Prefeitura de São Paulo tenta cancelar Flipei e organizadores denunciam censura

Fundação Theatro Municipal, vinculada à Prefeitura, rescindiu o contrato cinco dias antes do evento que aconteceria na Praça das Artes
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O cancelamento do contrato foi notificado às vésperas da montagem da estrutura, que estava programada para esta semana. Arte: Flipei/Divulgação

A Festa Literária Pirata das Editoras Independentes (Flipei) teve seu contrato cancelado pela Prefeitura de São Paulo na noite de sexta-feira, 1º de agosto, somente cinco dias antes do início do evento. A Fundação Theatro Municipal, responsável pela Praça das Artes, onde a feira seria realizada, justificou a rescisão tardia alegando que a programação tinha “cunho político-ideológico” e “indisfarçável viés eleitoral”. Saiba mais na TVT News.

O cancelamento, comunicado às vésperas da montagem da estrutura, programada para os dias 4 e 5 de agosto, foi prontamente classificado pelos organizadores como um ato de censura e perseguição política. A Flipei, que celebrava sua maior edição com 220 editoras e mais de 180 participantes, tinha um orçamento já comprometido de quase R$ 700 mil, afetando diretamente centenas de profissionais da cultura e fornecedores.

  • Vídeo: Flipei vai para o galpão do MST

Violação de contrato e lobby sionista

A organização da Flipei denunciou em comunicado que a Fundação Theatro Municipal ignorou a cláusula contratual que exigia um aviso prévio de 15 dias para cancelamento, em uma ação deliberada para inviabilizar o evento. Os marujos da Flipei apontam ainda a hipocrisia da prefeitura, já que a mesma fundação “brigou, inclusive judicialmente” durante o período eleitoral, para premiar a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro no teatro.

“O atual lobby sionista acionado por diversas instituições contra a questão palestina também se estende aqui”, destacou a Flipei. Em sua nota, a Fundação Theatro Municipal alegou “desconforto” com temas específicos da programação, principalmente aqueles que discutiam a situação da Palestina. O evento contaria com a presença do historiador judeu Ilan Pappé e do militante Thiago Ávila, que estava em missão humanitária interceptada por Israel no começo de junho.

O vereador Nabil Bonduki (PT), apoiador ao evento, reforçou que o debate político é inerente a qualquer festival cultural em uma democracia, tornando a justificativa da prefeitura “inadmissível”. “Discussões políticas são absolutamente normais em eventos artísticos e culturais em países democráticos. […] Na prática, o que a gestão está tentando fazer é calar vozes. É censura”, declarou em publicação no Instagram.

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Parte do comunicado da Flipei. Arte: Divulgação

Flipei resiste e acontecerá

Apesar da suspensão no local original, a organização da Flipei garantiu que a programação de 2025 será mantida nos mesmos dias e horários em novos espaços de resistência de São Paulo. Entre os locais confirmados estão o Espaço Cultural Elza Soares (MST), o Armazém do Campo, o Instituto Luiz Gama e o bar Sol y Sombra.

Com a mudança, os organizadores buscam amenizar o impacto econômico sobre os mais de 500 profissionais e 180 editoras já envolvidas. Em paralelo, a Flipei está preparando medidas judiciais e políticas para responsabilizar a Fundação Theatro Municipal, a Secretaria de Cultura e a Prefeitura de São Paulo pelo cancelamento arbitrário do contrato e tentativa de censura.

A edição de 2025 da Flipei seria a maior já realizada e 100% gratuita para público e editoras, com o objetivo de promover a democratização do livro e as culturas indígena e afro-brasileira, com participação de nomes como Leci Brandão, Rincon Sapiência e Jones Manoel.

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