirina, está grávida e deseja comer a língua do boi mais valioso de seu patrão fazendeiro. Seu marido, Pai Francisco, mata o boi para satisfazer o desejo, o que culmina em diversos eventos, até o momento central da representação: a morte do boi e sua ressurreição.
Caprichoso x Garantido no Bumbódromo
A ordem do desfile foi definida por sorteio. O Boi Garantido abre o festival nesta sexta e o Boi Caprichoso fica responsável pelo encerramento. No sábado, a ordem se inverte, e o Caprichoso abre a noite, e o Garantido encerra o festejo no domingo. A apuração dos votos, que coroa o boi campeão, será na segunda-feira (30).
Os temas das apresentações refletem as identidades das duas agremiações. O Boi Caprichoso, que usa a cor azul e branco, atual tricampeão, buscará o tetracampeonato com o tema “É Tempo de Retomada”, um manifesto cultural que aborda a resistência dos povos da floresta, a ancestralidade amazônica e a luta de indígenas e negros. O álbum do Caprichoso para 2025 conta com 23 toadas.
Já o Boi Garantido, que se apresenta com as cores vermelho e branco, não vence desde 2019 e busca seu 33º título com o tema “Boi do Povo, Boi do Povão”. O enredo exalta a origem popular da festividade e a forte ligação do boi com a torcida, trazendo os subtemas “Terra Brasileira” e “Boi do Brasil”. O álbum do Garantido tem 19 toadas.
Como funciona o Festival de Parintins
Cada boi terá de duas horas a duas horas e meia para desfilar sua “ópera a céu aberto”. O espetáculo tem alegorias gigantes que se movimentam, centenas de dançarinos, figurinos singulares e toadas vibrantes que embalam a plateia. A morte e ressurreição do boi, rituais indígenas e lendas amazônicas são encenados com uma grande emoção que hipnotiza os jurados e a “galera”, como é chamado o público que acompanha o festival.
Os jurados avaliarão 21 itens agrupados em três blocos, que vão desde a evolução do boi às performances dos personagens individuais. Sendo eles:
- Apresentador: Anfitrião, Mestre de Cerimônia, Porta-voz do espetáculo que leva ao conhecimento do espectador a apresentação dos itens disputantes;
- Levantador de toadas: Intérprete (cantor) musical da trilha sonora do espetáculo;
- Batucada ou marujada: Conjunto de brincantes que fazem o acompanhamento percussivo das toadas, sendo base para o espetáculo;
- Ritual indígena: Representação artística de uma celebração ou rito indígena, fundamentado em consonância ao espetáculo do Boi-Bumbá;
- Porta-estandarte: Brincante que conduz o estandarte símbolo do Boi-Bumbá;
- Amo do boi: Brincante que representa o dono da fazenda que entoa versos dentro dos fundamentos do espetáculo;
- Sinhazinha da fazenda: Brincante que representa a filha do dono da fazenda no Auto tradicional do Boi-Bumbá de Parintins;
- Rainha do folclore: Brincante que representa a diversidade das manifestações da cultura popular brasileira;
- Cunhã-poranga: Mulher bonita em Nheengatu, brincante que representa os povos indígenas;
- Boi-Bumbá (evolução): Boi escultórico articulado que é o símbolo maior da manifestação popular de Parintins, manipulado por brincantes denominados “tripa do boi”;
- Toada (letra e música): Gênero musical popular do Boi de Parintins, suporte lítero-musical do festival;
- Pajé: Personagem arquétipo do curandeiro, xamã, sacerdote indígena considerando a referência sagrada, mística e mitológica dos povos indígenas;
- Povos indígenas: Brincantes que representam os grupos étnicos que compõe os povos indígenas da Amazônia e/ou do território brasileiro, dentro do contexto do espetáculo do Boi- Bumbá;
- Tuxauas: Brincantes que representam os chefes dos povos indígenas por meio de indumentárias que simbolizam o cocar alegórico;
- Figura típica regional: Estrutura artística alegórica e cênica que representa a identidade regional do amazônida em sua diversidade;
- Alegorias: Estruturas artísticas que funcionam como suporte cenográfico para as apresentações;
- Lenda amazônica: Estrutura artística alegórica e cênica. Narrativa que ilustra a cultura dos povos da Amazônia dentro do contexto do espetáculo do Boi-Bumbá de Parintins;
- Vaqueirada: Brincantes que representam a figura dos vaqueiros no contexto histórico, os guardiões do Boi-Bumbá;
- Galeria: Conjunto de torcedores dispostos nas arquibancadas laterais gratuitas. Massa humana que formam coreografias uníssonas e organizadas no contexto do espetáculo;
- Coreografia: Movimentos coreografados dos grupos de dança apresentados durante o espetáculo;
- Organização do conjunto folclórico: Fluidez e organização da apresentação dentro do contexto do espetáculo.
Programação paralela
Em 2025, o festival não se limita ao Bumbódromo. A Estação da Cultura, na Praça da Catedral, oferece exposições, feiras de artesanato, shows e workshops até 29 de junho. A Parintins Fun Fest 2025, na Praça Digital Cristo Redentor, garante shows de música regional e DJs, com transmissão do festival em telão durante a noite.
Uma das novidades é a iniciativa socioambiental “Amazônia de Pé”. Em uma ação inédita, Garantido e Caprichoso uniram forças para coletar assinaturas para um Projeto de Lei de Iniciativa Popular (Plip). O Plip propõe que áreas públicas na Amazônia Legal sejam destinadas à conservação ambiental, impedindo a ocupação irregular. A meta é coletar mais de 1,5 milhão de assinaturas até 14 de julho para proteger mais de 50 milhões de hectares de florestas.
A agremiação que coletar mais assinaturas será premiada com R$ 40 mil e o torcedor campeão ganhará acessos VIP para o Festival de 2026 e R$ 6 mil para despesas de viagem. A iniciativa destaca o papel do festival não apenas como uma celebração cultural, mas também como um instrumento de preservação da memória e do território amazônico.
Com informações do governo de Amazonas
